Em “Mães Paralelas“, Pedro Almodóvar conduz um drama íntimo que mergulha e destrincha as complexidades da maternidade e nas diferentes formas que ela pode assumir. A narrativa acompanha duas mulheres cujas trajetórias se cruzam, revelando como a vida pode unir destinos aparentemente distantes. O elenco traz grandes nomes, como Penélope Cruz, Milena Smit, Aitana Sánchez-Gijón, Julieta Serrano, Rossy de Palma e Israel Elejalde.

O longa-metragem conquistou grande reconhecimento internacional, acumulando 23 prêmios. Entre eles, destacam-se a vitória de Penélope Cruz como Melhor Atriz no Festival de Veneza, que reforçou ainda mais sua parceria de décadas com o diretor, e o GLAAD Media Award de Melhor Filme em Lançamento Único.

A história de Mães Paralelas

Mães Paralelas | Penélope Cruz
Crédito: El Deseo / Netflix Studios / Remotamente Films

O filme acompanha Janis (Penélope Cruz), uma mulher madura e segura que trabalha como fotógrafa. Ela engravida de Arturo (Israel Elejalde), que é um homem casado, e decide encarar a maternidade de frente, sem arrependimentos e sozinha. Já Ana (Milena Smit), uma adolescente frágil, encara a maternidade como um fardo que ainda não sabe carregar. Ela vive praticamente sozinha, já que sua mãe, Teresa (Aitana Sánchez-Gijón), é atriz de teatro e acaba de receber uma oportunidade para fazer uma turnê com uma peça por cidades interioranas da Espanha.

As duas se conhecem em um quarto de hospital, quando estão prestes a dar à luz. A partir desse encontro, elas passam a viver trajetórias paralelas e vão construindo laços por meio de segredos, dores e revelações. Elas se reencontram em diferentes momentos até perceberem que não conseguem mais se separar.

O protagonismo de Penélope Cruz

Mães Paralelas | Penélope Cruz e Rossy de Palma no filme
Crédito: El Deseo / Netflix Studios / Remotamente Films

Penélope Cruz entrega uma das atuações mais intensas de sua carreira, e o papel rendeu a ela uma indicação foi indicada ao Oscar. Janis é complexa, contraditória e, ao mesmo tempo, profundamente humana, fazendo você ficar indeciso se a defende e concorda com ela ou se a julga e expõe. A atriz sustenta o filme com uma presença magnética, carregando tanto os momentos de dor silenciosa quanto os de confronto direto. Além disso, ela carrega o grande momento de reviravolta dentro do enredo nas costas.

Atenção: a partir daqui, o texto contém spoilers da trama.

As suspeitas de Janis começam quando Arturo percebe que a bebê não se parece em nada com ele. Tomada pela dúvida, ela decide realizar um teste de DNA e descobre que não é a mãe biológica de Cecília. A revelação acontece em paralelo a outra tragédia: a filha de Ana morre repentinamente, ainda com poucos meses de vida.

Nesse ponto, as histórias das duas mulheres se entrelaçam de forma definitiva. Janis retoma a aproximação com Ana, realiza um novo teste de DNA e confirma a reviravolta: alguém trocou suas filhas na maternidade. Ela decide guardar o segredo até começar a construir um relacionamento com Ana, até que a verdade finalmente vem à tona, com fotógrafa revelando tudo para a jovem.

Onde o enredo tropeça

Mães Paralelas | Israel Elejalde
Crédito: El Deseo / Netflix Studios / Remotamente Films

Apesar da força do elenco, da direção de Almodóvar e de sua fotografia impecável, Mães Paralelas não é perfeito. O filme começa centrado na maternidade e na relação entre Janis e Ana, com um enredo envolvente que prende o espectador, principalmente graças as reviravoltas presentes na obra. No entanto, em certo ponto, a narrativa se desdobra para uma discussão política sobre a memória da Guerra Civil Espanhola.

A transição para o tema soa forçada, quase como se tivesse sido anexada às pressas no roteiro, e acaba decaindo a intensidade emocional construída no início. É verdade que o diretor costuma inserir reflexões sobre a ditadura franquista em seus filmes, mas, neste caso, a abordagem parece mais uma obrigação cumprida de última hora.

Vale a pena assistir a Mães Paralelas?

Ainda que não seja uma das obras mais completas de Almodóvar, Mães Paralelas carrega a marca registrada do diretor: melodrama colorido, personagens femininas fortes e dilemas que ecoam além da tela. Para quem busca uma atuação arrebatadora de Penélope Cruz e uma história que provoca reflexões sobre maternidade, identidade e memória coletiva, o filme com toda certeza merece sim ser visto.

Por fim, Mães Paralelas está disponível na Netflix.

Imagem de capa: El Deseo / Netflix Studios / Remotamente Films