No dia 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, uma data de extrema importância para a luta pelos direitos das mulheres e pela igualdade de gênero. Neste dia, é fundamental refletir sobre as conquistas já alcançadas e pensar nos desafios que ainda precisam ser superados.
Desta forma, trazendo a questão para a esfera do Entretenimento, é fato que ainda há muito a avançar em relação à valorização, ao respeito e ao reconhecimento das mulheres, e é por isso que é importante falar das mulheres que dublam animes no Brasil.
Você certamente já se perguntou sobre como os personagens dos seus animes favoritos falavam a sua língua, mesmo tendo origens de criação estrangeiras. A resposta é simples, por meio da dublagem! Ela é responsável por facilitar o entendimento dos nossos programas favoritos e é crucial para o universo midiático, assim como para a cultura nerd e geek.
Nesse sentido, a dublagem é uma técnica amplamente utilizada na indústria cinematográfica e televisiva para a substituição da voz original de um ator por outra voz, em outro idioma. A prática tem origens antigas, remontando aos primórdios do cinema mudo, quando as películas eram exibidas com legendas em distintos idiomas. Com o passar do tempo, a dublagem se tornou uma técnica sofisticada, com profissionais especializados e estúdios dedicados a esse fim.
Sendo assim, nesta reportagem, vamos abordar o papel da mulher nessa indústria e evidenciar a importância da sua representatividade no ramo, por meio do relato de experiência de dubladoras consolidadas e com uma trajetória profissional marcada por personagens de sucesso inesquecíveis.
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Mulheres que dublam animes | Quem são as profissionais que fizeram história no ramo?
Você já entendeu o que é a indústria de dublagem, certo? Então, veremos a seguir algumas das mulheres que dublam animes:
Úrsula Bezerra
Impossível falar da dublagem de animes sem falar de Úrsula Bezerra. A atriz, dubladora e diretora de dublagem começou sua carreira por volta dos oito anos. Úrsula é extremamente conhecida por dar voz a Naruto (incluindo o Shippuden), mas não para por aí. A lista de personagens que ela dubla é gigantesca! Ela dá voz ao Son Goku criança e ao Chaos na franquia de Dragon Ball, ao Kimba (Kimba, o Leão Branco), Chibi Moon da franquia de Sailor Moon e muitos outros!
Angélica Santos
Angélica Santos é atriz, narradora, dubladora e diretora de dublagem. A profissional tem mais de 40 anos de experiência na área. O seu trabalho mais famoso é como Cebolinha, da Turma da Mônica. Entretanto, no campo dos animes, Angélica deu voz ao Oolong (franquia de Dragon Ball), ao Bokomon (Digimon Frontier), a Esmeralda (Cavaleiros do Zodíaco), ao Zoro criança e a Nico Robin de One Piece.
Cecília Lemes
Com mais de 50 anos de profissão, Cecília Lemes é, além de dubladora, atriz, diretora de dublagem, locutora e narradora. No ramo dos animes, sua voz é conhecida por ser a Tsunade (Naruto e Naruto Shippuden). Além disso, as personagens Ritsuko Akagi (Evangelion), Senhora Briefs (franquia de Dragon Ball) e Hina (One Piece) ganham vida com sua bela voz.
Tânia Gaidarji
Ao pensar em personagens femininas da franquia de Dragon Ball, é impossível não se lembrar da Bulma. Quem deu voz à personagem foi Tânia Gaidarji, que está há cerca de 30 anos na indústria de dublagem. Ademais, a atriz ainda trabalhou em diversos outros animes que fizeram história, como: Os Cavaleiros do Zodíaco: Ômega (Paradox de Gêmeos), Hunter x Hunter (Illumini Zoldyck), Fullmetal Alchemist (Izumi Curtis), entre outros.
Melissa Garcia
Outra notável profissional, é Melissa Garcia, que também está há quase 30 anos no ramo da dublagem. A dubladora é responsável por dar voz à Videl da franquia de Dragon Ball. Além disso, deu voz à Sailor Mercúrio em Sailor Moon, à Megumi Oumi de Zatch Bell e foi a Orihime Inoue em Bleach.
