O documentário “Antônio Cândido, Anotações Finais” homenageia o intelectual, explorando sua vida, memórias e críticas políticas. Com uma abordagem poética, mistura passado e presente em uma narrativa reflexiva.

O documentário “Antônio Cândido, Anotações Finais“, dirigido por Eduardo Escorel, é uma homenagem à memória do intelectual Antônio Cândido. A obra constrói uma narrativa equilibrada entre a celebração de sua vida e uma melancolia sutil. A montagem de Escorel, em colaboração com Laís Lifschitz, e a atuação de Matheus Nachtergaele, que dá voz às anotações de Cândido, são fundamentais para essa construção. A leitura de Nachtergaele, ainda que monótona, acrescenta um brilho especial ao filme. Enquanto a montagem cria uma aura dramática que transforma o documentário em uma reflexão poética sobre a memória.

Crítica | Antonio Candido, Anotações Finais
Imagem: Still do Filme

Embora haja uma sensação de testamento, especialmente quando Cândido aborda temas como política e a situação do Brasil, o documentário não se limita a ser um retrato final de sua vida. Ele traz uma discussão atemporal, onde passado, presente e futuro se misturam, criando uma dança entre as memórias de Cândido e a realidade atual do país. Além disso, as imagens de fotografias e locais contemporâneos reforçam essa dualidade, guiando o espectador pela narrativa com delicadeza.

O tom do documentário flerta com a ideia de fim, mas sem deixar de lado uma sensação de continuidade. As cenas em que a câmera foca no escritório de Cândido e nas lembranças de sua esposa Gilda parecem convidar o espectador a adentrar esse universo de memórias. O Brasil que Antônio Cândido tanto discutiu e representou é parte integrante dessa narrativa, com suas questões políticas e sociais presentes em cada diálogo.

Crítica | Antonio Candido, Anotações Finais
Imagem: Still do Filme

A lentidão no desenvolvimento da obra, com sua progressão calma e calculada, reflete a maturidade dos textos de Cândido. O documentário lentamente transforma-se em uma crítica ao subdesenvolvimento do Brasil, bem como, destaca o amargor sobre o que o país poderia ter sido. A frase “A verdade é que fracassamos” ressoa como um alerta sobre o progresso ilusório da nação, uma reflexão que parece falar diretamente ao Brasil contemporâneo.

Por fim, no epílogo, o documentário aborda questões como miséria, pobreza e a dicotomia entre liberdade e igualdade. Esses temas reforçam a sensação de fracasso político que Cândido tanto debatia. Ao final, “Antônio Cândido, Anotações Finais” se estabelece como um retrato poderoso de um país que, aos olhos de Cândido, não alcançou seu verdadeiro potencial.