Enquanto o streaming se consolida, o acesso às salas de cinema no Brasil ainda é privilégio de poucos
Dados do Sistema de Informações e Indicadores Culturais do IBGE, apenas 10% dos municípios do país possuem cinemas, um número que cresceu pouco em 12 anos até a última realização desta pesquisa. De 8,7% em 2006 para 10% em 2018.
Ainda que o cinema continue resistindo como forma de lazer e arte, ele permanece concentrado nos grandes centros urbanos, deixando milhões de brasileiros fora dessa experiência coletiva.
Quase 40% da população vive em cidades sem nenhuma sala de exibição, o que significa que, para muitos, assistir a um filme na telona é um evento raro ou mesmo impossível. A exclusão cultural se repete de forma desigual: crianças, pessoas negras e com menor escolaridade estão entre as mais afetadas.

Desigualdade cultural em cena
O mapa cultural do Brasil confirma a concentração regional: Norte e Nordeste são as áreas com menor presença de cinemas, teatros e museus. No Maranhão, por exemplo, apenas 19,6% das crianças e adolescentes têm acesso potencial a uma sala de cinema.
Por outro lado, no Sudeste, os complexos de exibição fazem parte da rotina urbana, embora o preço dos ingressos e o deslocamento ainda transformem o lazer em privilégio.
Curiosamente, a pesquisa do IBGE mostra que o cinema não foi “vencido” pela internet. O avanço dos streamings, que transformou o modo de assistir a filmes, não eliminou o desejo pela experiência coletiva da tela grande.
Isso faz com que eles não sejam concorrente diretos. Isso porque ir ao cinema é uma experiência que proporciona uma vivência diferentes do que assistir um filme na sua casa.
Mesmo assim, o cenário preocupa. O fechamento de salas em cidades médias e pequenas reforça uma tendência de centralização cultural, na qual o cinema se torna um símbolo de status: um “cinema de elite”.
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Cultura fora de cartaz
A mesma pesquisa indica que as livrarias também diminuíram sua presença, passando de 30% para 17,7% dos municípios entre 2006 e 2018, enquanto as videolocadoras praticamente desapareceram.
O resultado é um país onde o acesso à cultura, seja ela impressa ou audiovisual, depende cada vez mais da renda e do CEP. O contraste é evidente: o Brasil produz filmes premiados, exporta talentos e movimenta grandes festivais, mas grande parte da população nunca entrou em uma sala de cinema.
O ritual de ir ao cinema com a escuridão, o som potente, a tela imensa, vai se tornando uma lembrança distante para quem vive fora dos grandes centros.
Enquanto isso, o debate sobre políticas públicas para democratizar o acesso segue em segundo plano. Iniciativas de circuitos itinerantes e exibições comunitárias mostram que há público, interesse e vontade.
Falta, talvez, um roteiro mais bem escrito para que o cinema brasileiro, como espaço de encontro, arte e imaginação, volte a ocupar o lugar que merece: o de um direito cultural, e não de um privilégio.
Imagem de capa: Freepik
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