“Capitu traiu Bentinho?” Tal pergunta já se tornou um verdadeiro clássico por si só nas discussões sobre literatura brasileira. Seja entre alunos do ensino médio, estudantes universitários, especialistas literários ou até em conversas casuais em mesas de bar, o questionamento proveniente de “Dom Casmurro” atravessou gerações.
O questionamento faz mais do que alimentar debates intermináveis. Ele revela como o romance de Machado de Assis, resistiu à passagem do tempo e se solidificou como parte fundamental da cultura literária brasileira. Neste ano, comemoramos 125 anos da obra. Afinal, o que torna este um clássico incontornável?
Como Machado de Assis resistiu à passagem do tempo
É impossível falar de “Dom Casmurro” sem apontar sua relevância atualmente, mesmo mais de um século depois de sua primeira publicação. Machado de Assis construiu uma obra que resistiu à passagem do tempo. O romance de 1899, marca um ponto alto do realismo brasileiro ao explorar de forma profunda a mente humana.
A narrativa é feita em primeira pessoa pelo protagonista Bentinho, apelidado como o personagem titular Dom Casmurro. Ele conduz o leitor por suas memórias de maneira ambígua. Sobretudo, o leitor fica em uma posição ativa, em que precisa interpretar, desconfiar e até mesmo duvidar do próprio narrador.
Bentinho conta sua história desde a infância até a fase adulta, levando o leitor em suas vivências em seu amadurecimento. Em meio as suas memórias, o foco é em seu relacionamento com Capitu. O questionamento sobre a traição vem da desconfiança que o protagonista tem entre sua amada e seu melhor amigo, Escobar.
Passamos pelas vivências de Bentinho em meio a amores, ciúmes e traições. Além disso, Machado de Assis usa e abusa sofisticadamente da ironia, da intertextualidade e da dubiedade psicológica. Tais elementos formam uma obra aberta a diversas interpretações, o que ajuda a mantê-la sempre atual. Em vez de oferecer respostas fáceis, o autor propõe dúvidas eternas.

Um retrato da sociedade brasileira
Não é por acaso que a questão da ambiguidade de Capitu é tema de debates calorosos. Ela transcende a figura de uma possível traidora e representa muito bem a complexidade de um ser humano com sentimentos reais.
Nesse sentido, “Dom Casmurro” é muito mais do que um drama pessoal. Ao ambientar a história no Rio de Janeiro do século XIX, Machado de Assis traçou um retrato agudo da sociedade brasileira da época. Os costumes, as relações familiares e os valores sociais apresentados na obra refletem, até hoje, tensões que ainda atravessam o país.
Dessa forma, seu conteúdo toca em questões universais com extrema sensibilidade. Os personagens de Machado de Assis até hoje espelham dúvidas, contradições e conflitos que estão tão vivas quanto sua obra. Eles revelam como percepções pessoais, julgamentos precipitados e preconceitos culturais continuam a moldar, e muitas vezes até distorcer nossas relações e interpretações do mundo.
Logo, em tempos de debates sobre versões da verdade e narrativas fragmentadas, a história de Bentinho e Capitu segue ecoando, mostrando que as grandes obras são aquelas que, independentemente da época, continuam fazendo perguntas para as quais cada geração busca novas respostas.
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