Tatiane Keplmair
Tatiane Keplmair também conhecida como Tati Keplmair começou a dublar por volta dos seus 13 anos de idade. Além disso, a dubladora ficou popular no ramo dos animes por ser a voz de Sakura Haruno (Naruto e Naruto Shippuden), da Rukia Kukichi (Bleach) e da Nami (One Piece). Nos animes mais recentes, é a Mina Ashido (Boku no Hero Academia) e a Shinobu Kocho (Kimetsu no Yaiba). Além de dubladora, Tati é atriz e diretora de dublagem, deixando sua marca de diversas formas na indústria de entretenimento.
Embora não estejam todas aqui, salientamos que as demais profissionais também são dignas de parabenizações pelo trabalho incrível que vem sendo feito. Além disso, prestamos nossas homenagens para aquelas que também já se foram.
Representatividade na dublagem: Conheça algumas dubladoras LGBTQIA+
Agora que você já conheceu algumas das profissionais da dublagem brasileira, vamos focar num outro recorte da temática: onde estão as mulheres LGBTQIAPN+ na dublagem? O mercado de trabalho é amplo para a dublagem, porém em um país como o Brasil, não é uma profissão incentivada. Junta-se a isso o machismo e a homofobia da nossa sociedade, e no fim temos uma presença muito escassa de mulheres LGBTQIAPN+ nesse ramo.
Mabel Cezar
Uma das dubladoras mais antigas e com bagagem na área de animes é Mabel Cezar, que começou no ramo da dublagem em 1996. Dubladora e diretora de dublagem, Mabel também é atriz, narradora, professora e youtuber. Dentre seus trabalhos em animações orientais estão longas animados famosos como O serviço de Entregas da Kiki (Maki), Aya e a Bruxa (Bella Yaga) e Pokémon – O filme: Mewtwo Contra-Ataca (Miranda).
Da mesma forma, sua participação em séries animadas já vem de longa data, em diversos animes clássicos. Além disso, algumas produções em que a dubladora esteve presente foram: Yu Yu Hakusho (Genkai jovem), Cowboy Bebop (Coffee), Digimon Adventure (Piyomon) e Astro Boy (Sarah).
E não para por aí: Mabel também já contribuiu em alguns tokusatsu da franquia Power Rangers, que apesar de ser uma franquia americana, é baseada na franquia japonesa Super Sentai. Além disso, ela atuou como diretora de dublagem em Cavaleiros do Zodíaco: Ômega (2012 – 2014), e é fundadora e CEO da Sociedade Brasileira de Dublagem juntamente com sua esposa, Rayani Immediato.
Rayani Immediato
Por sua vez, Rayani é dubladora, atriz, tradutora, diretora de dublagem e empresária. Sua carreira começou em 2006, e uma das produções em que ela trabalhou foi a série Pokémon XY&Z (2017 – 2018), nas vozes adicionais. Conforme mencionado anteriormente, Rayani é sócia e fundadora da Sociedade de Dublagem Brasileira, além de palestrante e também produtora de conteúdo em um canal sobre dublagem, juntamente a Mabel.
Flora Paulita
Outro nome conhecido na dublagem brasileira é Flora Paulita, que é também atriz, locutora e diretora de dublagem. Desde 2001, Flora interpreta personagens em produções de renome, tais como Naruto (Moegi), Bleach (Ururu Tsumugiya), One Piece (Conis), Dragon Ball Super (Caulifla) e Fairy Tail (Lucy Heartfilia).
Flora tem também participação em longas animados conhecidos como Ponyo (2008), Your Name (2016) e O Conto da Princesa Kaguya (2013), assim como experiência em tokusatsu e dramas asiáticos.
Ainda mais, Flora dirigiu a dublagem em Pretty Guardian Sailor Moon Eternal: O Filme (2021), já foi indicada ao Oscar da Dublagem Brasileira, em 2006, na categoria de Melhor Revelação, e dublou a primeira personagem LGBTQIAPN+ em League of Legends, Neeko, tanto no original em inglês quanto no português.
Carol Valença
Ana Carolina Silva, conhecida também pelo nome artístico Carol Valença. é uma atriz, dubladora, locutora e cantora brasileira. Carol começou na dublagem em 2012, e é dona da voz de Luffy, o pirata do Chapéu de Palha, na redublagem do anime. Além disso, já trabalhou nos projetos: Fullmetal Alchemist: Brotherhood (Luxúria), Hunter x Hunter (Menchi), JoJo’s Bizarre Adventure (Sherry Polnareff) e Black Clover (Vanica Zogratis).
