Diante os olhos do tempo, o que somos e o que nos move? O que seria da vida sem os laços que nos moldam e nos acompanham? Afinal, do que é feito o tempo, senão uma sequência de eventos vividos e construídos por nós e nossos amigos? Em Amizade, o diretor Cao Guimarães celebra e desafia o fluxo da vida rumo a morte, ao apresentar a loucura que é essa coisa chamada “amizade” e quão forte e profundo são estes laços. Uma relação que pode ir muito além da vida, da morte e do tempo, sobrevivendo e reverberando na memória.

Em Amizade, novo documentário da Embaúba Filmes, o cineasta brasileiro Cao Guimarães revisita lembranças gravadas em vídeo que representam a longa amizade que construiu em sua vida. Ao longo de 30 anos, Cao Guimarães documentou momentos íntimos e espontâneos de sua amizade com diversos artistas. Um mosaico de registros variados, capturados em formatos distintos, com fragmentos de vida que, em sua simplicidade, revelam a beleza das pequenas coisas do cotidiano.

Laços que desafiam o tempo:

Com fragmentos de vídeos pessoais e de outras obras de Cao Guimarães, Amizade é um documentário que traz a narrativa do próprio cineasta mineiro guiando a reflexão sobre como as relações pessoais e fraternais ecoam ao longo da vida. Dessa forma, o documentário conta com uma narrativa singular, poética e filosófica, ao mesmo tempo, linear e simples, visando guiar o desenvolvimento da ideia em si.

Além disso, a narrativa do longa segue com pensamentos que desenvolvem o tempo em sua própria cronologia. Isso é, são 30 anos que ganham vida na tela através das lentes do cineasta. São 30 anos de vida, de amizade e de história do Brasil e do mundo, tornando a experiência única.

Dessa forma, o público é convidado a revisitar alguns dos grandes acontecimentos das 3 últimas décadas, de forma cronológica, como mudanças de governo, de ideias, avanços tecnológicos, até mesmo a recente pandemia do Coronavírus. Tudo isso, sob o olhar singelo do cineasta mineiro, enquanto o mesmo reflete sobre o passar do tempo. É como se o longa fosse um convite para o telespectador se sentar a uma roda de amigos e, assim, conhecer as histórias íntimas deste grupo ao longo dos anos.

Portanto, é através dos olhos do diretor que o público tem a oportunidade de viver e reviver décadas de história, mas sem deixar de viver e até de se relacionar com a fraternidade que se conversa com uma química tão bem humorada e emocionante. É diante a tais lentes que o telespectador se encontrará com questões referentes a vulnerabilidade da vida e como os laços atuais podem se eternizar diante as lembranças.

Uma breve reflexão: seria o tempo inimigo da amizade?

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Imagem: Reprodução

Com uma narrativa simples, mas poética e reflexiva, Cao Guimarães acerta no peso da mão ao discutir as temáticas do longa. É uma linguagem acolhedora e calorosa, ao mesmo tempo, com um tom brevemente melancólico criado pela saudade. Afinal, o tempo é um fator que nos move e nos transforma. Logo, as relações também são afetadas pelo mesmo.

Os encontros diários, tornam-se semanais, mensais e eventuais. O tempo é uma entidade, uma força motriz imparável e que não perdoa em seus passos. Passos que nos obrigam a caminhar junto, atingindo diretamente o ritmo de nossas vidas.

Dito isso, Amizade nos proporciona a reflexão do quão profundo as relações afetuosas e fraternais desafiam o ritmo desta entidade. Os laços verdadeiros irão desafiar essa caminhada, imortalizando pelas lembranças e legados que tanto nos fazem sorrir ou chorar.

Assim, a amizade desafia as forças do tempo e da morte, sobrevivendo em forma de um legado conhecido como lembranças.

Vale a pena assistir? Afinal, Amizade é bom?

Imagem: Reprodução

Com uma narrativa poética e filosófica, o longa Amizade argumenta sobre a vulnerabilidade das relações humanas diante aos eventos da vida. De forma simples e cronológica, Cao Guimarães abre espaço para discutir sobre a história humana das últimas três décadas sob o seu próprio olhar e o convívio de suas amizades.

Assim, fica claro a reflexão emocionante de como alguns fenômenos de nossas vidas ecoam para além do tempo em si, respirando e se transformando no decorrer do fluxo da vida. Aqui, a amizade é o protagonista que vive, cresce e se desenvolve, seguindo o caminho a imortalidade. Uma jornada emocionante com seus altos e baixos, com tons ora alegres, ora mais melancólicos.

Por fim, Amizade é um filme que vale a pena ser assistido. Uma história real que ensina a mais pura realidade sobre os laços afetivos e como estes – os verdadeiros, pelo menos – respiram diante a vida e a morte. O documentário estreia nesta quinta-feira (13) nos cinemas.