O filme “Amado pai“, roteirizado e dirigido por Leo Miguel, será o primeiro longa-metragem do diretor que desde 2014 produz curta-metragens, chegando a receber algumas premiações nesse caminho. Por ser um filme independente e de baixo orçamento, a produção conta com uma campanha de arrecadação.
O roteiro de “Amado Pai” aborda temas cotidianos em uma cidade do interior do Rio de Janeiro. Onde a pobreza acentua temáticas como abandono parental e sincretismo religioso além de antigas crenças populares.
Na trama, Samuel (Paulinho Serra) um cuidador de idosos com a vida estável, terá que mudar seus planos para cuidar de seu pai em estado terminal. Após anos sem contato em um reencontro tardio, ao passo que pai e filho lidam com o passado de mágoas, o terror sonda a casa consumida pelas memórias e ambos terão que aprender com o perdão.
“As feridas, as mágoas do filme são tão profundas que elas chegam até o inferno, e através dessas feridas que nascem seres infernais” — Leo Miguel
Com direção e roteiro de Leo Miguel e produção de Lucas Maia, atualmente o filme encontra-se em fase de pré-produção. A história mistura temáticas de causas sociais, drama, suspense, terror e body horror (é um subgênero do terror que apresenta violações gráficas ou psicologicamente perturbadoras).
Amado Pai é um ‘horror cósmico’
O “horror cósmico”, foi uma vertente literária consolidada a partir do começo do século 20. O termo “medo cósmico” foi tão usado pelo autor Howard Phillips Lovecraft (1890 – 1937) para representar suas obras, que as narrativas da vertente são também chamadas atualmente de “lovecraftianas”.
O autor norte-americano, H. P. Lovecraft foi uma das inspirações para o filme “Amado Pai” de acordo com o diretor Leo Miguel. “Ele (o autor) trabalha com a imaginação. Você imagina aquele lugar que não conhece muito bem; então ele tenta narrar coisas que são tão loucas que você começa sentir medo do que sua própria mente vai criando daquilo que ele não consegue descrever.”
O diretor promete trazer esse horror cósmico no papel de colocar em tela algo intangível. “No nosso filme vamos explorar isso trazendo a figura desse monstro, como se fosse a linguagem da mágoa, da velhice”. Ele explica, “O ser humano quando vai envelhecendo, acaba se transformando em uma máquina que deixa de funcionar. Pessoas que passam por doenças degenerativas no final da vida delas, elas estão vivas, mas parece que estão ‘ocas’.”
Inspirações do filme
As influências vão além do ‘horror cósmico’, uma parte da inspiração vêm de histórias pessoais, e temas cotidianos. “História de famílias disfuncionais. De pessoas que tem mágoas, brigas familiares, pessoas que não se falam e são do mesmo sangue; então elas morrem levando as mágoas junto. Tem pessoas que às vezes a gente abandona, que são mágoa misturada com ego e histórias mal contadas; como é o caso do filme”.
Por isso o nome do filme. Quando Samuel vai cuidar do pai, que até então é um “ser não desejado” e não amado por ele, é quase uma ironia “Amado Pai”.
Ele também explica a inspiração para a figura desse monstro que representa linguagem da velhice, ela vem de uma referência familiar de Leo. “Os últimos momentos da minha avó vivendo em família, foi um momento bom, mas muito triste ver o processo que ela passou até realmente partir.”
Além disso, as inspirações para o terror do filme surgiram de outras obras do cinema, como Hereditário (2018) e midsommar (2019) ambos do diretor Ari Aster; Evil Dead (1989) do diretor Sam Raimi. Assim como filmes nacionais, como Canastra Suja (2018) de Caio Sóh, Abril Despedaçado (2001) e Central do Brasil (1998) de Walter Salles.
Os antecessores curta-metragens
Desde 2014 o diretor Leo Miguel produz curta-metragens e sempre trabalhando com essa temática do terror e ficção científica. Inclusive recebendo premiações pelos projetos, a mais recente foi na edição de fevereiro do ‘minthly indie shorts’, o curta “Duas Coxinhas” foi premiado como o melhor filme na categoria suspense.
Os projetos são sempre trabalhados com temáticas e produções que “são difíceis de ver”, com violência gráfica em efeitos práticos; como os curtas “O Medo que Minha Sombra” (2020), “Retorno” (2020) e “Âmago” (2018). Mas que não deixa de ter um olhar humanizado, com uma mistura equilibrada entre a realidade e a fantasia. Tudo isso com o objetivo de “explorar o lado humano, para as pessoas se identificarem e ter empatia pelas coisas que estão acontecendo.”
Para ele, cada projeto traz uma experiência diferente, “eu sabia como iria viabilizar um longa pelas dificuldades do curta, o curta foi uma grande escola nessa caminhada. Tive vários acertos e erros, e é melhor acertar e errar em um projeto menor”. Entretanto, admite as dificuldades de uma produção maior, “a ralação no longa é triplicada” confessa “mas está sendo legal, a gente tá conseguindo caminhar muito bem e estou gostando de fazer o longa. É difícil, mas mesmo com as dificuldades as coisas estão acontecendo.”
A barreira financeira
Além da dificuldade da produção de um longa-metragem independente, existem outras inúmeras barreiras, desde o gênero do filme até o apoio financeiro e do público. Para Leo, “a galera do terror está abraçando a causa. Com 2 meses conseguimos 32% da meta, esperamos fechar no final do mês (março) 50% da meta, e nos outros 2 meses conseguir mais 50%”. Entretanto, na situação atual que o mundo se encontra é mais um obstaculo; “o mundo está em um momento muito triste” diz ele “muitas coisas estão acontecendo, e eu acho que afeta a parte financeira, então entendemos a galera que não conseguem ajudar.”
Apesar das dificuldades, o diretor se diz confiante e com promessa de data para o início das gravações, “Eu acredito que a gente vai chegar lá, de uma forma ou de outra vamos rolar o filme em novembro”. Lembrando que o apoio financeiro do filme veio parte de iniciativas privadas e outra parte da campanha de financiamento coletivo no catarse que irá permanecer até junho desse ano.
Para os que estão dispostos a ajudar, conforme o valor doado existe uma recompensa, desde camisas, a nomes nos créditos e ingresso virtual para assistir ao filme online de forma exclusiva.