Quentin Tarantino não é um cineasta previsível — e Django Livre prova isso mais uma vez. O diretor entrega aqui não só mais um faroeste moderno, mas um violento conto de fadas que mistura crítica social, cultura pop e uma paixão desmedida pelo cinema clássico. Mesmo com pequenos deslizes de ritmo, o longa se firma como uma das obras mais viscerais e marcantes de sua filmografia.

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Django Livre | Cena do filme com Jamie Foxx e Christoph Waltz | Imagem:IMDB

Um faroeste sobre vingança e redenção

Ambientado no sul dos Estados Unidos, em 1858, o filme acompanha o ex-escravo Django (Jamie Foxx), libertado pelo caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz). Unidos pelo interesse em capturar criminosos e, sobretudo, resgatar a esposa de Django das mãos do cruel fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), os dois embarcam em uma jornada que combina brutalidade, humor ácido e uma série de referências cinematográficas.

A proposta de Tarantino, aqui, não é apenas revisitar o faroeste, mas reinventá-lo à sua maneira. Misturando elementos de blaxploitation, cultura pop e trilha sonora moderna, ele transforma a história de escravidão e vingança em um espetáculo sangrento e catártico.

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Django Livre |Quentin Tarantino em Cena do filme e Direção | Imagem:IMDB

Tarantino sabe como impressionar

O cineasta abre mão dos diálogos acelerados e das câmeras agitadas em seu início, para permitir que a gravidade das imagens fale por si. É nesse silêncio que a mensagem se instala, há histórias que precisam ser contadas com brutalidade, e Django Livre é uma delas.

Ainda assim, a marca registrada do diretor aparece com força. O uso de trilhas sonoras inusitadas — com hip-hop moderno em meio a um cenário de faroeste — funciona surpreendentemente bem, criando momentos estilizados e de impacto visual. Além disso, as referências visuais, como a inspiração direta no quadro O Menino Azul, de Thomas Gainsborough, e os acenos a outros clássicos, são saborosos presentes para os cinéfilos.

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Django Livre |Elenco do filme reunido | Imagem:IMDB

Atuações memoráveis e ritmo irregular

O elenco é um dos pontos altos do filme. Christoph Waltz entrega uma atuação impecável, rouba as primeiras cenas e estabelece Schultz como um dos personagens mais carismáticos da carreira do ator. Jamie Foxx cresce ao longo da trama, transformando Django de um homem submisso a um herói violento e icônico. Leonardo DiCaprio surpreende como o odioso Calvin Candie, enquanto Samuel L. Jackson entrega um papel inesperado e de grande impacto.

No entanto, o filme sofre com oscilações de ritmo. A ausência da montadora Sally Menke, parceira de longa data de Tarantino, é sentida. Fred Raskin assume a montagem e, embora competente, não alcança o nível dinâmico e preciso dos trabalhos anteriores. Algumas cenas têm cortes abruptos e outras se estendem além do necessário, como a sequência envolvendo a emboscada da KKK.

Uma carta de amor ao cinema — e um manifesto político

Tarantino nunca escondeu sua obsessão pelo cinema de gênero. Aqui, ele não só homenageia Django (1966), como também cria ecos de Sérgio Leone, dos faroestes espaguete e de filmes blaxploitation. O diretor ainda brinca com a própria figura, aparecendo brevemente em cena à la Hitchcock.

Mas, mais do que um exercício de estilo, Django Livre também é um filme político. Ele não evita a violência gráfica para denunciar as atrocidades da escravidão e satiriza a própria cultura americana. Suas críticas ganham força justamente pela forma irreverente e sanguinolenta com que são apresentadas.

Vale a pena assistir Django Livre?

Mesmo com seus excessos e problemas pontuais de ritmo, Django Livre é uma obra corajosa, divertida e necessária. Tarantino entrega um filme que, ao mesmo tempo, celebra e questiona o passado cinematográfico e histórico dos Estados Unidos. Uma verdadeira aula de cinema para quem gosta de narrativas ousadas, personagens marcantes e imagens que grudam na retina.

Atualmente, o filme está disponível para aluguel e compra nas plataformas digitais como Universal+ disponível dentro do Amazon Prime com uma assinatura extra, disponível no YouTube e na Apple Tv.