Clássico de Arthur Miller, A Morte do Caixeiro-Viajante ganha releitura para o cinema com Jeffrey Wright e Octavia Spencer no elenco

De acordo com o Deadline, Jeffrey Wright e Octavia Spencer serão protagonistas da nova adaptação cinematográfica de A Morte do Caixeiro-Viajante, de Arthur Miller.

Sob a direção de Chinonye Chukwu e roteiro de Tony Kushner, o projeto promete revisitar uma das peças mais emblemáticas do teatro norte-americano.

Wright viverá Willy Loman, o caixeiro-viajante que tenta conciliar carreira e família em meio a desilusões. Spencer interpretará Linda, a esposa que acompanha de perto sua queda emocional. A estreia está prevista para 27 de novembro.

A relevância atemporal de A Morte do Caixeiro-Viajante

Escrita em 1949, a peça de Miller conquistou imediatamente a crítica, recebendo o Prêmio Pulitzer de Drama e seis Tonys, incluindo Melhor Peça.

A obra acompanha a trajetória de Willy Loman, um vendedor exausto que, após um acidente e uma viagem de negócios fracassada, passa a enfrentar de forma mais intensa a crise de identidade e os limites do chamado Sonho Americano.

O texto permanece atual ao retratar o impacto das pressões sociais e econômicas sobre o indivíduo comum e sua família. Desde então, a peça se consolidou como um marco da dramaturgia do século XX, com sucessivas montagens de destaque na Broadway e em outros palcos pelo mundo.

A Morte do Caixeiro-Viajante de 1951
A primeira adaptação de “A Morte do Caixeiro-Viajante” foi em 1951 | Crédito: Reprodução/IMDB

Adaptações marcantes da história

Embora a obra tenha sido pensada para o teatro, suas adaptações para o audiovisual também marcaram época. Em 1951, László Benedek dirigiu a primeira versão cinematográfica, estrelada por Fredric March e Mildred Dunnock.

O longa recebeu cinco indicações ao Oscar e conquistou o Globo de Ouro de Melhor Direção para Benedek, além de prêmios para o elenco. A trama seguiu fielmente a peça, retratando a frustração de Loman diante da percepção de que sua vida não resultara no sucesso almejado.

Décadas depois, em 1985, a televisão norte-americana revisitou o texto em uma produção dirigida por Volker Schlöndorff. Desta vez, Dustin Hoffman assumiu o papel de Willy Loman, ao lado de Kate Reid como Linda.

A adaptação exibida pela CBS ganhou diversas indicações ao Emmy, vencendo em categorias como Melhor Ator (Hoffman) e Melhor Ator Coadjuvante (John Malkovich, no papel de Biff).

O projeto também recebeu quatro indicações ao Globo de Ouro, incluindo a de Melhor Minissérie ou Filme para TV. Assim como no teatro, a versão televisiva destacou o peso emocional da obra e reforçou sua permanência no debate cultural.

Segunda versão do filme em 1985
O segundo remake do filme foi lançado em 1985 | Crédito: Reprodução/Mubi

Jeffrey Wright e Octavia Spencer renovam A Morte do Caixeiro-Viajante

Agora, a escolha de Jeffrey Wright e Octavia Spencer dá novo fôlego à narrativa, trazendo experiência e reconhecimento ao projeto.

Wright, indicado ao Oscar em 2024 por Ficção Americana e conhecido por trabalhos em produções de Spike Lee e Wes Anderson, tem uma carreira consolidada tanto na televisão quanto no cinema. Ele também acumulou diversas indicações em premiações ao longo de sua trajetória.

Por sua vez, Spencer traz o peso de seu Oscar por Histórias Cruzadas (2011) e outras indicações por Estrelas Além do Tempo (2017) e A Forma da Água (2018), agregando ainda mais prestígio ao elenco.

Além disso, ao aceitar interpretar Linda Loman, a atriz amplia sua versatilidade, conciliando papéis dramáticos com trabalhos recentes em comédia e animação.

O filme é também resultado de uma parceria recorrente entre a Focus Features e a Amblin, que, recentemente, trabalharam juntas em Hamnet, de Chloé Zhao.

Entre os produtores, destacam-se Cindy Tolan, Kristie Macosko Krieger, Tony Kushner e a própria Octavia Spencer, por meio de sua empresa Orit Entertainment.

Chukwu, conhecida pelo aclamado Till, assume a direção, reforçando sua posição como um dos principais nomes da nova geração de cineastas norte-americanos.

Nova adaptação revisita o Sonho Americano

Além de apresentar uma nova adaptação, o projeto também reacende a discussão sobre o alcance de A Morte do Caixeiro-Viajante.

Embora em 1949 a peça representasse um choque ao expor as falhas do Sonho Americano em uma sociedade pós-guerra, atualmente ela encontra novos significados diante de um mundo em constante transformação econômica e social.

Além disso, a escalação de Wright e Spencer, ambos artistas negros em papéis tradicionalmente interpretados por atores brancos, acrescenta uma camada adicional de interpretação à narrativa.

Consequentemente, a história de fracasso, exclusão e luta por dignidade ganha novas nuances, ao mesmo tempo em que dialoga diretamente com as questões raciais e sociais que moldaram, e ainda moldam, os Estados Unidos.

O anúncio da produção não é apenas uma celebração da obra de Miller, mas também um lembrete de como a peça continua ressoando mais de 70 anos após sua estreia.

Do cinema em preto e branco de 1951 à televisão dos anos 1980, e agora ao cinema contemporâneo, cada versão de A Morte do Caixeiro-Viajante revela algo novo sobre sua época.

Em novembro, caberá a Jeffrey Wright e Octavia Spencer levar para as telonas uma leitura atualizada da tragédia de Willy e Linda Loman. A produção reafirma o poder da obra em questionar sonhos, fracassos e esperanças.

Imagem de capa: Adaptação