Há 138 anos, no dia 23 de novembro, nascia Boris Karloff, um dos maiores ícones do cinema no século XX. Ator multifacetado, dono de uma voz inconfundível e imortalizado por sua interpretação da Criatura em Frankenstein.
Quando Frankenstein foi produzido, em 1931, os Estúdios Universal haviam acabado de lançar Drácula (1931). Estrelado por Béla Lugosi, o filme de vampiro havia salvado os estúdios de uma crise financeira e, com isso, o objetivo era repetir sua fórmula, aproveitando o forte apelo do gênero terror e do ator protagonista com o público. Inicialmente, Robert Folley foi contratado para dirigir o longa, e Lugosi para interpretar a Criatura (que, depois, ficaria conhecida como O Monstro de Frankenstein). Porém, divergências criativas acabaram afastando ambos do projeto.
A Universal, então, escalou James Whale como novo diretor do filme, que trouxe com ele os atores Colin Clive e Mae Clarke para preencherem os papéis de Henry Frankenstein e sua noiva, Elizabeth. Para o Monstro, optou por um ator desconhecido, mas com vasta experiência em papéis secundários, olhar marcante e uma aparência distinta. O ator em questão era Boris Karloff, cujo personagem iria transformá-lo para sempre em um ícone do cinema.
Astro do terror, o verdadeiro Monstro de Frankenstein para fãs, ou “Karloff, o Estranho”, como era conhecido nos estúdios da Universal, o ator britânico não se limitou a um só gênero. Seu extenso currículo incluiu papéis em faroestes, dramas históricos, filmes de gângster, e até comédias. Antes de aparecer em Frankenstein, já havia feito 81 filmes. Seu currículo soma até hoje mais de 180 películas, sem contar os filmes perdidos e os que não foram creditados. Hoje, 23 de novembro, no dia em que seria seu 138º aniversário, faremos uma retrospectiva com alguns de seus papéis mais emblemáticos. Confira!
Scarface: A Vergonha de uma Nação (1932)

Pouca gente sabe, mas Scarface (1932) ajudou a alavancar o sucesso de Boris Karloff em Frankenstein. Nesse longa, que não é de terror, mas é um verdadeiro clássico, Karloff interpreta Gaffney, um poderoso gângster chefe da máfia. As filmagens de Scarface aconteceram muito antes de Frankenstein começar a ser produzido, mas, por questões de censura, o filme teve seu lançamento atrasado. Depois que Frankenstein estreou nos cinemas, em 1931, Boris continuou fazendo pequenos papéis coadjuvantes, pois o sucesso do filme não repercutiu de imediato em sua carreira. Entretanto, em 1932, com o lançamento de Scarface e sua estrondosa bilheteria, o ator finalmente se torna um nome de prestígio dentro dos estúdios.
Frankenstein (1931)

Este foi, de fato, o primeiro grande sucesso de Boris Karloff, e também o primeiro grande filme de terror de Hollywood. Sua interpretação tenra e sensível da criatura assustadora idealizada por Mary Shelley cativou o público e os cíticos de cinema. O papel representou um grande desafio para o ator, que precisava passar por horas de maquiagem e usar sapatos com plataformas de asfalto que pesavam aproximadamente cinco quilos. Apesar do sucesso, Frankenstein chocou uma parcela conservadora do público. Para conseguir exibir o filme em alguns estados americanos, e até em alguns países, o estúdio teve de cortar algumas cenas (como, por exemplo, a cena em que o Monstro joga a menina no rio).
A Máscara de Fu Manchu (1932)

Enquanto Frankenstein fazia sucesso, Tod Browning, o diretor de Drácula, enfrentava com seu recém-lançado Freaks (1932) um dos maiores fracassos de bilheteria da MGM, que por sua vez decidiu pedir ao estúdio rival seu ator “emprestado”. Com isso, Karloff pôde partir para os estúdios da MGM, para filmar A Máscara de Fu Manchu, como o vilão do título. Caricato, exagerado, e um tanto preconceituoso, o filme recebeu críticas negativas e sofreu cortes devido a seus diálogos problemáticos (a surpresa é que foram só dois minutos). Ironicamente, ambos os filmes se tornaram cults com o passar do tempo. A Máscara de Fu Manchu foi uma produção caótica, e Karloff disse depois que detestou sua maquiagem. Sem roteiro, ele recebia as falas em uma folha de papel duas horas antes de fazer suas cenas. Quanto a sua interpretação como Fu Manchu, ele foi mais uma vez ovacionado pelo público.
A Múmia (1932)

