“Eros”, dirigido por Rachel Daisy Ellis, é um documentário que ousa investigar, com franqueza e sem filtros, a maior instituição de sexo do Brasil: o motel. Utilizando o dispositivo do auto-registro, a diretora constrói um mosaico de histórias que, à primeira vista, pode até parecer um amontoado de relatos amadores e desconexos. No entanto, à medida que o filme avança, fica evidente a amarração cuidadosa que Ellis faz entre cada uma das dez estadias de motel que compõem a narrativa.

Cada história mergulha em um ponto de vista diferente, transitando entre o conservadorismo e a liberdade mais escancarada. Apesar das diferenças de tom e abordagem, todas compartilham uma certeza: o motel é muito mais do que um espaço destinado ao sexo. Ele se transforma em cenário de intimidade, descoberta e, muitas vezes, resistência.

Entre os relatos mais marcantes, destaca-se a trajetória de uma mulher transexual que, após sofrer humilhações da própria mãe, decide buscar uma vida nova através do ensino superior. Contudo, para conseguir se sustentar, ela recorre à prostituição, conhecendo assim o universo dos motéis. Já um casal cristão revela como o local, longe de ser visto como sujo ou pecaminoso, se torna um refúgio onde marido e mulher podem viver plenamente a relação, longe das obrigações domésticas e das demandas dos filhos.

Uma obra sem pretensão de ser bonita

Visualmente, a obra surpreende menos pela qualidade técnica e mais pela escolha de recorte e montagem. Grande parte das imagens é captada pelos próprios personagens, através de celulares, reforçando o tom íntimo e documental da proposta. A fotografia, mesmo limitada, colabora para essa sensação de proximidade e verdade.

O conteúdo é explícito, mas longe de ser escrachado. A escolha de colocar o sexo como elemento coadjuvante, e não como foco principal, revela maturidade e um olhar mais sensível para as camadas de humanidade que atravessam cada relato.

Vale a pena assistir?

No fim das contas, “Eros” é nu e cru — com o perdão do trocadilho. Trata-se de uma obra que não tem a pretensão de agradar ou entreter. Seu propósito é outro: mostrar, de forma direta e sem maquiagens, uma realidade que poucos conhecem ou se permitem enxergar. Para quem estiver disposto a encarar essa jornada, o resultado é, no mínimo, provocador.