A HBO retorna ao universo de Stephen King com uma das produções mais ambiciosas do gênero. It: Bem-vindos a Derry mergulha nas origens do terror e revela a cidade amaldiçoada por trás do palhaço Pennywise
Fomos convidados pela HBO para assistir aos primeiros cinco episódios da série It: Bem-vindos a Derry, produzida pela HBO e pela Warner Bros. Television, desenvolvida para a TV por Andy Muschietti, Barbara Muschietti e Jason Fuchs.
It: Bem-vindos a Derry é ambientada no universo criado por Stephen King e inspirada nos livros que deram origem à história e aos dois filmes que fizeram sucesso no cinema. Agora, a nova trama tenta aprofundar a origem do palhaço Pennywise e conquistar mais fãs, além de trazer um toque a mais de intensidade para quem ama os filmes e os livros de Stephen King.
Nenhum nome poderia ser melhor do que Bem-vindos a Derry para uma série que realmente introduz o espectador a essa cidade que habita o imaginário dos leitores e espectadores há tanto tempo. Agora, temos a oportunidade de ver mais detalhes sobre as pessoas, a história e a construção da cidade para além das fatalidades e da lenda que a cerca.
A cidade como personagem
Num primeiro momento, somos levados a pensar na cidade como um lugar aterrorizante. No segundo, percebemos que estamos certos. A série não faz questão de mostrar o contrário. Derry é diferente. Tem uma ambientação própria e, em nenhum momento, somos convidados a passear por outros pontos de vista. Muito pelo contrário. Isso, para mim, é um grande acerto da série, que não tenta desviar o foco do que realmente esperamos: um terror e suspense que explorem a origem do palhaço Pennywise, mas também tudo o que está por trás disso, o que os dois filmes não conseguiram mostrar por completo.
Assim como nas duas produções anteriores, toda a trama gira em torno de um grupo de jovens que, de alguma forma, está conectado ao palhaço. Sem entrar em grandes detalhes, posso dizer que há várias fases diferentes nesses cinco primeiros episódios, e essas fases são importantes porque cada núcleo atua com um propósito específico. A série também passeia por várias épocas de Derry, o que permite ver diferentes momentos e entender como tudo começou.
Mas essa produção vai muito além do terror e do suspense. Ela trata de temas complexos, como racismo, machismo e política. É uma série bastante política, porque toca na Guerra Fria, nos embates entre Estados Unidos e União Soviética, nas frentes militares e também nos traumas de guerra e de veteranos. Tudo isso é abordado de forma profunda, não superficial, e está diretamente conectado à trama.
Em alguns momentos, essa carga pode parecer pesada, mas, no geral, o diretor e os roteiristas souberam equilibrar bem esses assuntos. O núcleo central não teria como ser diferente, e o núcleo das crianças também funciona muito bem, como nos filmes. É forte, intenso e surpreendente. O terror é mais explícito, e isso é ótimo, porque faz jus ao livro de Stephen King.
Há até uma surpresa interessante: o personagem Dick Halloran, de O Iluminado, aparece citado na trama. Ele é o cozinheiro que, no livro de King, tinha habilidades telepáticas como as de Danny, e aqui surge como uma ponte entre universos.

Ecos de Stephen King e memórias do cinema pop
Se por um lado o terror está mais construído e explícito, por outro ele às vezes é desperdiçado e misturado com algumas cenas que destoam. Por exemplo, momentos de assassinato e visões perturbadoras, que são muito bem feitos, acabam contrastando demais com partes mais lúdicas e infantis. Isso causa uma certa quebra de tom, uma falta de consistência dentro da trama que atrapalha um pouco.
Em outros momentos, a série flerta com obras adolescentes de aventura, como Stranger Things, Conta Comigo, Os Goonies, ET e até Clube dos Cinco. Não há problema em fazer referência, mas às vezes parece que a história não sabe se quer seguir seu próprio caminho ou fazer o público se sentir confortável lembrando de outras obras. Talvez falte um pouco mais de originalidade em certos momentos.
Mesmo assim, o primeiro episódio é excelente e leva o terror para outro nível. Você realmente sente que Derry é um lugar possuído o tempo todo. As cenas no circo, as visões e as assombrações são muito bem construídas. Porém, em outros pontos, a série cai em situações mais comuns e perde a chance de ser menos “teen” e mais densa.
De toda forma, é uma das séries de terror mais consistentes dos últimos tempos. É um grande acerto da HBO, porque faltava algo assim para competir diretamente com outras obras do gênero. As mortes acontecem o tempo todo e mostram que não há medo de arriscar. A série não se apega a personagens, e isso é ótimo. Faltava algo assim, uma história que se permita seguir mesmo que precise abrir mão de certas figuras. Isso gera imprevisibilidade, e o público nunca sabe quem vai viver, morrer ou decepcionar.

Uma série que entende o próprio terror
Os filmes deixaram o público um pouco órfão, porque It é uma história fascinante, e Stephen King sabe cativar como poucos. Ele constrói universos e personagens com os quais o público se conecta. A produção continua essa tradição, especialmente ao abordar temas como o racismo, que aqui são tratados de forma corajosa, coerente e sem amarras.
Visualmente, Bem-vindos a Derry é muito bem feita. A fotografia é linda, a atmosfera é sombria e o terror transborda da tela. Há pequenas derrapadas em alguns momentos, mas, no geral, é uma produção que cumpre o que promete.
Alguns podem achar que há exagero na quantidade de monstros e aparições, mas, considerando o tempo de cada episódio, eu diria o contrário: queria ver mais. Elas aparecem em boa medida, mas por pouco tempo em tela, e acabam sendo pouco exploradas. Talvez, em uma próxima temporada, esses elementos ganhem mais espaço.
O foco, é claro, é Pennywise. O roteiro toma uma decisão interessante: esconder o palhaço até um certo ponto. Isso ajuda a manter o mistério e evita que ele se torne cansativo. Ainda assim, sua presença é sentida em todo momento, seja através das visões, das vozes ou das sombras.
Vale lembrar que a obraé um prequel, ou seja, acontece antes dos eventos de It. Sua missão é construir o local onde tudo se origina. Não é sobre sustos fáceis ou jump scares, mas sobre entender a história por trás do medo.
No fim, It: Bem-vindos a Derry entrega o que promete. É uma série que respeita o universo de Stephen King, aprofunda o mito do palhaço e mantém o público tenso e curioso. No fundo, Derry nunca foi só um lugar. É um espelho dos nossos próprios medos, e é por isso que é impossível sair de lá ileso.
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