No mesmo ano, o ator voltou aos Estúdios Universal para gravar A Múmia, no papel de mais um monstro clássico do cinema. Para interpretar Imhotep, o faraó que retorna do mundo dos mortos para encontrar a reencarnação de sua amada, Karloff trabalhou novamente com Jack P. Pierce, que ficou responsável pela maquiagem e figurino do personagem. Ambos foram muito elogiados, assim como o diretor estreante Karl Freund, que usou sua experiência como fotógrafo para criar uma atmosfera ameaçadora com luzes e sombras. Ao lado de Drácula e Frankenstein, A Múmia faz parte de uma espécie de tríade do terror, responsável pela fama da Universal nos anos 1930. Além de consagrar, de fato, Boris Karloff como “o astro do terror”.
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O Gato Preto (1934)

Esse longa baseado no conto de Edgar Allan Poe marca o início da parceria entre Karloff e Béla Lugosi. Em meio a boatos de que se odiavam, as duas lendas contracenaram juntas em outros sete filmes, provando que certamente tudo não passava de fake news. O personagem de Boris em O Gato Preto, o ex-tenente militar da Primeira Guerra Hjalmar Poelzig, foi levemente inspirado no ocultista Aleister Crowley. Ainda que despidos dos personagens a que são associados constantemente, é possível relembrá-los em algumas cenas e diálogos. Apesar de receber críticas diversas, O Gato Preto alcançou a maior bilheteria da Universal no ano de 1934, e sua reputação foi crescendo ao longo dos anos, até se tornar um dos melhores filmes de terror de todos os tempos.
Como o Grinch Roubou o Natal! (1966)

Na década de 1960, já com sua saúde debilitada, Boris Karloff se afastou dos filmes. Sua voz “bela, ritmada e carinhosa” fez com que o animador Chuck Jones o convidasse para dublar o especial para TV Como o Grinch Roubou o Natal!, adaptado do livro de Dr. Seuss. Seu trabalho na animação lhe rendeu um Grammy, único prêmio significativo recebido em toda a sua carreira, aos 79 anos. Sobre Boris, Chuck Jones declarou, anos depois: “Para mim, uma das coisas mais importantes foi conseguir Boris Karloff… Ele tem essa voz amável, maravilhosa. Todos pensavam nele como um vilão. E ele foi tão querido quando leu, sabe? Ele realmente deu um sotaque para cada uma das notas, e o narrador foi importante ali.” Em seu blog oficial, o diretor relata como foi a sua experiência trabalhando com o astro.
Na Mira da Morte (1968)

Em Targets (Na Mira da Morte, como foi chamado no Brasil), Boris Karloff interpreta Byron Orlok, um ator veterano de filmes de terror. Sentindo-se ultrapassado, ele volta para sua terra natal, na Inglaterra, para se aposentar. Sammy Michaels (vivido por Peter Bogdanovich), um jovem diretor iniciante, tenta convencê-lo a todo custo a fazer mais um filme de terror. Orlok, apesar não acreditar mais ser possível fazer o público gritar, acaba topando. Cheio de metalinguagem e diálogos autobiográficos, esse filme seria a estreia do diretor Peter Bogdanovich (que depois virou um dos maiores realizadores da Nova Hollywood), e o último de Boris Karloff. O mais interessante é que ambos estavam representando versões fictícias de si mesmos. A produção teve um orçamento baixíssimo e Karloff levou dois dias para filmar suas cenas, pois esse era o tempo de trabalho que devia para o produtor Roger Corman.
Posteriormente, Boris Karloff fez mais alguns filmes do diretor mexicano Luis Enrique Vergara. Nessa época, com artrite e enfisema pulmonar, gravou as cenas em Los Angeles. Em 2 de fevereiro de 1969, com 81 anos de idade, o ator faleceu, em Midhurst, na Inglaterra. Para além de O Monstro de Frankenstein, seu legado e influência perduram para todo e sempre na história do Cinema Mundial.
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Crédito da Imagem de Capa: Hammer Horror / Universal Pictures.
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