Dirigida por Andrucha Waddington, “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, retrata o crime e discute machismo estrutural e violência de gênero
A HBO Max estreia em 13 de novembro a série original “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, dirigida por Andrucha Waddington. Com seis episódios, a produção revisita o caso da socialite mineira Ângela Diniz, assassinada em 1976 por Doca Street, seu então namorado. O crime, justificado na época como “legítima defesa da honra”, mobilizou o país e se tornou um marco na luta feminista brasileira.
Baseada no podcast “Praia dos Ossos”, a série reconstitui três fases da vida de Ângela: o casamento, o divórcio e o relacionamento com Doca. Além disso, também propõe uma análise sobre a forma como a sociedade julgou uma mulher que desafiava padrões de comportamento feminino. No elenco, nomes como: Marjorie Estiano, Emilio Dantas e Antonio Fagundes, Thiago Lacerda, Camila Márdila, Renata Gaspar e Yara de Novaes.

Um crime que marcou a história
Na série é possível ver momentos que vão do glamour da vida social de Ângela às cenas de tensão que antecedem o assassinato. A produção resgata o contexto da década de 1970, período em que o país vivia uma transição cultural entre o conservadorismo e os novos movimentos sociais.
Durante coletiva de imprensa realizada hoje (11), o diretor Andrucha Waddington explicou que o principal desafio foi reconstruir o Brasil daquela época com autenticidade:
“O grande desafio era fazer uma viagem no tempo, voltar à década de 70 tentando fazer da melhor maneira possível. Tentamos trazer realismo e cuidado ao retratar a época. A mãe da Ângela carimba a sociedade mineira, conservadora, enquanto as amigas do Rio trazem outras visões”.
A ambientação também reflete contrastes sociais e geográficos. Belo Horizonte representa o espaço conservador, enquanto o Rio de Janeiro aparece como símbolo da liberdade e da efervescência cultural. A produtora Renata Brandão ressaltou esse contraste:
“Retratar séries de época exige estudo profundo. Era um Rio de Janeiro sedutor em contraste com uma Belo Horizonte conservadora e firme. Tudo na série fala pela história e pela época”.

Ângela, Doca e a reconstrução de um mito
Marjorie Estiano interpreta Ângela com uma abordagem diferente das representações anteriores. Para a atriz, o papel exigiu envolvimento emocional e reflexão pessoal:
“O que me levou a aceitar o papel foi a identificação com a temática. É uma violência de gênero. Sofremos e continuamos sofrendo. O fato de ser diretamente impactada por isso me trouxe um engajamento muito grande, além da personalidade livre da Ângela, algo inédito e desafiador”.
Ao lado dela, Emilio Dantas dá vida a Doca Street, o homem que matou Ângela com quatro tiros à queima-roupa. O ator destacou o valor simbólico da série ao relacionar o caso com o contexto atual:
“Muitas vezes fazemos um paralelo na questão temporal. Algo que aconteceu há 49 anos. Esse Doca, hoje, provavelmente estaria no Congresso, com uma equipe de marketing ao lado. É importante entender quem seria essa Ângela hoje. Ela seria muito mais massacrada na internet e na vida”.
O elenco ainda conta com Yara de Novaes como Maria Diniz, mãe de Ângela; Thiago Lacerda como Ibrahim Sued; Renata Gaspar como Gilda Rabelo; e Camila Márdila como Lulu Prado. As personagens femininas representam diferentes perspectivas sobre a liberdade da mulher na época e ajudam a contextualizar as tensões entre moralidade, desejo e autonomia.
“A Lulu representa esse ‘desbunde’ da época, que usufrui da liberdade, mas ideologicamente tem limites. A construção dela vem de dentro da série, como função dentro do roteiro”, explicou Camila Márdila.

Uma leitura sobre o machismo estrutural
Mais do que reconstruir um crime, “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada” propõe uma reflexão sobre como o machismo estrutural moldou o julgamento público da vítima. Thiago Lacerda destacou a importância de revisitar o caso sob essa ótica:
“A série é uma oportunidade de reflexão sobre o patriarcado. É uma forma de entender que tudo isso não caiu do céu, nós viemos de algum lugar. A história da Ângela precisa ser contada para que a gente não se esqueça”.
O visual da série foi pensado para marcar as mudanças de tom e espaço. Segundo Andrucha, “a música é um objeto de cena, um personagem”, e as cores acompanham o percurso emocional da protagonista: “cinza em Belo Horizonte, vibrante no Rio e escura no julgamento”.
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A força de uma história que ainda ecoa
“Ângela Diniz: Assassinada e Condenada” é uma produção original HBO Max e Conspiração Filmes, com roteiro de Elena Soárez, Pedro Perazzo e Thais Tavares. A série busca revisitar o caso sem sensacionalismo, mas com o objetivo de compreender o impacto social e jurídico que ele teve sobre a luta pelos direitos das mulheres.
Mais de quatro décadas depois do crime, a história de Ângela Diniz permanece como um espelho do Brasil e de seus impasses com relação à violência de gênero. A série surge, portanto, como um registro audiovisual que propõe reflexão e memória, e reafirma o papel da ficção como meio de ressignificar a história.
Imagem de capa: HBO MAX/Reprodução
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