Chama a Bebel é um filme infantil estrelado por Guilia Benite (Turma da Mônicaː Lições) com direção e roteiro de Paulo Nascimento pela Accorde Filmes. A trama acompanha a valente garota Bebel, de 15 anos, que se muda para continuar os estudos em uma cidade maior. Então, ela precisa lidar com um grupo de patricinhas inconvenientes e uma tia rígida, além de defender a sustentabilidade e lidar com o preconceito por ser uma pessoa com deficiência.

A valente adolescente Bebel em uma nova fase da vida

Chama a Bebel acompanha a vida de Maria Isabel, a Bebel (Guilia Benite), criada por uma mãe solo (Larissa Maciel) e pelo avô em uma cidade de interior. Infelizmente, a escola em que a garota estuda não tem todas as séries escolares e ela precisa se mudar para dar continuidade nos estudos. Para isso, sua mãe entra em contato com sua irmã Marieta (Flávia Garrafa) para que ela possa hospedar a garota durante o período letivo.

Na nova cidade, a animada e curiosa Bebel se depara com uma tia que a descredibiliza em uma casa não tão acessível para sua cadeira de rodas. Ela mal se adapta na nova casa e já se vê em maus lençois na nova escola: de acesso via escadas, a escola tem um grupo de garotas populares que dominam tudo – a la Mean Girls. Felizmente, ela se encontra no grupo de amigos de pessoas que não têm amigos – formado pelo Zico (Gustavo Coelho) e Beto (Antônio Zeni), que coincidentemente é seu primo.

Antônio Zeni e Giulia Benite em Chama a Bebel, conversando em escada - menino sentado na escada e menina sentada na cadeira de rodas
Antônio Zeni e Giulia Benite em Chama a Bebel. | Reprodução: Accorde Filmes

Então, a Bebel se vê com saudades de casa e com um desafio: montar um projeto que deixe a cidade mais sustentável. Para isso, Bebel se junta ao seu trio para bolar o melhor plano possível, inspirado na atividade de Greta Thumberg, ativista ambiental sueca. Além disso, nesse contexto, a garota se envolve em uma investigação que pretende denunciar uma conduta antiética no laboratório da cidade.

Termômetro desregulado no antagonismo

A paz de Bebel já é tirada nos primeiros segundos na nova casa e na nova escola. O antagonismo de Chama a Bebel foi dividido entre a Tia Marieta e a Roxane (Sofia Cordeiro), colega de classe da protagonista e líder do grupinho popular da escola. Além disso, outro vilão é o laboratório de cosméticos da cidade que faz testes em animais — laboratório este que Bebel e seus amigos querem combater em nome da sustentabilidade e da vida no planeta.

Se o propósito do vilanismo foi fazer o espectador sentir raiva das vilãs, ele conseguiu. No entanto, as antagonistas foram tão antagonistas, com tanto tempo de tela, que ofuscaram totalmente a mocinha. Não deu nem tempo de criar afeto por Bebel para defendê-la nos pensamentos. Ainda, o antagonismo foi tão instantâneo que a construção das personagens foi inexistente – a Roxane se tornou apenas uma garota metida e influente que tem raiva de Bebel por sua perda de popularidade, enquanto a Tia Marieta se tornou uma mulher esnobe que não dá ouvidos ao que não lhe é de interesse próprio. De qualquer forma, mesmo com essas características generalistas, as duas dominaram tanto a narrativa que a trama se tornou desconfortável, de maneira não interessante.

Roxane em Chama a Bebel
Grupo de vilões da escola com liderança de Roxane. | Reprodução: Accorde Filmes

Ademais, uma característica que pecou muito no desenvolvimento do filme foi a atuação e dicção do elenco pouco experiente. Muitas das cenas precisam de atenção extrema para serem compreendidas, uma vez que os atores falam “para dentro” e muito rápido.

Problemática PCD

O roteiro do filme foca na experiência de Bebel, uma garota PCD que nunca se viu fora de uma cadeira de rodas. No entanto, na primeira cena da trama a personagem se imagina vivendo uma vida sem a mobilidade reduzida, dizendo que “poderia fazer muito mais do que já faz” e que a “vida seria muito mais fácil”. Só que a cena é simplesmente a mesma atriz girando em pé e feliz.

Como a personagem teve seu desenvolvimento como alguém que sempre se locomoveu por cadeira de rodas, não havia necessidade de mostrá-la nesse movimento. Apesar de ter uma ideia de inclusão, tanto essa cena quanto uma atriz que não é portadora de nenhuma deficiência poderiam ser evitadas. Pelo menos a produção incluiu um personagem PCD que de fato é PCD – o professor Denis, protagonizado pelo Rafael Muller.

Giulia Benote como Bebel em Chama a Bebel
Giulia Benote como Bebel em Chama a Bebel. | Reprodução: Accorde Filmes

Entretanto, a personalidade da personagem de Benite surpreendeu no quesito representatividade: uma pessoa com deficiência que não abaixa a cabeça para o capacitismo disseminado pela valentona da classe. Bebel é uma adolescente independente que consegue realizar tudo o que quer, independentemente de estar em cima de uma cadeira de rodas ou não. E isso é uma moral da história muito necessária para o entendimento público de que as pessoas PCD são sim capazes, sem nenhum nível de incapacidade pelo físico diferente.

Sustentabilidade como pretexto

Apesar das negativas do roteiro, a sustentabilidade é um contexto interessante para a construção da história. É válido lembrar que o filme tem o público infantil como seu público alvo, então a introdução desse assunto para a faixa etária é urgente e, pelo longa, bem realizada.

Vale a pena assistir Chama a Bebel?

Caso você queira usá-lo como pretexto de ensinamento para as crianças sobre o anticapacitismo e sustentabilidade, Chama a Bebel é o ideal para você. No entanto, se sua intenção ao assistir ao filme for encontrar um roteiro e elenco cativantes, o filme não é ideal.

Por fim, Chama a Bebel terá seu lançamento nos cinemas brasileiros em 11 de janeiro de 2024.

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