Em um ano repleto de estreias de terror, Juntos (2025) surge como uma joia inesperada. Dirigido por Michael Shanks e estrelado por Alison Brie e Dave Franco, o longa mistura romance, terror psicológico e body horror numa metáfora grotesca e inquietante sobre a intimidade moderna. A estreia nos cinemas brasileiros acontece no dia 14 de agosto, com classificação indicativa de 16 anos e 1h42min de duração.

Uma relação que desmorona – literalmente
Na trama, acompanhamos Tim e Millie, um casal que se muda para o interior em busca de um recomeço. No entanto, um incidente sobrenatural altera drasticamente suas existências, afetando tanto a relação quanto suas formas físicas. A partir daí, o que parecia um drama conjugal se transforma em uma espiral de horror e degradação emocional.
O roteiro parte da premissa do mito de Platão sobre os seres humanos divididos em dois — mas, em vez de um reencontro romântico, o filme oferece uma leitura sufocante e perturbadora. O amor aqui se revela como uma forma de co-dependência, onde os laços emocionais viram correntes invisíveis, corroídas por uma força maligna que não se deixa explicar por completo.

Atuações afiadas, atmosfera densa e efeitos de alto nível
Dave Franco e Alison Brie — também produtores do filme — brilham em tela com uma química crua e convincente. Seus diálogos secos, os olhares silenciosos e a crescente tensão emocional sustentam a narrativa mesmo nos momentos mais estranhos. A entrega emocional da dupla é um dos pilares da experiência, especialmente quando o horror físico toma conta da tela.
A direção de Michael Shanks demonstra segurança e personalidade. Ele evita os clichês dos sustos fáceis e opta por criar desconforto com imagens e atmosferas. A fotografia sombria reforça a sensação de claustrofobia doméstica, enquanto o design de som e a trilha sonora aparecem com parcimônia — sempre no ponto certo. Quando o grotesco invade o cotidiano, o impacto é total.
Os efeitos práticos e o VFX são um espetáculo à parte. As transformações físicas dos personagens — verdadeiros reflexos das feridas emocionais — impressionam pela qualidade e realismo, mesmo em um filme de orçamento modesto. Não à toa, Juntos desafia os limites do cinema independente, entregando um trabalho técnico digno das grandes produções do gênero.

Alegorias adultas, furos discretos
Embora o roteiro seja eficiente, ele tropeça ao deixar perguntas importantes pelo caminho. A origem da força sobrenatural que transforma o casal — seja seita, maldição ou entidade cósmica — nunca é explicada com clareza. Para alguns, esse vazio pode causar frustração. No entanto, o filme aposta justamente nesse mistério como parte do desconforto.
As alegorias sobre a vida adulta, convivência, frustração, renúncias e desgaste emocional são o que realmente elevam Juntos a um patamar interessante. O terror corporal serve como veículo para discutir temas que todos, em algum nível, reconhecem. Estar junto, afinal, é uma decisão diária — e o longa mostra o quão aterrorizante isso pode ser.

Vale a pena assistir?
Sim. Juntos é um título memorável dentro da leva atual do terror moderno. É violento, estranho, reflexivo e, acima de tudo, surpreendente. Michael Shanks mostra que tem domínio de linguagem e sensibilidade estética para transformar um drama cotidiano em uma alegoria sombria sobre amor, sofrimento e dissolução.
Além disso, mesmo com pequenos tropeços narrativos, o filme acerta mais do que erra e se consagra como um dos títulos mais originais do gênero em 2025. Vale — e muito — a ida ao cinema.
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