Com trabalho de dublagem em filmes como Meu Amigo Totoro (Sra. Oogaki) e Naruto o Filme: A Lenda da Pedra de Gelel (Fugai), Carol se firma como um dos grandes nomes da dublagem brasileira nas nossas tão amadas animações japonesas.
Alexia Vitória
Uma profissional novinha em folha na área é Aléxia Vitória, uma atriz e dubladora brasileira que iniciou na profissão em 2021. Nesta época, Alexia decidiu regressar à locução, área em que já tinha formação prévia.
Dessa forma, enquanto profissional com formação em locução de rádio e dublagem, ela buscou investir em equipamentos de gravação de voz para realizar trabalhos de locução, e foi assim que conseguiu sua primeira escalação em um casting, com a personagem Sacha em Veneno (Original Max), interpretada pela atriz espanhola trans Alex Saint.
Ainda que com entrada recente, Alexia já possui atuação no mercado das animações japonesas, como por exemplo Junji Ito – Histórias Macabras do Japão (vozes adicionais) e Skip and Loafer (Nao).
A representatividade da mulher na dublagem
Esses nomes marcantes fizeram história na dublagem brasileira. Contudo, o mercado vem se aquecendo nos últimos anos e trazendo novos rostos para os estúdios. A chegada desses profissionais traz, também, representatividade de mulheres que dublam, especialmente na área de animes.
Um belo exemplo disso é a dubladora Alexia Vitória. Conforme citado, seu início na dublagem foi em meio a Pandemia, o mercado enfrentou a necessidade de se adequar às gravações online em decorrência da pandemia do COVID-19. Nessa mesma época, ela também procurou se especializar em atuação de voz:
“Minha formação como atriz, assim como a capacitação em dublagem, são recentes: concluí minha formação como atriz em janeiro de 2021 e minha formação regular em curso de dublagem em dezembro do mesmo ano. Fiz ainda aperfeiçoamento com o professor/dublador Ronaldo Júlio de outubro de 2021 a janeiro de 2022.”
Os estudos e a dedicação resultaram em papéis de dublagem para diversas obras audiovisuais, como o anime Skip and Loafer (Tia Nao). Neles, Alexia interpretou uma personagem trans que se relaciona diretamente com a trama principal, e trouxe não só voz para personagens femininas que são LGBTQIAPN+ como também para as profissionais que também pertencem a essa comunidade.
Apesar da conquista por espaço no mercado ainda ser uma luta diária – sobretudo quando alguns estúdios e diretores continuam adeptos à práticas estereotipadas como o “transfake” (quando dubladores cis são escalados para interpretar personagens trans e acabam dando a eles trejeitos caricatos e preconceituosos) – a dublagem também vem passando por transformações sociais e, na visão de Alexia, a inclusão de pessoas trans dá passos cada vez mais significativos desde 2021:
“Geralmente a iniciativa parte dos clientes (Netflix, Warner, Amazon, etc), algumas vezes também parte das próprias empresas (de dublagem e localização de games) e até de diretores que se mostram sensíveis e zelosos com a inclusão de pessoas trans, mesmo sem exigência dos clientes.”
Sendo uma mulher trans, é muito gratificante para Alexia Vitória participar desse movimento de transformação dentro do cenário de dublagem brasileiro. Isso se dá, principalmente por acreditar que os papéis que interpretam não levam ao público apenas histórias, como também identificação e simbolismo. Seu trabalho traz, como feedback, mensagens de outras mulheres trans, emocionadas e inspiradas pelo trabalho cuidadoso da profissional. Dessa forma, a cada papel interpretado pela atriz, sua presença como profissional acende uma chama de esperança para outras mulheres trans que, pouco a pouco, se sentem cada vez mais inspiradas a realizar seus sonhos – entre eles, o de serem dubladoras um dia:
“Quanto mais profissionais trans no mercado, maior será nossa visibilidade e com isso outras pessoas trans poderão ver que é possível, apesar de todas as dificuldades, conseguirem chegar lá.”
Matéria escrita por Thalia, Carolina e Mayra