Escrito, dirigido e estrelado por Jesse Eisenberg, A Verdadeira Dor (A Real Pain) chega aos cinemas brasileiros como mais um forte título da temporada de premiações. A história acompanha David (Jesse Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin), dois primos que se unem em uma viagem para a Polônia para conhecer as raízes de sua avó, que sobreviveu ao Holocausto, alguns meses após a sua morte.
O que parece ser uma sinopse de filme de drama, na verdade, se transforma em uma comédia devido às personalidades conflitantes da dupla de protagonistas. Enquanto David tem uma vida estável com sua esposa, filho e trabalho bem-sucedido, Benji ainda vive no porão de sua mãe, é desempregado e utiliza do humor para lidar com os seus traumas, como a perda da avó, de quem era muito próximo.
A Verdadeira Dor é o tipo de filme que simplesmente não funcionaria se não fosse pela escolha perfeita dos protagonistas – especialmente Kieran Culkin, que entrega uma performance à la Roman Roy, mas ainda mais profunda. Por trás de todo o seu carisma, deboche e falta de filtro, Benji se revela um poço de traumas e angústias ao longo de momentos definitivos para o roteiro, em uma das interpretações favoritas ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e vencedora do Globo de Ouro.
Por outro lado, Eisenberg dá vida a um personagem muito mais contido, que inveja e tem pena de Benji em igual medida. David é ansioso, introvertido, sempre tenso ou preocupado com alguma coisa. Apesar do roteiro inegavelmente abrir mais espaço para Culkin brilhar, é Eisenberg que protagoniza um dos momentos mais marcantes do longa, em um monólogo onde o espectador finalmente entende o real motivo da tensão entre os primos através de um catártico desabafo com desconhecidos na mesa do jantar.
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A Polônia, além de um belíssimo pano de fundo que proporciona uma fotografia marcante e característica para a trama, também atua como um elemento-chave para a história, que desenvolve os personagens através da memória – seja da infância com a sua avó ou de suas raízes judaicas. Com isso, a direção e roteiro de Eisenberg conseguem atingir um equilíbrio delicado entre a comédia e um tema sensível como o Holocausto.
Cercados por um grupo excêntrico liderado pelo guia britânico James (Will Sharpe) e que inclui uma mulher divorciada, um ruandês convertido ao judaísmo e um casal de idosos, David e Benji transitam por diálogos hilários, situações inacreditáveis e mudanças de humor repentinas, que vão de invasões ao terraço de prédios para fumar maconha contrabandeada até explosões de raiva e indignação de Benji ao se deparar com a triste realidade histórica dos locais que eles visitavam.
Para além disso, A Verdadeira Dor é um filme que explora a questão de amizades masculinas, vulnerabilidade e traumas por meio de suas sutilezas e não-obviedades. Não fossem as interpretações marcantes dos protagonistas, a proposta certamente não funcionaria tão bem, mas Jesse Eisenberg conseguiu entregar um excelente conjunto da obra em seu segundo projeto como diretor.
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