Fomos convidados a assistir o longa Herói de Sangue, um filme de guerra com Omar Sy e a direção de Mathieu Vadepied.
Aqui, temos um filme que retrata um daqueles episódios esquecidos (ou escondidos) da história, sabe? Dessa forma, o Herói de Sangue (ou Father & Soldier, no inglês) retrata um fato da Primeira Guerra Mundial: quando países imperialistas europeus – no filme, a França – forçaram civis do continente africano a lutar uma guerra que, não só não lhes pertencia, como também, por vezes, não havia o mínimo de entendimento do idioma do país que representavam.
Mas antes de continuarmos, confira a sinopse:
Durante a Primeira Guerra Mundial, um pai se alista no exército francês para estar com seu filho de 17 anos, que foi recrutado contra sua vontade.
Assim, enviados para ao front, eles se encontram enfrentando juntos a guerra na colônia francesa do Senegal.
Com várias propostas interessantes e inovadoras, promessas de uma história reveladora, ao mesmo tempo uma representação de um episódio não muito conhecido sobre a Primeira Guerra Mundial, resta a pergunta: será que Father & Soldier é bom?
Promessas em Guerra
Diante a tantas possibilidades e propostas apresentadas, chega a ser frustrante a maneira como o enredo deixa tanto a desejar.
Afinal, estamos falando sobre um ambiente de guerra, envolvendo pai e filho africanos, em meio a um regimento militar europeu com ideais racistas, ao mesmo tempo em que são povos de diferentes regiões da África e da França, que por sua vez nem conseguem se comunicar direito. Enfim, muitas possibilidades que poderiam elevar o valor do longa, no entanto, o mesmo, não o faz.
Aliás, para não ser injusto, há até a tentativa de se fazer uma uma analogia ao crescimento do jovem e sua libertação, criando asas para voar do ninho e da proteção do pai. Uma proposta interessante sobre o que é crescer e tornar-se responsável. Entretanto, essa mesma ideia cai por terra pela falta de coragem ou de sensibilidade, ou então apenas preguiça da produção.
O roteiro até tenta levantar algumas outras questões, algumas mais sutis outras mais explícitas, porém, todas chegam no mesmo resultado: na preguiça em aprofundá-las.
Por outro lado, a frustração ainda vai além das possibilidades (não) apresentadas, colidindo também com o mal aproveitamento de seu elenco. Afinal, é no minimo estranho assistir um longa com Omar Sy e não vê-lo tendo oportunidades de apresentar uma atuação marcante.
Por último, e não menos importante, o longa se perde em seu próprio tempo. Ou seja, o que deveria ser cenas mais lentas para apresentar uma tensão momentânea, o sofrimento e medo diante da guerra, acaba por perder a mão e torna a cena em algo super arrastado, tediosa e sem emoção.
O lado oculto do front
Muitas vezes, filmes com temas de guerra vão muito além das explosões e do combate. Aqui não é diferente.
Apesar de haver menos enfoque nessas cenas, elas estão presentes, com direito a uma fotografia bem densa, focando nos tonas mais frios e enfatizando o clima de medo, de tensão e até mesmo do caos instaurado em um cenário de guerra. Dessa forma, os tons frios tornam as cenas durante o dia em algo mais denso e mórbido.
O público sente a a necessidade do protagonista em não ir ao front.
Entretanto, da mesma forma como a fotografia acerta, ela consegue errar: os mesmos tons frios tornam as cenas anoite impossíveis de serem compreendidas, senão por vultos escuros se movendo em meio a escuridão.
Falta luz, falta brilho. Falta uma lampada para poder enxergar o que está acontecendo. Aqui, a escuridão não alimenta nem o drama ou o medo, nem instiga a sensação de isolamento e perigo. Ela simplesmente deixa suas cenas confusas e mais caóticas do que a história já é.
E por falar em confusão, o enredo de Herói de Sangue apresenta tantas lacunas em sua história, que formam trincheiras em seu enredo.
Tal caos se dá ora por um roteiro que sabe aonde quer chegar, porém, não sabe como, aliado a uma direção que não sabe nem por onde seguir. Os apontamentos são diversos e dão a impressão de preguiça em produzir o longa. Dentre tais erros, chega a chocar ao cortarem (secamente) um diálogo entre os protagonistas no meio para então seguir normalmente, sem motivo algum.
Dessa forma, novamente, a impressão que fica é a preguiça em refazer a cena, preferindo enfim um corte amador. Ou melhor dizendo, uma preguiça em produzir o longa.
Afinal, Herói de Sangue: vale a pena?
Em uma breve resposta: não.
O longa acerta pouquíssimas vezes, sendo o maior destaque a fotografia das cenas que ocorrem durante o dia.
Ironicamente, a fotografia é também o maior pecado do longa, uma vez que quase impossível de assistir as cenas que ocorrem durante a noite. Há vultos correndo, caos acontecendo, muitos barulhos, entretanto, nada é visto , ou explicado. Ao público, resta tentar adivinhar o que ocorre pelo mínimo de luz presente.
Além da fotografia, a direção e o roteiro se alinham para apresentar uma história com muitas possibilidades, porém, sem desenvolvê-las. Além disso, tal aliança não coopera com seu público, apresentando uma história repleta de lacunas e cortes que estragam a experiencia.
Entretanto, nada está perdido: o longa consegue acertar ao representar eventos da Primeira Guerra Mundial e que foram esquecidos pela história, como o fato de forçarem povos africanos a lutarem na guerra em nome da França. A representatividade é breve, porém, bem introduzida e faz parte de um dos poucos acertos do filme. Assim, o longa consegue sim apresentar uma breve crítica ao colonialismo, a cega obediência ao sistema hierárquico militar.
Por fim, o filme é um dos selecionados para o Festival Filmelier no Cinema, uma realização da Sofá Digital. O festival ocorrerá por três semanas – de 19 de abril a 10 maio – e conta com uma seleção de 20 filmes inéditos passando em mais de 30 cidades brasileiras.
Sendo assim, você já pode assistir Heróis de Sangue em um dos cinemas selecionados.