O dicionário costuma definir literatura como o conjunto de obras escritas de um país, de uma época ou de um gênero. No entanto, há uma longa e complexa discussão sobre o que realmente pode ou não ser considerado literatura.
Recentemente, a tradutora e professora da Universidade de São Paulo (USP), Aurora Bernardini, provocou debate ao afirmar que “Itamar, Ernaux e Ferrante são interessantes, mas não literatura”. A declaração levanta uma questão inevitável: afinal, é possível definir de forma precisa o que é literatura?
Considerada uma forma de expressão artística que tem como matéria-prima a linguagem, a literatura é responsável por dar forma a narrativas, poemas, peças e todo tipo de texto. Mais do que comunicação, ela é um registro da experiência humana que atravessa o tempo e o espaço, eternizando vivências, ideias e emoções.
Durante séculos, no entanto, o conceito de literatura esteve restrito ao cânone, isto é, aos textos de autores consagrados e legitimados por instituições culturais. Com o passar do tempo, essa visão se expandiu, e hoje entendemos que literatura vai dos clássicos às narrativas populares, transitando por diferentes gêneros e formas de contar histórias.
Quem define esse conceito?
Ainda assim, críticos, acadêmicos, editoras, escolas e até prêmios literários continuam tentando ditar o que é ou não literatura. Esse processo, longe de ser neutro, revela relações de poder. Críticos e instituições silenciaram ou desvalorizaram muitas vozes ao longo da história, mas deram prestígio às diversas obras dentro dos padrões estabelecidos.
Carolina Maria de Jesus é um exemplo emblemático. Autora de “Quarto de Despejo“, publicado em mais de quarenta países e traduzido para treze idiomas, ela continuou vivendo na pobreza até o fim da vida. Apesar do estrondoso sucesso de seu livro, não contou com o apoio contínuo do mercado editorial e acabou relegada ao esquecimento por muito tempo.
Hoje, leitores e críticos reconhecem sua obra como símbolo de resistência e marco da literatura brasileira. Mas quantas outras vozes a história silenciou enquanto o mercado celebrava um tipo específico de escrita? Existem obras incríveis que jamais terão o merecido reconhecimento enquanto outras recebem novas edições constantemente.
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Quando Aurora afirma que determinados autores, mesmo reconhecidos e lidos, não produzem literatura, ela está sugerindo que parte da sociedade não seria capaz de alcançar o “nível” necessário para contar histórias. No fundo, há aí um certo elitismo em ditar o que é ou não literatura a partir de critérios forjados em um contexto que historicamente apagou realidades diversas.
Literatura para o Geekpop News
Esse também foi um tema que gerou debate em nossa redação. Para nós, da Geekpop News, “a missão da literatura é divulgar conhecimento”. Entendemos que literatura é tudo aquilo que enriquece o repertório do leitor, seja ficção ou não ficção. Uma boa narrativa, seja em romance, HQ ou qualquer outro formato, não apenas diverte, mas também nos leva a refletir sobre questões essenciais, como ansiedade, complexidade psicológica, empatia e tantos outros aspectos que moldam a vida humana.
Assim, quase chegamos a um consenso: enquanto para alguns redatores todos os gêneros podem ser considerados literatura, para outros, livros de autoajuda e coaching escapam dessa categoria por carregarem um caráter excessivamente comercial. “A literatura deve ser espontânea e não comercial.”
No fim das contas, aqui no Geekpop News acreditamos no poder transformador da literatura em todas as suas formas. Machado de Assis, Simone de Beauvoir e você, caro autor independente, escrevem literatura.
A literatura continua sendo uma força vital que nos conecta, questiona e resiste. Ela ainda estará aqui muito depois de todos nós.
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Crédito: Reprodução