Ao se inspirar em histórias reais de feminicídio, “Boca do Mundo” dá voz às mulheres silenciadas pela violência
Em seu romance de estreia, “Boca do Mundo”, Dia Bárbara Nobre constrói uma narrativa visceral que mistura ficção e realidade para denunciar a brutalidade do feminicídio no Brasil. Publicado pela Companhia das Letras, a obra transporta o leitor para Urânia, um povoado nordestino.
Assim, a narrativa inicia com Teresa, uma forasteira em fuga, que encontra por acaso a pequena cidade. O local, no entanto, não é apenas um refúgio.
Segundo uma lenda, ali repousa uma serpente de fogo, adormecida em um buraco fechado por uma enorme pedra. Ao redor dessa terra misteriosa, constrói-se uma comunidade liderada por Abigail, fundadora de uma sociedade matriarcal próspera.
Tudo parece florescer sob seu comando, exceto a vida da filha Hermínia. Seduzida por um amor perverso, a moça acaba sendo vítima de um relacionamento marcado pelo ciúmes e pela violência. Sua morte brutal a transforma em espírito errante, conhecido como a santa das espancadas, protetora das mulheres violentadas.
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Sobre “Boca do Mundo”
Entre Teresa, Abigail e Hermínia, o romance constrói um enredo brutal e envolvente sobre as violências diárias que atravessam a vida das mulheres e as formas possíveis de enfrentá-las e recomeçar.
Ao se inspirar em histórias reais de feminicídio — como, por exemplo, o caso de Isabel Maria da Conceição, assassinada em 1929 no Ceará —, a autora mistura mito e memória em uma narrativa que questiona tanto a herança patriarcal quanto as cicatrizes deixadas por ela.
“Queria que Boca do Mundo fosse também uma reza, um feitiço. Uma forma de narrar a vida dessas mulheres e, ao mesmo tempo, honrar suas resistências”, afirmou Dia Bárbara em texto publicado no blog da Companhia das Letras. A escritora ainda acrescenta:
Para mim, era impossível escrever essa história sem olhar para as marcas da violência que atravessam a vida das mulheres. Mas também queria mostrar como elas criam espaços de cuidado e de reinvenção, mesmo em meio ao horror.
O livro chega em um momento em que os números continuam alarmantes. Em 2024, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 17 horas no Brasil, enquanto mais de 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência. Logo, ao transformar essas estatísticas em uma narrativa literária, “Boca do Mundo” reafirma a arte como espaço de resistência e memória.
A obra já está disponível em livrarias e no site oficial da editora, Companhia das Letras.
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Imagem de capa: Reprodução/Companhia das Letras