Neste mês da mulher, muito se reflete sobre a luta feminina por melhor qualidade de vida em geral. Nesse sentido, a desigualdade de gênero no cinema é uma realidade no mundo todo. Portanto, este é um convite para o público conhecer importantes cineastas brasileiras, as quais fazem a diferença na história do cinema do nosso país.
Neste artigo você conhecerá Anna Muylaert, Adélia Sampaio, Laís Bodanzky, Juliana Vicente e Tizuka Yamasaki (ordem esquerda-direita na foto acima).
É muito comum ver mulheres atuando e reivindicando seus direitos no setor, como salários iguais. Mas ainda hoje, é raro vê-las atrás das câmeras ou em posições de chefia no set.
Para ilustrar essa disparidade de maneira clara, basta olhar para as principais premiações do cinema. Em 97 edições do Oscar, somente 3 mulheres levaram a estatueta de Melhor Direção: Kathryn Bigelow (2009), Chloé Zhao (2021) e Jane Campion (2022).
Por essa razão, é extremamente importante consumir produções dirigidas por mulheres. Afinal, com retorno financeiro e também do público, maior é o incentivo para elas continuarem fazendo filmes.
Ainda, com uma câmera na mão, elas têm a possibilidade de difundir uma visão íntima e única sobre o mundo. Dessa forma, o cinema pode ser uma ferramenta poderosa na luta pelos direitos civis das mulheres.
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Anna Muylaert
A cineasta brasileira Anna Muylaert nasceu em São Paulo e estudou cinema na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP. Após produzir alguns curtas, ela foi contratada pela TV Cultura em 1989, onde roteirizou séries como Castelo Rá-Tim-Bum e Mundo da Lua.
Sua estreia como diretora aconteceu em 2002, com o longa Durval Discos. Na ocasião, o filme ganhou 12 prêmios, incluindo melhor roteiro e direção no Festival de Cinema de Gramado, uma das premiações mais importantes do Brasil.
Além disso, ela assina o roteiro de diversas produções, como Filhos do Carnaval (2005), O Ano em que meus pais saíram de férias (2005) e Quanto dura o amor? (2009).
Em reconhecimento ao seu trabalho, Muylaert recebeu da presidência a Ordem do Mérito Cultural em 2012. Essa é uma honraria concedida a personalidades que promovem contribuições culturais à sociedade.
Seu filme de maior sucesso é o aclamado Que Horas Ela Volta?, de 2015. Nele, Regina Casé interpreta Val, uma empregada doméstica que abre mão de estar com sua família para cuidar da casa da patroa. No entanto, tudo muda quando sua filha Jéssica (Camila Márdila) vai até São Paulo para encontrar a mãe e prestar vestibular.
A produção escancara contradições sociais muito familiares ao público brasileiro. Ela ainda acumulou diversos prêmios, como no Festival de Berlim, em Sundance, no Festival de Cinema SESC e também o prêmio ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).
Seu filme mais recente é O Clube das Mulheres de Negócios (2023), que está disponível no streaming do Telecine.
Adélia Sampaio
A mineira Adélia Sampaio foi a primeira mulher negra a dirigir um filme no Brasil. Primeiro, com o curta Denúncia Vazia (1979) e depois com o longa-metragem Amor Maldito (1984). Na época, seu filme foi considerado polêmico. Isso porque retratava a trágica história, baseada em fatos, do relacionamento entre duas mulheres.
Ela teve seu primeiro contato com o mundo dos filmes aos 13 anos, quando sua irmã a levou para assistir “Ivan, o Terrível”. Desde então, ela sabia com que queria trabalhar com cinema.
Em 1968, com 24 anos, começou a trabalhar como telefonista na produtora Difilm, idealizada por grandes nomes do Cinema Novo, como Glauber Rocha, Cacá Diegues e Zelito Viana. A partir daí, subiu gradativamente de cargo: foi maquiadora, câmera, montadora e produtora antes de chegar a tão almejada posição de diretora.
Além disso, ela também dirigiu dois documentários: Fugindo do Passado (1987) e AI-5 – O Dia que não existiu (2001). Como produtora, assinou os filmes Parceiros da Aventura (1980), Ele, Ela, Quem? (1980) e O Segredo da Rosa (1974). Algumas de suas produções estão disponíveis em seu canal do Youtube.
