A escritora e roteirista Ana Paula Maia tem se destacado como um dos principais nomes da literatura contemporânea no Brasil. Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura por duas vezes com os livros “Assim na Terra como Embaixo da Terra” (2018) e “Enterre Seus Mortos” (2019), seu estilo é marcado por uma escrita objetiva e concisa. 

A autora aborda temas como violência, desigualdade, ambientados em locais descritos como macabros. Tudo isso sem metáforas ou eufemismos. Pelo contrário, as frases são concisas e consideradas “secas” pelos críticos. Dessa forma, a autora transmite o realismo muitas vezes brutal, o qual quer transmitir.

Entre a Distopia e o Real

Crédito: Reprodução | Instagram (@maiatravis)

Dois de seus trabalhos recentes, a série Desalma da Globo, da qual foi roteirista, e o livro “Enterre seus Mortos” (2019), que ganhou uma adaptação para o cinema, são ótimos exemplos dessa estética. Em Desalma, um ambiente fantástico de mistério toma forma no interior do Brasil. A narrativa é permeada por crimes misteriosos e eventos sobrenaturais assustadores, mas que, no entanto, encantam o telespectador com diálogos ricos e uma história envolvente.

Já “Enterre seus Mortos” é um faroeste com traços de terror, seguindo um homem que leva uma rotina pacata recolhendo animais mortos em estradas. No entanto, sua rotina é abalada ao encontrar cadáveres que não podem ser enterrados. Logo, ele decide dar um destino digno àqueles corpos. 

As duas obras têm em comum uma marca da autora. Ana Paula Maia sempre ambienta seus livros em cenários assustadores e pouco convencionais, como matadouros e carvoarias. Além disso, há algo em comum em seus personagens. Todos parecem ser destemidos, sem medo da morte, ou de algo terrível que pode esperá-los. 

No entanto, apesar da atmosfera sombria e da brutalidade que permeiam as obras de Ana Paula Maia, o que mais surpreende é como essas narrativas são belas e emocionantes. 

Literatura sem Filtro 

Apesar da “brutalidade poética” de suas obras, Ana Paula Maia consegue transmitir uma mensagem de humanidade e, desse modo, resgatar a dignidade dos personagens marginalizados. Assim, essa característica toca o leitor de maneira intensa, uma vez que os personagens são humanos como todos nós.

Mesmo sendo uma espécie de distopia, as narrativas de Ana Paula Maia estabelecem uma conexão com o leitor. Desse modo, gera a sensação de que ele próprio poderia ser o protagonista. 

A escrita da autora nos leva a confrontar uma realidade mais próxima do que gostaríamos de admitir. Portanto, a ficção de Ana Paula Maia e sua habilidade de transmitir beleza nas situações mais sombrias nos convidam a encarar as fissuras e os problemas do nosso próprio mundo.