Entre clichés natalinos e pequenas surpresas, “Feliz Assalto!” entrega mais do que o esperado, mas menos do que poderia
Dirigido por Michael Fimognari, Feliz Assalto! chega ao catálogo da Netflix como mais uma aposta do pacote anual de filmes natalinos da plataforma. Classificado como comédia romântica com toques de crime, o longa apresenta uma proposta simples: misturar espírito festivo, crítica social leve e um plano de assalto em plena véspera de Natal.
A ideia central desta crítica é avaliar se o filme, apesar de suas limitações, se sustenta graças a um elenco competente e a algumas reviravoltas que o elevam acima da média recente das produções natalinas do streaming.

Um cenário saturado, e um filme que tenta reagir
Nas últimas semanas, títulos como “Um. Natal. Surreal.” já havia sinalizado a queda drástica de qualidade no line-up de Natal dos streamings. Tramas letárgicas, falta de atmosfera festiva e roteiros apressados reforçaram a percepção de que as plataformas tratam o gênero como produto de linha de montagem.
Nesse contexto, “Feliz Assalto!” aparece quase como um respiro, não por ser extraordinário, mas por conseguir evitar o marasmo absoluto que tem dominado o catálogo. Ao escolher Londres como cenário principal, o filme já foge do padrão das cidades fictícias cheias de neve artificial e decorações plastificadas.
A decisão de filmar nas ruas reais da capital britânica dá autenticidade e reforça o clima urbano, pubs iluminados, galerias decoradas e avenidas movimentadas funcionam como personagem complementar. O resultado é um ambiente mais crível, menos estereotipado e visualmente mais interessante.
Elenco sólido e química funcional
O ponto mais forte do filme é, sem dúvida, o elenco. Olivia Holt interpreta Sophie, uma americana vivendo em Londres para cuidar da mãe doente e tentando se equilibrar entre dois empregos. Holt entrega uma protagonista carismática, ainda que limitada por diálogos por vezes insossos.
Já Connor Swindells surge como Nick, ex-presidiário tentando reconstruir a vida após ser envolvido em um golpe de seguro orquestrado pelo milionário Maxwell Sterling. Embora a química entre os dois nunca atinja um ponto realmente quente, ambos sustentam seus papéis com desenvoltura e tornam a dupla central agradável de acompanhar.
A presença de Lucy Punch, carismática mesmo quando subaproveitada, e Peter Serafinowicz, impecável como magnata desprezível, eleva cenas que poderiam facilmente cair no genérico. O elenco funciona, e isso já representa vantagem significativa quando o parâmetro são outros lançamentos recentes da Netflix.

Assalto natalino, crítica social leve e boas reviravoltas
O filme aposta em um híbrido curioso: romance, comédia e um plano de roubo contra o poderoso dono da loja de departamentos onde Sophie trabalha. A motivação da protagonista: conseguir tratamento médico avançado para a mãe, dialoga com questões reais, como a precariedade do sistema de saúde norte-americano e as limitações do sistema britânico. Não é um manifesto político, mas dá profundidade mínima ao enredo.
O roteiro de Abby McDonald e Amy Reed acerta ao propor personagens movidos por desespero, injustiça e necessidade. No entanto, tropeça em alguns momentos previsíveis e diálogos fracos. De todo modo, as reviravoltas do último ato funcionam. Nada é revolucionário, mas há um esforço claro para surpreender o espectador, algo raro no gênero, tão acostumado a fórmulas rígidas.
O diretor Michael Fimognari também imprime um ritmo mais sofisticado do que o usual. Sua experiência com obras de Mike Flanagan se traduz em um uso inteligente da cidade, estética menos plastificada e uma trilha sonora que abre espaço para faixas alternativas de Natal. É um refresco diante da repetição incansável de “All I Want for Christmas Is You“.

Entre acertos e limitações: um filme que quase brilha
O maior problema de “Feliz Assalto!” é justamente seu potencial não realizado. Quando um filme natalino se sai acima da média, cria expectativas de que ele possa ser realmente bom, e “Feliz Assalto!” chega perto, mas não chega lá. A comédia poderia ser mais afiada, o romance mais intenso e o assalto mais engenhoso. Algumas cenas prometem mais humor ou tensão do que entregam, e a falta de polimento do roteiro impede que o longa seja memorável.
Ainda assim, há charme. Há ritmo. E há o mínimo de personalidade, o suficiente para diferenciá-lo da linha de produção genérica do streaming. No fim, o filme entende suas limitações, mas também sabe onde pode brilhar. Ele se apoia em um elenco competente, uma ambientação mais inspirada e reviravoltas eficientes para construir uma experiência divertida e leve, ainda que longe de marcante.
Não reinventa o gênero natalino, mas oferece uma alternativa honesta para quem busca algo diferente dos romances açucarados e das comédias mornas que dominam o catálogo nesta época do ano.
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Vale a pena assistir “Feliz Assalto!”?
Sim, com expectativas calibradas. O filme não se tornará o queridinho da temporada, mas entrega entretenimento digno, ritmo agradável e algumas surpresas capazes de manter o espectador envolvido até o final.
É uma opção segura para quem gosta de comédias românticas natalinas com um toque de crime e deseja algo um pouco menos previsível que a média da Netflix.
Imagem de capa: Rob Baker Ashton/Netflix
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