Antônio Isidoro da Fonseca desafiou a proibição de impressões em território nacional e produziu a obra Relação da Entrada
O histórico dos livros no Brasil começou muito antes do registro oficial da primeira obra impressa no país. Embora a criação da Imprensa Régia, em 1808, seja considerada o marco inaugural da história do livro no Brasil, antes já havia ocorrido uma tentativa de introduzir a tipografia no país.
Em 1747, o português Antônio Isidoro da Fonseca tentou colocar em prática o conceito de imprensa local no Brasil pela primeira vez.
A tentativa pioneira de imprimir no Brasil

Crédito: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin – USP
Antes da Família Real portuguesa desembarcar no Brasil, nenhum livro podia ser impresso em solo brasileiro. Sendo assim, as ideias – principalmente entre religiosos e intelectuais – circulavam em manuscritos passados de mão em mão. Além disso, muitos autores enviavam às tipografias europeias para conseguirem imprimir seus trabalhos.
Entretanto, Antônio Isidoro da Fonseca desafiou as autoridades quando produziu “Relação da Entrada”. A obra foi impressa com a mensagem “com licença de sua excelência, o Bispo” ao invés da tradicional “com a necessária licença”.
Dessa forma, Fonseca tentou argumentar que o material não apresentava conteúdo contra “os bons costumes da época”, visto que o próprio Bispo autorizava a impressão. O livro relatava em 60 páginas a vinda de Frei Antônio de Desterro Malheyro para o Rio de Janeiro, então capital da colônia portuguesa no Brasil.
Ainda assim, a produção acabou sendo censurada e tendo sua circulação proibida pelas autoridades civis de Lisboa. Em seguida, a corte confiscou todos os equipamentos de impressão que estavam no Brasil e exigiram o retorno de Fonseca para Lisboa.
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Criação da Ordem Régia
Quando Fonseca chegou em Portugal, D. João V estabeleceu a Ordem Régia. O objetivo principal era o controle de informação nas colônias, pois assim evitavam a disseminação de ideias entre a população e a autonomia local.
Todos os meios de impressão que estavam no Brasil foram devolvidos para Portugal com a desculpa de que não havia vantagem para os impressores. Entre os argumentos usados pelas autoridades, alegavam que as demandas de Portugal eram maiores, portanto, não havia necessidade de desenvolver uma imprensa local.
Confira um trecho da Ordem Régia, emitida em 5 de julho de 1747:
Livros e papéis podem ser impressos aqui no reino e mandados para a colônia; e considerando, que a autorização para imprimir, quer da parte da Inquisição, quer da parte do meu Conselho Ultramarino, deve vir do reino, e esta autorização deve acompanhar todos os papéis impressos; sem a dita autorização é proibido imprimir ou vender qualquer trabalho; […] O não cumprimento desta ordem será punido, mandando o culpado para o meu reino comparecer perante o Conselho Ultramarino que promulgará a sentença de acordo com o crime cometido.
O retorno da tipografia ao Brasil com a Impressão Régia
As terras brasileiras voltaram a ter contato com impressões apenas em 1808, quando a corte portuguesa se estabeleceu de forma permanente no Rio de Janeiro.
Dessa forma, impressões de atos oficiais, decretos e documentos da colônia voltaram a ser necessários para a Família Real. Em 13 de maio de 1808, D. João VI assinou o decreto que criou a Impressão Régia, a primeira instituição oficial de impressão no Brasil.

Crédito: Acervo da Fundação da Biblioteca Nacional
Pela primeira vez, autores poderiam produzir localmente, sem depender do envio para Portugal. Entre as primeiras publicações da Régia estavam jornais oficiais, como a Gazeta do Rio de Janeiro, e o primeiro livro oficialmente autorizado: “Marília de Dirceu”, do jurista e poeta Tomás Antônio Gonzaga. Segundo o Arquivo Nacional:
Durante os anos de 1808 a 1821, cerca de mil títulos foram impressos, sem contar os atos governamentais. […] Além da documentação oficial, a Impressão Régia imprimiu uma grande variedade de obras sobre diversos assuntos, como jurisprudência, história, belas-letras (os elogios aos soberanos e os romances), teologia, ciências e artes, e periódicos. Houve, inclusive, a impressão de livros destinados aos cursos de medicina e aos da Academia Real Militar.
Onde está a obra “Relação de Entrada” atualmente?
Sendo considerada a pioneira da imprensa literária brasileira, a obra produzida por Antônio Isidoro da Fonseca ainda é objeto de estudo acadêmico. Por isso, as cópias físicas de “Relação de Entrada” estão armazenadas em bibliotecas de patrimônio nacional e em instituições de pesquisa sobre a história do livro.
Atualmente, é possível consultar a versão digitalizada completa na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, da Universidade de São Paulo (USP).
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Imagem de capa: Arquivo Nacional