CHESPIRITO: Sem Querer Querendo, série original mexicana da Max, chega com a missão ousada de revisitar a vida e a obra de Roberto Gómez Bolaños, o eterno criador de personagens que marcaram gerações, como Chaves e Chapolin Colorado. Escrita por Roberto Gómez Fernández, filho de Bolãnos, a produção entrega uma obra visualmente cativante, mas que caminha com certo cuidado, e até hesitação, ao mergulhar nos aspectos mais íntimos e polêmicos da vida do artista.
A narrativa percorre as décadas de 1950 a 1980, acompanhando desde a infância de Bolaños até os anos de maior sucesso na televisão. Nesse trajeto, vemos como ele construiu uma carreira sólida a partir de seu interesse por humor, enfrentando desafios que vão desde limitações técnicas até dilemas pessoais.
Uma ótica familiar e até certo ponto enviesada
A escolha de contar essa história sob a ótica familiar é, ao mesmo tempo, o maior charme e a maior limitação da série. Ao evitar aprofundar certas controvérsias, Sem Querer Querendo preserva a imagem pública de Chespirito, mas entrega pouco da complexidade do homem por trás do ícone. Ainda assim, surpreende ao não omitir episódios que muitos não esperavam ver retratados, como seu relacionamento com Florinda Meza, mesmo que tratado de forma breve e com nomes fictícios. É impossível não notar que os personagens Dona Florinda e Quico foram renomeados na série, uma decisão que reflete o afastamento dos intérpretes originais do processo de criação.

Inclusive, o filho de Roberto, Roberto Gómez Fernández, evitou comentários sobre sua madrasta durante as entrevistas de divulgação, adicionando uma camada de complexidade a atmosfera em torno da série.
Uma belíssima produção
Um detalhe curioso, e involuntariamente charmoso, é o uso de efeitos especiais visivelmente toscos em algumas cenas. O CGI lembra o estilo ingênuo das próprias séries “Chaves e Chapolin“, o que, em qualquer outro contexto, soaria como falha técnica, mas aqui acaba funcionando quase como uma homenagem involuntária. É um erro, sim, mas daqueles que arrancam um sorriso pela nostalgia.
A fotografia, por outro lado, é belíssima. A direção de arte acerta ao resgatar a atmosfera de época e ao construir cenas visualmente memoráveis, mesmo quando o roteiro tropeça na superficialidade.
Pablo Cruz está absolutamente impecável no papel de Roberto Gómez Bolaños, entregando uma atuação que impressiona não apenas pela semelhança física, mas pela forma como capta os gestos, o olhar e até a cadência da fala do comediante. Em diversos momentos, a impressão é a de estar assistindo a um irmão de Bolaños em cena, tamanha a precisão com que encarna o personagem. Andrea Noli como Angelines Fernández é outra que parece uma encarnação em tela, ao viver a Bruxa do 71 de maneira brilhante.
O design de produção, assinado por Francisco Blanc, reforça um certo realismo com cenários minuciosamente construídos, que ajudam a transportar o espectador diretamente para os bastidores da televisão mexicana das décadas de 1970 e 1980. Mas está longe de ser uma grande produção, na verdade, está mais para uma produção ao nível Chaves mesmo, e isso é um elogio.
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Uma série ou uma ode?
Apesar de seus deslizes, “CHESPIRITO: Sem Querer Querendo” cumpre bem seu propósito, resgatar a memória de um ícone latino-americano, reafirmando o legado de Bolaños com respeito e certa reverência. Talvez falte ousadia em alguns momentos, mas sobra carinho. E, convenhamos, isso é algo que sempre fez parte do universo que Chespirito nos ensinou a amar, sem querer querendo.
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