Com prefácio de Ruy Guerra, “Cronofagia” de Carla Brasil traz versos sensíveis sobre o tempo e os abismos do agora

A poeta e multiartista Carla Brasil estreia no universo literário com o livro Cronofagia, publicado pela Editora Appris. A obra, composta por 37 poemas, não se contenta em sussurrar: grita, sangra e ironiza a pressa de um mundo que devora sua própria subjetividade.

Logo no prefácio, o cineasta e também poeta Ruy Guerra descreve a autora como alguém que não teme o choque. Para ele, Carla “vai até o limite, sempre em favor da ideia, sem sacrificar o encantamento perverso de algumas imagens, beirando o sórdido”.

Além disso, a multiartista também assina a própria direção criativa da obra.

O tempo como protagonista

Em “Cronofagia”, Carla Brasil apresenta o tempo como o fio condutor dos versos, sendo não só um algoz invisível, mas também algo que que consome e desgasta. Os poemas exploram a conexão do tempo com a ansiedade digital, a compressão da subjetividade, o esgotamento da produtividade e a ironia cruel de uma era que promete ganho de tempo, mas só oferece cansaço. “Esse jogo perverso entre aceleração e esgotamento está no cerne do livro”, explica a autora.

Com ironia, lirismo e sarcasmo, a obra provoca o leitor a repensar sua relação com o presente. Portanto, ao invés de tratar o tempo como posse, ela o apresenta como força que atravessa e devora. Nessa perspectiva, a identidade torna-se fluida, o amor aparece como delírio e a própria existência se revela um jogo entre absurdo e poesia.

Confira o trecho do poema “Clichês do tempo”:

“corre o tempo e eu não corro
ele salta colinas
eu me destroço em pedregulhos
ele voa absorto
e eu fico na lama,
no rastro bastardo do seu pecado

passa com seu olhar perfilado
seu fôlego arbitrário
o riso sarcástico e dissimulado
de um deus ordinário”

Estética da obra dialoga com os versos

Capa do livro Cronofagia, de Carla Brasil
Capa do livro Cronofagia, de Carla Brasil.
Crédito: Redes Sociais (Instagram/@eu.carlabrasi)

Além dos poemas, “Cronofagia” é também um projeto estético. Carla Brasil assumiu a direção criativa do livro, desde a concepção da capa até o diálogo entre texto e imagens. As ilustrações não funcionam apenas como complemento, mas como parte do entendimento dos versos.

Com ilustrações criadas por Daniel Uires, Carla ressalta que a concepção estética do livro também são importantes para a leitura. “Essas intersecções entre palavra e imagem não são apenas ilustrativas — fazem parte da narrativa do livro”, afirma a autora.

Ruy Guerra assina o préfacio

Ruy Guerra e Carla Brasil
Ruy Guerra e Carla Brasil.
Crédito: Redes Sociais (Instagram/@eu.carlabrasi)

O prefácio de Cronofagia não poderia ter vindo de uma figura mais emblemática: o cineasta, dramaturgo e poeta Ruy Guerra. Reconhecido por sua trajetória no cinema e na literatura, Guerra imprime à obra de Carla Brasil uma validação rara para uma estreia. 

Logo de início, ele ressalta que a poeta não teme o confronto. “Ela [Carla Brasil] não foge do sujo, vai até o limite, sempre em favor da ideia, sem sacrificar o encantamento perverso de algumas imagens, beirando o sórdido”, escreve.

Assim, o prefaciador não economiza palavras na estreia da poeta: “É muito bom ler uma jovem poeta que, na sua primeira arremetida, chega tão longe. Me dá vontade de usar um daqueles sonoros palavrões descarados, para escancarar o meu entusiasmo”

Conheça a autora

Carla Brasil é poeta, escritora e multiartista do Rio de Janeiro. Com olhar sensível, a autora transita não só na literatura, mas também no design, artes plásticas e fotografia. Além de construir uma poética marcada pela ironia e pela melancolia, misturando lirismo com crítica social e sarcasmo.

Antes mesmo da estreia com “Cronofagia”, seu talento já havia sido reconhecido em diferentes premiações nacionais. Ela recebeu destaque no Prêmio Poesia Agora – Primavera 2020, da Editora Trevo, e teve poemas selecionados na coletânea Poetize 2021, da Vivara Editora Nacional, entre milhares de inscritos.

Você pode adquirir “Cronofagia” pelo site oficial da Editora Appris.

Imagem da capa: Leonardo Gudel.