Enemigos é um drama urbano visceral sobre violência, perdão e redenção, que coloca frente a frente vítima e agressor em um duelo de humanidade

Dirigido e coescrito por David Valero ao lado de Alfonso Amador, Enemigos pode ser um dos lançamentos mais intensos do cinema espanhol em 2025.

Protagonizado por Christian Checa e Hugo Welzel, o filme mergulha na vida de dois jovens que cresceram em um mesmo bairro, mas em lados opostos de uma história marcada por violência, rancor e a difícil possibilidade do perdão.

Enemigos - Crítica
Enemigos transforma violência em reflexão e música em expressão | Crédito: Paramount/Divulgação

Enemigos: entre a violência e a ambiguidade moral

Desde o início, Valero deixa claro que não pretende seguir o caminho previsível de um simples drama sobre bullying. A relação entre Chimo (Checa), vítima de abusos desde a infância, e Rubio (Welzel), seu agressor, ganha complexidade conforme o roteiro inverte papéis, abre espaço para ambiguidades morais e obriga o espectador a refletir sobre justiça, culpa e vingança.

Essa escolha narrativa é ousada, pois evita qualquer manipulação fácil, propondo uma reflexão que incomoda e ecoa muito além da sala de cinema.

Tecnicamente, Enemigos se destaca pela proximidade quase documental com o cotidiano dos personagens. O bairro degradado não é apenas cenário, mas um personagem vivo, reforçado por uma trilha sonora urbana assinada por Steve Lean.

A música não só dialoga com a juventude retratada, mas também adiciona uma camada poética ao filme, transformando a raiva e o caos em ritmo e expressão.

Filme Enemigos
Com atuações intensas e um final devastador, o filme abre espaço para refletir | Crédito: Reprodução/Mubi

Atuações intensas e um retrato honesto dos ciclos de violência

As atuações são um dos pontos altos. Christian Checa e Hugo Welzel entregam performances cruas e carregadas de verdade, transmitindo tanto a brutalidade quanto a fragilidade de seus personagens.

Ao lado deles, Estefanía de los Santos e José Manuel Poga reforçam a intensidade dramática, cada um trazendo força e credibilidade às suas presenças em cena.

Welzel, em especial, merece destaque pela dificuldade de expressar as nuances de um personagem que passa por uma transformação radical e inesperada.

Ainda que apresente tropeços, como momentos em que a narrativa perde ritmo ou quando a trilha sonora pesa mais do que deveria, Enemigos encontra vitória no conjunto.

Seu final, devastador e reflexivo, deixa perguntas abertas, mas também oferece esperança ao ressaltar valores pouco explorados nesse tipo de narrativa: perdão, compaixão, amizade e altruísmo.

Valero constrói uma obra que, ao mesmo tempo, resgata a tradição e reinventa o gênero. Enemigos é mais do que um filme sobre bullying ou vingança: é um retrato honesto da vida nos bairros marginalizados e uma poderosa reflexão sobre a necessidade de romper ciclos de violência.

Vale a pena assistir Enemigos

Sim. É um filme duro, intenso e por vezes desconfortável, mas justamente por isso necessário. Com atuações marcantes, estética vigorosa e um roteiro que desafia estereótipos, Enemigos se firma como uma obra muito impactantes do cinema espanhol.

Imagem de capa: Paramount/Divulgação