Laís Bodanzky
Filha do também cineasta Jorge Bodanzky, Laís estreou aos 25 anos, com a direção do curta Cartão Vermelho (1994). No ano seguinte, ele foi selecionado para participar do New York Film Festival.
Em 2001, dirigiu O Bicho de Sete Cabeças, estrelando Rodrigo Santoro. Baseado no livro “Canto dos Malditos”, o filme narra a história de Neto, um jovem internado em um hospital psiquiátrico contra a sua vontade. A produção foi sucesso em diversos festivais internacionais e ganhou 7 prêmios no 1º Grande Prêmio de Cinema Brasil, incluindo Melhor filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro.
Ela também dirigiu os longas Chega de Saudades (2007), As Melhores Coisas do Mundo (2010), Mundo Invisível (2012) e Como Nossos Pais (2017).
De 2005 a 2014, esteve a frente do Cine Tela Brasil, projeto de cinema itinerante que percorreu todo o país. Ao lado de Luiz Bolognesi, seu marido e também sócio, percorreram 116.509 quilômetros entre 18 estados e o Distrito Federal. Assim, eles levaram a magia da sétima arte para mais de um milhão de brasileiros, muitos dos quais nunca haviam frequentado uma sala de cinema.
O fim dessa iniciativa deu lugar à criação do Instituto Buriti, que visa “fomentar o audiovisual como ferramenta de ensino e aprendizagem em escolas públicas”.
Juliana Vicente
A diretora e roteirista paulistana fundou a produtora Preta Portê em 2009. Dessa maneira, criou um espaço focado exclusivamente em produções pretas, indígenas e LGBTQIAP+. Depois, idealizou a Escola Preta, em 2014, com cursos profissionalizantes para pessoas afro-indígenas.
Sua estreia mundial veio com o curta-metragem Cores e Botas (2010), atualmente disponível no Youtube. Nele, o espectador acompanha a pequena Joana, uma menina negra que sonha em ser “paquita” nos anos 80.
Em 2015, participou do Berlinale Talents e do Festival de Cannes, no qual foi premiada pela coprodução A Terra e a Sombra. Ela também lançou a série Afronta! (2017) e o documentário Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo (2022) na Netflix. Este último ficou em 1º lugar de filmes mais vistos do Brasil da plataforma à época do lançamento. Em 2023, dirigiu a novela Terra e Paixão, da Globo.
Seu trabalho mais recente é o premiado documentário Diálogos com Ruth de Souza (2024), também disponível na Netflix.
Tizuka Yamasaki
Filha e neta de japoneses, a cineasta brasileira nasceu em Porto Alegre, mas cresceu em Atibaia, no interior de São Paulo. Mais tarde, se mudou para Brasília para cursar arquitetura, mas sua paixão pelo audiovisual a levou ao curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Lá, foi aluna de Nelson Pereira dos Santos, com quem trabalhou como assistente. Ela atuou como fotógrafa no filme O Amuleto de Ogum (1974), dirigido pelo cineasta. Pouco tempo depois, Tizuka fundou sua própria produtora, chamada CPC (1978).
Gaijin: Os Caminhos da Liberdade foi seu primeiro longa-metragem como diretora. Lançado em 1980, o filme retrata as dificuldades enfrentadas por imigrantes japoneses no Brasil no início do século XX. Com esse trabalho, ela ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Gramado e recebeu uma menção especial do júri do Festival de Cannes.
Já em 1989, estreou na televisão como diretora da novela Kananga do Japão, sucesso de público e de crítica. Na década seguinte, começou a produzir filmes infantis, como Lua de Cristal (1990), Fica Comigo (1996), Xuxa Requebra (1999) e O Noviço Rebelde (1997), com Renato Aragão.
Além disso, no ano 2000, assim como Anna Muylaert, recebeu a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura. Três anos depois, lançou Gaijin: Ama-me como Sou, continuação de seu filme de 1980.
Em 2013, lançou um documentário sobre a artista nipo-brasileira Tomie Ohtake, em comemoração ao seu centenário de vida. Por fim, o trabalho mais recente da diretora é Encantados, de 2014. O filme esteve na abertura do Festival de Cinema Brasileiro de Miami e foi indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.
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Atualizado em 16/03/2025 às 17:03.
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