Novo longa russo tem muito potencial, porém, roteiro não sabe aproveitá-lo

Baseando-se em uma trágica história real, A Única Sobrevivente é um filme russo do diretor Dmitriy Suvorov. Com 1h48min, o longa não perde tempo e abraça emotivamente os tensos e vertiginosos desafios pela sobrevivência humana diante a um desastre inesperado. Contudo, a busca em retratar a sobrevivência pode não tão simples, e coloca em risco uma produção com tanto potencial. Assim, resta perguntar: será que o filme russo é bom?

Antes de responder a essa pergunta, vale lembrar que A Única Sobrevivente conta com Nadezhda Kaleganova dando a vida a protagonista Larissa. O longa de 2022 gira em torno de uma passageira que sobreviveu a um acidente entre um avião comercial e um bombardeiro soviético. Ao acordar sozinha no meio da floresta, ela precisa encontrar um milagre. Confira o trailer logo abaixo:

Prometendo muita tensão e drama, diretamente da terra da Mamãe Russia, será que o longa realmente consegue captar a emocionante e trágica história real? Ou melhor, será que A Única Sobrevivente é bom?

Sobrevivendo a adaptação de uma história real

O cinema russo é famoso por criar grandes histórias dramáticas e tensas. Tensões essas bem características, sendo sentidas nas próprias cenas, criando um clima perfeito para deixar o telespectador no mínimo curioso.

Em A Única Sobrevivente, isso não é diferente: o longa consegue pegar uma intensa história baseada em uma tragédia e alimentá-la com uma carga emotiva ainda mais pesada e angustiante. Entretanto, é necessário saber alimentar uma história e suas emoções. Às vezes, como já diria Henrique Fogaça, “menos é mais”: Dessa forma, é necessário ter um foco sobre o que você quer abordar.

Bom, resumida e estruturalmente falando, a trama em si se divide em núcleos, os quais ocorrem em paralelo, por meio de uma narrativa não-linear, tensa e intrigante. Ainda, essa construção se dá em núcleos – um focado na história da protagonista de Kalenganova, e outra nos bastidores da URSS, onde há a crítica política ao antigo governo soviético.

Os desafios pela sobrevivência

a unica sobrevivente Nadezhda Kaleganova
Imagem: Nadezhda Kaleganova como Larissa no filme A Única Sobrevivente / Crédito: Reprodução

A Única Sobrevivente já teria um desafio por si só ao tentar adaptar a história trágica de Larissa e como ela sobreviveu não somente a um acidente de avião, como também precisou sobreviver escondida na floresta do governo soviético que tentou encobrir o caso. Uma história que por si só já carrega um grande fardo e desafio.

Ao mesmo tempo, Dmitriy Suvorov cria um novo desafio e decide expor os bastidores do governo URSS e como foi a luta deste lado para que fosse acobertado o “acidente” – isso é, o avião foi derrubado pelo próprio governo. Dessa forma, há um novo desafio, agora, político que precisa ser descrito com certa atenção, afinal, estamos falando da minuciosidade de um fato ocorrido.

Em outras palavras, há a construção da história principal e do seu contexto sócio histórico. É uma abordagem narrativa que não é ruim, mas que necessita de planejamento e cuidado para a história não se perder. Um cuidado que, aparentemente, não se teve.

Sobrevivendo ao tropeço

A trama tem momentos interessantes, construções e diálogos fortes e excelentes. Além disso, se destaca também a forma envolvente que a mesma constrói a sua ambientação e clima, um acerto que se deve graças a trilha sonora e a fotografia que consegue enaltecer as emoções do longa.

Contudo, de nada adianta os acertos se a elaboração do todo não se sustenta, ou melhor, se a narrativa não tem os alicerces para aproveitar as potencialidades dramáticas.

Em A Única Sobrevivente, mesmo com todos os acertos, a direção e o roteiro não consegue equilibrar o desenvolvimento da trama, tornando-a superficial, com uma protagonista rasa e sem traços de personalidade, senão a de “ser sobrevivente“. Isso é, uma vez que não há espaços para Nadezhda Kaleganova desenvolver outras facetas da personagem, apenas da mesma em seu sofrimento angustiante.

Aliás, para não dizer que não há espaços para a elaboração da protagonista, o longa apresenta um monte de cenas curtas com apenas músicas, tal qual um videoclipe da MTV – daqueles bem superficiais e esquecíveis, sabe?

a única sobrevivente filme
Imagem: Nadezhda Kaleganova como Larissa no filme A Única Sobrevivente / Crédito: Reprodução

Logo, a estratégia narrativa de contar tantos núcleos diferentes e que não se dialogam diretamente é ousada, porém, não tão bem produzido. Seria uma estratégia interessante desde que houvesse o tal foco que falamos antes: menos é mais, não é mesmo? E é nessa tentativa de denunciar o cenário político, e abordar o drama angustiante da sobrevivência, que a história tropeça no raso e torna-se confusa e beirando o desinteressante.

Afinal, vale a pena assistir A Única Sobrevivente?

Com 108min de duração, A Única Sobrevivente apresenta muito potencial dramático, com uma história de sobrevivência trágica real e angustiante. Contudo, a prática não consegue retratar a ideia, criando um segundo acidente para essa história: o do roteiro.

Podemos dizer que A Única Sobrevivente dessa história é realmente a única a se safar. Há uma história que não sabe por onde caminhar em meio a uma floresta de potencialidades gritantes, porém, são usadas ou com superficialidades, ou de forma pouco proveitosa. Isso é, a trama sobrevive, mas não chega inteira ao final, se encerrando como uma trama rasa e cheia de furos.

Por fim, se você busca por algum longa que elabore um clima intenso e angustiante, A Única Sobrevivente é uma boa pedida. Agora, se você quer longas com temáticas de sobrevivência, pode ser interessante de se assistir para alguns, mas podem haver outros melhores.

Você pode assistir A Única Sobrevivente no streaming Adrenalina Pura+.