Em 12 de março é comemorado o Dia do Bibliotecário. Esta data comemorativa foi escolhida por ser o dia do nascimento do bibliotecário, escritor e poeta Manuel Bastos Tigre, que trouxe grande contribuição social e cultural para o Brasil. Assim, celebra-se o dia daqueles que, assim como Tigre, disseminam informação e conhecimento, promovendo o desenvolvimento cultural e social do país.

Instituíram o Dia do Bibliotecário em 1980. Desde então, muito mudou acerca da profissão. Atualmente, em 2025, Biblioteconomia está entre as dez profissões mais em alta no Brasil, como aponta uma pesquisa realizada pela plataforma Linkedin. Logo, este resultado indica a valorização crescente do acesso à informação e da educação de qualidade.

O cargo de bibliotecário se destaca em décimo lugar entre as 25 profissões de maior ascensão no mercado de trabalho brasileiro listadas pelo Linkedin. A pesquisa também revelou que as cidades com maior contratações de bibliotecários são as capitais São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

De acordo com a presidenta do Conselho Regional de Biblioteconomia do Estado de São Paulo (CRB-8), Ana Cláudia Martins, a evidência desta área entre as que mais crescem no Brasil mostra o destaque do papel do bibliotecário social e profissionalmente. “O bibliotecário ampliou suas competências tecnológicas, o que permite sua atuação em qualquer área do conhecimento. Além disso, a Lei da Universalização das Bibliotecas Escolares e a criação do Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares são reconhecimentos da importância da profissão para a sociedade”, declarou Martins.

Lei da Universalização das Bibliotecas Escolares

A Lei nº 12.244/2010 (Lei da Universalização das Bibliotecas Escolares) determina que todas as instituições de ensino no Brasil, públicas ou privadas, devem ter bibliotecas. O Governo Federal instituiu em abril de 2024 o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE) por meio da Lei nº 14.837/2024. O objetivo é incentivar a implementação de novas unidades e promover a melhoria da rede de bibliotecas.

Bem como um centro de ação educacional, as bibliotecas também são grandes agentes culturais na formação de um cidadão. De acordo com a presidenta do CRB-8, “a biblioteca escolar é um espaço essencial para democratizar o acesso à leitura, promover o aprendizado e formar cidadãos críticos e informados”.

O Conselho lançou a Campanha #SouBibliotecaEscolar durante a 26° Bienal Internacional do Livro de São Paulo com o objetivo de mobilizar a sociedade e o poder público para o cumprimento da Lei n° 12.244/2010. “Muitos pais não sabem que biblioteca escolar é uma exigência legal, e que as escolas que não contam com bibliotecas devem ser denunciadas ao Ministério Público, que pode tomar as medidas legais necessárias”, destacou Martins.

O papel do bibliotecário nas escolas
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O papel do bibliotecário nas escolas

Então, com essas disposições legais, a profissão de bibliotecário recebe sua valorização e ganha destaque em diversas instituições. Consequentemente, a procura por profissionais capacitados para gerenciar acervos, auxiliar em pesquisas e promover hábitos de leitura também mostram aumentos. A bibliotecária Marcia Muller trabalha em escolas desde 1996 e essas habilidades falam diretamente com sua rotina de trabalho.

Ela é bibliotecária da Rede Marista de Londrina e conta que, apesar da profissão abranger várias atuações, se encontrou na biblioteca escolar e ama o que faz, principalmente seu papel como disseminadora de informação. “Faço de tudo um pouco, atendimento, compra de livros, catalogação, indexação e registro do material, educação de usuários, comportamento dos alunos, projetos voltados para leitura e pesquisa, contação de histórias… onde tem informação o bibliotecário pode atuar”, afirmou.

Muller se graduou em Biblioteconomia em 1995 na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e compartilhou que sua primeira opção era o curso de Jornalismo, porém não obteve a aprovação. Assim, entrou em uma das vagas remanescentes para Biblioteconomia, pois ouviu dizer que a profissão era “duble de jornalista” e achou interessante.

Hoje, olhando para trás, avalia que foi uma escolha bem feita, pois encontrou uma grande paixão em ser bibliotecária. Para Muller, a profissão está em constante transformação e o futuro da Biblioteconomia é amplo. “Com as novas inovações, tecnologia, precisamos  reinventar sempre, porém, existe a parte técnica que é difícil de fazer e mais complicado, então, acredito que nossa profissão ainda tem chão pela frente.”

