De romances a clássicos infantojuvenis, o clube amplia repertórios e oferece um espaço de troca de vivências entre mulheres

Nos últimos anos, a participação em clubes de livros se tornou uma alternativa para as pessoas que desejam cultivar o hábito de leitura no cotidiano. De acordo com um levantamento realizado pela plataforma de eventos Eventbrite, o número de encontros literários cadastrados cresceu 350% entre 2019 e 2023.

Seja presencial ou online, os participantes não apenas têm a oportunidade de discutir livros e conhecer autores novos, mas também de criar vínculos e amizades com quem compartilha interesses semelhantes.

Segundo a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2024), cerca de 53% da população brasileira não leu nenhum livro nos últimos três meses. O levantamento mostra que essa diminuição no hábito de leitura ocorre em todas as idades, níveis de escolaridade e classes sociais. Nesse cenário, é importante o surgimento de espaços que estimulem a leitura e troca de experiências.

Assim surgiu o Jabuti, um clube do livro presencial em São Paulo, voltado exclusivamente para mulheres. Com encontros mensais e seleções variadas de títulos, o Jabuti nasceu em agosto de 2024, e atualmente conta com 26 leitoras.

Clube do livro promove encontros presenciais na capital de São Paulo

Em meio à queda no número de leitores no Brasil, o clube do livro Jabuti surge como alternativa de estímulo à leitura
Em meio à queda no número de leitores no Brasil, o clube do livro Jabuti surge como alternativa de estímulo à leitura.
Crédito: Clube Jabuti

O Jabuti surgiu de um encontro inesperado entre Thalia Barbosa e Camilly Eiras que buscavam um clube de leitura em São Paulo. Ambas esbarravam sempre nos mesmos obstáculos: grupos já lotados ou encontros que aconteciam apenas online.

Durante a pesquisa, Camilly encontrou o comentário de Thalia em uma postagem no TikTok. “Então, um dia eu [Camilly] vi um comentário da Thalia falando que gostaria de criar um clube, e mandei mensagem para ela para criarmos juntas. A ideia sempre foi ser exclusivo para mulheres, nos sentimos mais confortáveis assim. É legal podermos ter tantas mulheres com quem compartilhar a leitura.”, relatou a publicitária de 22 anos.

Inicialmente, as fundadoras pensaram em chamar o grupo de Austen Book Club, em homenagem à escritora britânica Jane Austen. Entretanto, tudo mudou no primeiro encontro, quando o local escolhido tinha um jabuti como mascote. “Ficamos obcecadas e decidimos que esse seria o nome do clube”, contou Thalia para o GeekPop News.

Como o clube Jabuti conquistou leitoras em São Paulo

Durante o último ano, o clube do livro recebeu leitoras de diversas idades, dos 18 aos 30 anos. As integrantes, por sua vez, encontraram o grupo por meio de redes sociais ou por indicações.

Embora a maioria tenha relatado que o principal motivo para participar do clube foi estimular a leitura e explorar novos gêneros que normalmente não leriam, a exclusividade feminina do Jabuti também chamou a atenção das participantes.

A troca coletiva entre mulheres é diferente e especial para as integrantes, que se sentem mais confortáveis por poderem compartilhar vivências semelhantes. Além disso, o clube também é uma forma de fazer amizade. Rosa Maria, uma das participantes, relatou:

Além de poder compartilhar minhas opiniões e debater, também tive a chance de cultivar relacionamentos com mulheres. Isso é importante em uma sociedade em que somos ensinadas a nos ver como inimigas.

Por sua vez, Maria Eduarda, que chegou recentemente em São Paulo, destacou que o clube foi uma forma de conhecer pessoas novas. Segundo ela, a experiência juntou duas coisas que sempre chamaram sua atenção: leitura e amizades.

O clube também ajudou a manter o hábito de leitura no cotidiano das integrantes. Como resultado, 70% das participantes afirmaram que leem semanalmente por conta do clube, enquanto 20% relatam ler todos os dias. Além disso, 80% das integrantes disseram que conheceram novos gêneros literários.

A primeira leitura coletiva do clube foi Amor, teoricamente, da autora Ali Hazelwood. Inicialmente, a proposta era focar apenas em romances, mas, com o tempo, o grupo decidiu ampliar o repertório.

Após um ano de atividades, o Jabuti já explorou gêneros variados, passando por suspense, terror e até clássicos da literatura infantojuvenil. Um exemplo é A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga, escolhido como leitura atual para o mês de outubro, por conta do Dia das Crianças.

Encontros mensais são marcados por literatura e acolhimento

Jabuti, além de ser a origem do nome, é o mascote do Clube de Leitura
Crédito: Clube Jabuti
Jabuti, além de ser a origem do nome, é o mascote do Clube de Leitura Crédito: Clube Jabuti

No Jabuti, a escolha dos livros é feita de maneira coletiva. Mesmo quando há um tema ou gênero definido para o mês, todas as participantes podem sugerir títulos, que posteriormente passam por votação para a escolha final.

O mesmo cuidado se aplica aos encontros mensais, onde as participantes decidem juntas um local que seja acessível a todas. Durante os encontros, além de discutirem sobre o livro, também há dinâmicas variadas que garantem que todas possam interagir e se sentir à vontade.

Para muitas integrantes, porém, a parte favorita do clube é justamente a troca de ideias e experiências. Thayane Buarque, uma das integrantes, relatou que os encontros vão além da literatura, “Sinto que tivemos a sorte de construir uma comunidade com muitas familiaridades entre todas, mas com vivências e experiências diversas que enriquecem nosso cotidiano e encontros.”

Além dela, Leticia Borges, também contou que o Jabuti proporciona oportunidades de explorar outros interesses. Por exemplo, “o clube conta com outras comunidades além da leitura, como, o grupo de crochê. Comecei a aprender recentemente e é muito legal poder trocar experiências e receber ajuda das meninas que praticam também.”, relata.

Imagem de capa: Instagram @clube.jabuti