Com boas atuações e direção sensível, o filme se destaca pela estética, mas sofre com um roteiro irregular
“Amor, Doce Confusão” é a síntese do romance na modernidade brasileira – de relacionamentos à distância, à afastamento emocional, desgaste das relações e infidelidades. Assim, o primeiro longa do diretor e coautor Toti Loureiro se configura como uma drama que flerta com a comédia, mas não assume de fato seu próprio lugar na ordem das coisas.
O filme traz uma história muito conhecida, e que já foi contada de diversas maneiras. Três histórias de amor em que, em cada uma, um casal de jovens lida com os obstáculos que um relacionamento moderno desperta. Mas, através de sua brasilidade e a falta de receio em ser extremamente atual, o longa se encontra em um meio termo interessante.
Com performances fortes e direção dedicada, “Amor, Doce Confusão” oferece um compromisso interessante com seu senso de estética. Assim, a edição da fotografia em preto e branco e os planos mais aproximados de grande parte dos takes auxiliam no contar dessa história. No entanto, o roteiro esvazia de certa maneira esses feitos e faz com que o longa deixe a desejar.
A importância do gênero no cinema brasileiro
Apesar dos tropeços, “Amor, Doce Confusão” cumpre um papel importante no cenário cinematográfico brasileiro. Compreendido como um comédia romântica – que infelizmente se esquece do elemento cômico ao longo do filme –, o longa adiciona elementos brasileiros a um estilo da sétima arte que sempre foi popular em outros países.
Com referências à políticos brasileiros, população ribeirinha e autores nacionais redescobertos pelos jovens contemporâneos, o filme inclui o Brasil atual em um campo acessível para os amantes da comédia romântica.
Outro elemento que engrandece essa dinâmica é o diálogo fluído entre os personagens. De certo modo, as performances naturais e honestas da maior parte do elenco superam um roteiro que parece um pouco enferrujado.
Merecem destaque no elenco os atores Louise D’Tuani, Bruna Mascarenhas, Bella Camero e Danilo Grangheia.
Entre erros e acertos de uma estreia
A grande questão que atrapalha o desenvolvimento de “Amor, Doce Confusão” é a discrepância entre os primeiros dois atos que dividem o filme e o terceiro.
No primeiro ato, o longa acompanha o recém solteiro Pepe que tenta lidar com a ausência física e emocional de sua ex-namorada, Lena, sem conseguir escapar da presença dos pais de sua amada. Com tiradas muito inteligentes e um diálogo natural entre o protagonista da história e os dois parentes, o filme começa com o pé direito e se sobressai quando não se leva a sério.
Já na segunda história, o longa começa a se voltar para o tom dramático, mas que ainda conversa bem com a proposta inicial. Nele, um casal lésbico lida, a partir de um término de dois amigos próximos, com os obstáculos do próprio relacionamento.
A edição se destaca aqui por mesclar cenas do cenário atual conturbado e do início esperançoso de um relacionamento que não sustenta as pressões da vida adulta.
Porém, é no terceiro ato confuso e ambicioso demais para o seu próprio bem que “Amor, Doce Confusão” se perde. A narrativa tenta equilibrar um desgaste emocional de um relacionamento de oito anos com um assédio sexual, infidelidade e ainda tenta encaixar um roubo com certo tom de suspense na história.
Essa terceira seção busca expandir o universo criado por Loureiro em um espaço-tempo limitado, de menos de duas horas. Nos seus momentos finais, o longa se lembra de resgatar aquela abordagem cômica que funciona tão bem no início, mas a mistura de subgêneros deixa um gosto agridoce na boca do espectador.
Vale a pena assistir?
Sim. Suas falhas são consideráveis, mas compreensíveis. Para um filme de estreia, Toti Loureiro dá voz a ideias interessantes e necessárias para o cinema nacional.
”Amor, Doce Confusão” está em exibição no Festival do Rio 2025. Assim, o filme fica em cartaz no dia 07/10, no Cine Santa Teresa, e no dia 08/10, no CineCarioca José Wilker.
Imagem da capa crédito: Festival do Rio
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