O que é ser bibliotecário?

O Dicionário Online de Português define “bibliotecário” como uma pessoa encarregada da conservação, classificação e distribuição de livros em uma biblioteca. Da classe gramatical adjetivo e substantivo com variação de gênero, a palavra é usada para descrever aqueles incumbidos pela profissão, tal como Elaine Cristina Liviero.

A bibliotecária atua no Instituto Cultural Brasil Estados Unidos em Londrina (PR) e incentiva a leitura em duas línguas, o português e inglês. Liviero concorda que a área passou por transformações significativas. “As bibliotecas evoluíram de espaços com grandes acervos para centros de serviços, com acervos menores. O desafio atual é mediar o acesso à informação e auxiliar os usuários no desenvolvimento da competência informacional, uma habilidade essencial no século XXI”, disse.

Formada pela UEL em Biblioteconomia e especializada na área de Educação, Liviero compartilha que seu interesse pela área se deu por sua paixão pela leitura e um curso que a permitisse estar sempre em contato com livros a moveu para esta graduação. “Meu conselho é que o jovem bibliotecário busque conhecer profundamente as necessidades de seus usuários, estar sempre atento às demandas da biblioteca e da comunidade. Além disso, é fundamental oferecer um ambiente acolhedor e acesso à informação para todos”, afirmou.

O papel do bibliotecário nas escolas
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O curso de Biblioteconomia se moderniza

A formação em Biblioteconomia prepara os estudantes para organizar e gerir informações e tem em média 4 anos. Entre as disciplinas, os alunos estudam catalogação, classificação, indexação e recuperação de informações, preservação de acervos, gestão de bibliotecas e centros de informação e legislação de direitos autorais.

Além disso, a especialização em tecnologias de informação tem se tornado um diferencial importante para os bibliotecários. O curso de Biblioteconomia da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) é o único oferecido de forma gratuita na cidade e, nos últimos anos, busca ampliar seu currículo para atender a era digital.

Assim, uma das mudanças é a alteração do nome do curso, que a partir de 2024 passou a ser Biblioteconomia e Ciência da Informação. O intuito, segundo os professores, é ampliar as possibilidades profissionais dos estudantes e vincular, de forma mais direta, a graduação ao campo científico da informação. 

O chefe do Departamento de Informação e Cultura (CBD) e professor da USP, Francisco Paletta, explica que a área de estudos em Biblioteconomia envolve as tendências e as necessidades do atual mercado de trabalho. De acordo com ele, a organização de dados é informação. “A informação quando analisada, vira conhecimento. Esse conhecimento se transforma no que as organizações chamam de inteligência estratégica para tomada de decisão,” declarou.

Os jovens bibliotecários

Logo, aqueles que procuram formação no ensino superior em Biblioteconomia devem ter um senso de organização. Assim também avalia o diplomado Leandro Claudino da Silva, que se graduou no curso pela UEL em 2021 e hoje é bibliotecário escolar.

Ao relembrar os motivos que o levaram à essa formação, compartilha que desde sua infância se considera uma pessoa bem organizada. “Desde criança eu sempre fui organizado. Eu gostava de colecionar figurinhas, revistas como a Revista Placar de futebol, discos de vinil. Então, eu já tinha essa vocação para ser um bibliotecário, para ser um organizador de informação, mesmo que eu ainda não soubesse”, contou divertindo-se.

Silva, que se formou há quatro anos, pretende seguir os estudos na área e busca fazer um mestrado em Biblioteconomia. Ele começou sua atuação profissional mesmo antes de se formar e considera que o trabalho de bibliotecário é de muito ensino, tanto aos outros quanto a quem o faz, devido ao forte contato com a literatura.

Assim, ele também se vê no papel de formador educacional para tratar de contextos sociais. Em seu caso, como bibliotecário escolar, busca conscientizar os alunos em ensino da cultura afro-brasileira, sobre diversidades culturais e pluralidade de povos e etnias. “Eu tenho esse trabalho de trazer a diversidade cultural e étnico-cultural [para] dentro do contexto escolar. Trabalhar o letramento racial, tanto nas bibliotecas comunitárias, onde eu tenho projetos também, quanto na biblioteca escolar. Trabalhar o contexto histórico, social, educacional, o contexto econômico.”

Para ele, essa é a essência de ser bibliotecário, e considera que a profissão é enriquecedora.