“There’s always a joker, that’s the rule” (Sempre há um coringa, essa é a regra) The Joker – Lady Gaga
“Coringa: Delírio a Dois” (Joker: Folie à Deux) é a aguardada sequência do filme Coringa (2019). A produção é estrelada por Joaquin Phoenix. Nesta sequência Phoenix atua juntamente com Lady Gaga, que interpreta Harley Quinn/Arlequina.
O subtítulo em francês, Folie à Deux, significa “loucura a dois”. Essa expressão é um termo psiquiátrico, também conhecido como transtorno induzido e é um distúrbio mental raro caracterizado pela transferência de delírios de um sujeito considerado psicótico para um ou mais sujeitos considerados secundários em relação à origem do delírio. Nesse sentido, o filme aborda a relação de Coringa e Arlequina, sob uma visão um pouco diferente do que costumamente é mostrado.
A produção é uma mistura de drama psicológico, romance distorcido e música. A direção do filme é de Todd Phillips, mesmo diretor do primeiro filme. O roteiro é de Phillips e Scott Silver, embora Phoenix e Gaga tenham alterado algumas cenas no momento da gravação. Além dos protagonistas, alguns atores como Zazie Beetz e Leigh Gill retornam para a sequência.
Nesta crítica, evitei ao máximo de dar spoilers, de modo a não prejudicar a sua experiência ao assistir o filme.
A história de “Coringa: Delírio a Dois”
Após os acontecimentos de Coringa (2019), Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) está preso em Arkham à espera do julgamento por seus crimes como Coringa. Na prisão ele sofre diversas violências e humilhações, e mesmo assim se mantém na sua, tendo uma conduta positiva.
Enquanto ele se prepara junto com sua advogada para seu julgamento, ele acaba visualizando “Lee” (Lady Gaga), uma paciente internada na ala psiquiátrica de Arkham. Enquanto luta com sua dupla identidade, Arthur não apenas se depara com o amor verdadeiro, como encontra a música que sempre esteve dentro dele.
Um fato interessante é que tudo mostrado na divulgação indicava um filme bem diferente do que de fato é. Eles souberam esconder muito bem elementos importantes na produção, não entregando toda a história nos trailers e imagens liberadas.
Um filme de vilões com musical? Realmente funciona?
“Coringa: Delírio a Dois” é sim um filme musical. Mas estranhamente as músicas se encaixam bem na proposta do filme. Não é o caso que nem acontece nos musicais da Disney, por exemplo, que do nada a pessoa começa a cantar no meio dos outros e depois volta o filme como se estivesse tudo normal. É algo mais “real” movido a pensamentos e delírios.
Certamente você já começou a cantar uma música em algum momento complicado da sua vida, para sentir um conforto, ou até mesmo montou uma trilha sonora para o seu dia ser mais leve. A música está na vida de todas as pessoas e para muitos realmente é um diferencial para seguir a vida.
Nesse sentido, as músicas servem para expressar os sentimentos de Arthur e de Lee, e o filme consegue mostrar da melhor forma possível o que eles estão sentindo. Em suas cabeças acontecem apresentações em programas de TV, shows e espetáculos que na vida real são impossíveis de ocorrer na situação em que eles estão. Em suas mentes tudo pode acontecer, e, com isso, seus sentimentos mais profundos, como medo, dor, insegurança, desconfiança e amor ganham vida.
E diferente do que parece, o filme possui cenas violentas sim. Não é algo bobinho como muitos podem imaginar por ser um “musical”.
Roteiro um pouco perdido, mas com uma fotografia maravilhosa
É lógico que nem tudo são flores em “Coringa: Delírio a Dois”. O filme em certos momentos parece arrastado, construindo certas coisas que são totalmente descartadas em sua conclusão. Algumas coisas são incluídas no filme apenas para forçar que ele acontece no Universo DC, dentro do mundo do Batman. Mas é apenas um fã service. Nada realmente relevante dentro do universo DC.
Algumas partes não possuem sentido, exemplo disso é uma prisão Arkham que não é tão segura assim. Ou então um personagem conseguir andar livremente dentro de uma prisão, inclusive visitar o preso dentro de uma “solitária”. Não estamos falando de uma prisão de cidade do interior. Mas sim uma prisão de uma cidade grande, onde a violência é enorme.
A produção tenta explicar de forma bem fraca a questão de existir o Coringa antes do Batman, mas é bem no final do filme e precisa de prestar bastante a atenção pois a cena é rápida e um pouco desfocada. De toda forma, uma das músicas apresentadas dá uma dica sobre isso também.
Em relação à fotografia do filme, realmente ela está muito boa. O contraste entre a prisão e os delírios bem coloridos são fantásticos. Os jogos de luzes e a forma como as cenas foram captadas conseguem trazer essa dualidade de forma sensacional. O filme foi gravado para ser exibido em IMAX. Isso contribuiu em muito para que a experiência fosse mais agradável. A trilha sonora também contribui em muito para a atmosfera do filme.
E sobre o elenco? Lady Gaga “salvou o filme”?
Lady Gaga certamente é um ponto importante na produção. Acredito que se fosse qualquer outra atriz não traria um bom resultado para o filme. Ela entrega uma personagem complexa, obcessivamente apaixonada e ao mesmo tempo manipuladora.
Gaga traz uma visão nova de Arlequina e que é essencial para o desfecho do filme. Desfecho esse bastante imprevisível, o que pode desagradar muitas pessoas. Recomendo ouvir o novo CD da Lady Gaga, “Harlequin” lançado um pouco antes de “Coringa: Delírio a Dois”. Todas as músicas desse CD tocam no filme, ou ao menos a parte instrumental está presente. Pelo menos pra mim, contribuiu em muito na hora de assistir ao filme.
Joaquim Phoenix consegue dar uma continuidade boa para o seu personagem, mostrando mais da sua fragilidade e seu desejo de vingança contra a sociedade. Entretanto, na minha opinião, seu personagem só dá certo neste filme por causa de Arlequina.
Em relação aos outros atores, todos entregaram boas atuações.
Vale a pena assistir “Coringa: Delírio a Dois”?
Embora o filme tenha críticas positivas e negativas, ainda mais por causa de ser um musical, “Coringa: Delírio a Dois” é um filme interessante e que merece ser visto nos cinemas, de preferência em IMAX.
Sei que é estranho pensar em um filme musical sobre o maior vilão do Batman (por mais que essa versão não esteja relacionada a ele) mas precisamos de ter a mente aberta para poder apreciar o filme, ainda mais considerando as críticas sociais e o as questões psicológicas que o filme aborda.
Dessa forma, “Coringa: Delírio a Dois” aprofunda um pouco mais no psicológico do Coringa, mostrando que até um vilão pode ser fraco e propício às manipulações do amor.
E o filme não tem cena pós-crédito!
Por fim, “Coringa: Delírio a Dois” está em cartaz nos cinemas.
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