Brick transforma uma premissa simples em um suspense angustiante, ainda que tropece ao desenvolver personagens e concluir algumas de suas tramas

Quando a Netflix divulga um thriller claustrofóbico como Brick, a expectativa gira em torno de como um conceito simples, moradores de um prédio subitamente cercado por um muro de tijolos, pode se transformar em entretenimento genuinamente tenso.

Sob a direção de Philip Koch, o filme busca justamente isso: extrair drama e paranoia de um espaço restrito, explorando a dinâmica humana quando o mundo lá fora deixa de existir.

Matthias Schweighöfer e Ruby O. Fee em Brick
Brick coloca seus personagens (e o público) em uma trama claustrofóbica e inquietante | Foto: Netflix/Divulgação

Como direção e fotografia sustentam a tensão em Brick

Logo nas primeiras cenas, somos apresentados a Tim (Matthias Schweighöfer) e Olivia (Ruby O. Fee), um casal comum que acorda para descobrir que não consegue mais enxergar a paisagem urbana, em seu lugar, erguem-se fileiras de tijolos.

Sem água, sem sinal de celular e sem rotas de fuga, eles percebem que não estão sozinhos: vizinhos começam a se agrupar, cada um reagindo de um jeito.

A direção de Koch é cuidadosa ao alternar planos mais abertos, mostrando o muro opressor, e closes nos rostos aflitos, garantindo que o espectador sinta a angústia da plateia.

A fotografia de Brick é um dos pilares mais eficazes para criar o clima de claustrofobia e tensão que define o filme. Sob a direção de Alexander Fischerkoesen, o visual é cuidadosamente desenhado para reforçar a sensação de confinamento.

Cada corredor parece mais estreito, cada ambiente mais sufocante, enquanto as cores surgem pontualmente para intensificar o desconforto. A câmera transforma o prédio e o muro em personagens silenciosos e opressores, cuja presença se impõe em cada cena.

O filme nos deixa tensos do início ao fim
Os enquadramentos apertados de Brick intensificam o clima claustrofóbico | Foto: Netflix/Divulgação

Brick aposta no essencial, mas falha ao explorar seu elenco secundário

No roteiro, porém, a eficácia se mistura a falhas de profundidade. A premissa rende reviravoltas instigantes e discussões sobre responsabilidade coletiva, mas algumas subtramas ficam à deriva.

Certos vizinhos, que poderiam representar arquétipos sociais, o mais frágil, o dominante, o cético, surgem apenas o suficiente para criar tensão e depois desaparecem, sem que o espectador entenda sua motivação ou destino.

Essa escolha de concentrar o drama no núcleo principal (Tim, Olivia e um punhado de coadjuvantes) mantém o ritmo, mas também gera perguntas não respondidas.

O elenco, de modo geral, sustenta a narrativa com solidez. Schweighöfer e Fee têm química real: ele, mais impetuoso; ela, mais analítica. Juntos, funcionam como o ponto de equilíbrio entre impulsos de fuga e tentativas racionais de solução.

Entre os atores de apoio, nomes como Frederick Lau e Salber Lee Williams conseguem transmitir desespero e raiva com breves intervenções, ainda que a falta de espaço para desenvolver seus personagens limite o impacto de suas atuações.

Roteiro instiga, mas deixa arestas soltas

Brick merece destaque especialmente pela maneira como trabalha o tema do isolamento, indo além do roteiro e do elenco. Em um mundo cada vez mais conectado, ver pessoas comuns privadas de qualquer contato com o exterior ressoa de maneira quase traumática.

As conversas em apartamentos vazios, as luzes de celular que piscam em busca de sinal e o som abafado de passos pelo piso frio criam uma experiência imersiva, a ponto de o espectador se sentir ele próprio enclausurado junto dos personagens.

Essa construção de tensão atinge seu ápice quando as motivações por trás do muro começam a surgir. Sem entregar spoilers, é justo dizer que as explicações têm potencial, misturam elementos de ficção científica com críticas sociais.

Contudo, o filme opta por um final que, embora coerente, nos deixa com mais perguntas do que oferece respostas definitivas.

Matthias Schweighöfer no filme
A direção de Philip Koch captura o desespero e a luta pela sobrevivência | Foto: Netflix/Divulgação

Vale a pena assistir?

Se você procura um thriller psicológico que se apoie em atmosfera e tensão, Brick merece atenção. A direção firme de Philip Koch, aliada à fotografia claustrofóbica e às atuações convincentes de Schweighöfer e Fee, mantém o olhar preso à tela.

No entanto, quem espera um desfecho redondo ou uma análise profunda de todos os personagens pode se sentir frustrado.

Em resumo, Brick é um exercício de suspense eficiente: prende o público com o medo do desconhecido e a incerteza sobre a natureza do muro.

Mesmo sem resolver todas as pontas, ele cumpre o objetivo de proporcionar um entretenimento tenso e instigante, ideal para aqueles que gostam de questionar, mesmo após os créditos finais.

Imagem de capa: Netflix/Divulgação