Um mergulho bonito e inquietante no terror psicológico, que prefere deixar perguntas ecoando em vez de respostas fáceis
Há filmes que te assustam com monstros. Delírio, da diretora Alexandra Latishev Salazar, prefere te assustar com aquilo que você não consegue ver e nem tem certeza se está lá. Salazar também assina o roteiro do filme. Já elenco é composto por Liliana Biamonte, Helena Calderón, Anabelle Ulloa, Grettel Méndez, Leynar Gómez e Alexei Calderón.
A produção costa-riquenha-chilena acompanha Masha, uma garota de 11 anos que se muda com a mãe, Elisa, para a casa da avó, uma idosa em estado avançado de demência. A família age como se o pai de Masha estivesse morto, o que a menina nega. Elisa começa a sentir a presença ameaçadora pela casa e passa a isolar a filha do mundo exterior para protegê-la. Entretanto, essa nova morada guarda algo além da doença e do silêncio: um segredo familiar que vai dissolvendo as fronteiras entre o real e o imaginário.

O terror do cotidiano que flerta entre o real e o delírio
Delírio não quer ser o típico filme de sustos fáceis. A diretora aposta no terror psicológico, aquele que se infiltra devagar, deixando pistas nos detalhes e pelo olhar perdido de quem tenta manter a sanidade. Cada canto da casa parece pulsar com memórias reprimidas, e a presença da avó, entre lapsos de lucidez e delírios, dá o tom de um horror mais humano do que sobrenatural.
E diante disso, o roteiro vai brincando com a dúvida. O que Masha vê é real? O que a mãe esconde? E, afinal, o que realmente aconteceu com o pai ausente? O filme se sustenta nessa ambiguidade, uma estratégia arriscada que não se sustenta. O problema é que Delírio constrói uma tensão poderosa, mas nem sempre sabe o que fazer com ela. Há momentos em que o mistério se estende demais e fica presa em um labirinto, sem desenvolver ou trazer respostas. A sensação é de que estamos tendo um delírio ao ver o filme.
Ainda assim, a escolha de mostrar o terror pelos olhos de uma criança funciona. As atrizes entregam boas atuações. A inocência de Masha, confrontada com o colapso emocional da mãe e a deterioração da avó é quase que divino, elas formam a trindade feminina. Além disso, representa um ciclo de dor que passa de geração em geração. É uma metáfora sobre a herança do trauma, que se manifesta como uma assombração silenciosa.
Esteban Chinchilla aposta em uma fotografia fria, granulada e íntima, que aumenta muito a tensão e dá uma sensação de claustrofobia. Em relação ao som, ele é como um sussurro contínuo. Esse é um filme que não te dá sustos, mas te deixa tenso o tempo inteiro. Traz um certo incômodo.

Vale a pena assistir “Delírio”?
Com apenas 74 minutos, Delírio é um estudo de medo contido e loucura doméstica. Um filme pequeno em escala, mas ambicioso em sensações. Nem tudo se encaixa, o final deixa lacunas e o ritmo por vezes se arrasta, mas o que sobra é uma experiência hipnótica, melancólica e perturbadora. É o tipo de terror que não te persegue pelos corredores, mas te acompanha em silêncio quando você apaga a luz.
Delírio é mais sobre atmosfera do que sobre respostas. O filme exige paciência e entrega, e talvez por isso divida o público. Quem busca terror cerebral vai encontrar camadas profundas; quem espera os tradicionais jumpscares ou até mesmo aparições medonhas, pode sair frustrado. No entanto, há beleza no incômodo e a diretora sabe explorar isso.
Crédito da capa: La Linterna Films
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