Celine Song entrega mais um drama romântico contemplativo sobre o amor em tempos de capitalismo emocional

O amor no século XXI tem preço, prazo e, muitas vezes, um perfil no aplicativo certo. É com esse olhar provocador que Amores Materialistas (Materialists), novo longa de Celine Song (Vidas Passadas), chega aos cinemas brasileiros em 31 de julho de 2025. Estrelado por Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans, o filme aborda a forma como os relacionamentos amorosos vêm sendo moldados por interesses financeiros, aparências sociais e desejos planejados, embalando tudo em uma narrativa que mistura romance, crítica social e um leve toque de melancolia contemporânea.

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Amores Materialistas (2025) Poster | Pedro Pascal, Chris Evans, e Dakota Johnson | Foto: IMDB

Um triângulo amoroso, mas também ideológico

A trama gira em torno de Lucy (Dakota Johnson), uma casamenteira de elite em Nova York que organiza encontros perfeitos entre pessoas imperfeitas. Ao lado de planilhas emocionais, salários, exigências estéticas e roteiros de compatibilidade, ela gerencia vidas amorosas alheias enquanto enfrenta seus próprios dilemas afetivos. Tudo muda quando ela reencontra John (Chris Evans), um ex-namorado ator e garçom, ao mesmo tempo, em que se aproxima de Harry (Pedro Pascal), um milionário que representa estabilidade e sucesso.

Ao explorar esse triângulo, o filme não entrega apenas uma disputa amorosa tradicional. Em vez disso, Celine Song constrói uma metáfora sobre as tensões entre três versões do amor: a paixão idealizada, o contrato racional e a fuga emocional. Não há vilões ou heróis – apenas pessoas tentando sobreviver às exigências de uma sociedade onde o afeto também virou moeda de troca.

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Amores Materialistas (2025) | Dakota Johnson e Pedro Pascal Cena do Filme | Foto: IMDB

Direção precisa e atuação contida

Assim como em (Vidas Passadas), Celine Song mantém a câmera atenta e sutil. Seus planos fixos e o ritmo naturalista da montagem colocam o espectador dentro da rotina urbana de Nova York. Nada é super produzido – o realismo está nos detalhes, nos gestos contidos e nos silêncios significativos. Os diálogos são secos, curtos, mas carregados de subtexto, deixando espaço para o espectador preencher com suas próprias interpretações.

O trio principal se destaca justamente pela simplicidade. Dakota Johnson entrega uma de suas atuações mais refinadas ao compor uma personagem que transita entre o controle profissional e a vulnerabilidade íntima. Pascal e Evans também surpreendem: enquanto Harry encarna o parceiro ideal sob o olhar do mercado, John representa a paixão crua e imperfeita que ainda resiste.

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Amores Materialistas (2025) |Chris Evans, Dakota Johnson, e Celine Song |Foto por: Atsushi Nishijima-Atsushi Nishijima | Adore Matchmaking LLC

Amor sob a ótica do capitalismo

O grande mérito de Amores Materialistas está na forma como o roteiro transforma um enredo aparentemente comum em uma crítica ácida à lógica das relações atuais. O filme não se limita a contar uma história de amor — ele questiona as bases do próprio conceito. O quanto das nossas escolhas afetivas são, de fato, livres? O quanto buscamos segurança financeira antes de conexão emocional? E será que isso é mesmo errado?

Lucy se vê presa entre essas reflexões, e o espectador também. O longa provoca sem julgar. Em tempos em que o amor virou conteúdo, o filme questiona: estamos vivendo romances ou apenas encenando expectativas?

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Amores Materialistas (2025) | Dakota Johnson e Chris Evans Cena do Filme | Foto: IMDB

Vale a pena assistir?

Amores Materialistas pode enganar à primeira vista com seu pôster e tom de comédia romântica. Mas o que Celine Song entrega é um drama contemporâneo sobre o amor moldado pelas exigências da vida adulta. É um filme para pensar, sentir e, acima de tudo, reconhecer o absurdo do nosso tempo. Um retrato melancólico e realista de como o afeto se tornou mais um campo de negociação no mundo moderno. Para quem gostou da sensibilidade de Vidas Passadas, aqui está uma nova dose — agora mais ácida, mais direta, mas ainda profundamente humana.

Disponível nos cinemas a partir de 31 de julho de 2025.