Em um futuro onde os sentimentos são codificados, “Make a Girl” tenta descobrir se a emoção ainda pode ser humana.
Contexto e Direção
“Make a Girl”, dirigido e roteirizado por Gensho Yasuda, é um daqueles filmes que tentam resgatar a emoção dentro da frieza da tecnologia. Após o sucesso do curta Make Love, Yasuda estreia em longas-metragens com um projeto ambicioso: uma animação 3D produzida de forma independente, construída praticamente por um único artista.
A trama acompanha Akira, um jovem cientista que decide criar uma namorada androide chamada Zero, acreditando que o amor pode ajudá-lo a se tornar alguém melhor. O ponto de partida é familiar e até previsível, mas Yasuda insere nuances sutis sobre solidão, dependência emocional e o vazio que nasce da busca por perfeição.
Mesmo sem o brilho técnico dos grandes estúdios japoneses, há um olhar autoral que busca algo além do espetáculo visual — um questionamento sobre o que resta de humano em meio a códigos e circuitos.

Narrativa e Temas
“Make a Girl” não reinventa o gênero, mas tenta equilibrar filosofia e sentimento. Seu enredo, apesar de previsível, ganha força ao explorar a relação entre criador e criatura. Quando Zero começa a manifestar emoções, o filme muda de tom, deixando de ser uma fantasia tecnológica e se tornando um espelho da própria fragilidade humana.
A ideia de um amor programado é trabalhada com delicadeza, embora de forma superficial. Yasuda prefere sugerir do que aprofundar, e é nesse jogo de ausências que o filme encontra sua identidade. Ainda assim, faltam riscos: tudo soa controlado, seguro, como se o próprio diretor temesse romper as barreiras que critica.
A reflexão sobre o que é real — sentimento ou código — é bela, mas não chega a emocionar.

Técnica e Estética
Visualmente, “Make a Girl” é competente, mas não deslumbrante. O uso do 3DCG confere ao filme uma aparência que lembra cutscenes de videogame, com brilho digital e textura polida demais. Apesar de alguns momentos inspirados, a animação raramente surpreende.
A trilha sonora, constante e melancólica, tenta preencher o vazio emocional, mas acaba tornando-se repetitiva. Já a fotografia digital — com tons frios e iluminação difusa — reforça o sentimento de isolamento que percorre toda a narrativa.
É um trabalho tecnicamente honesto, mas longe do impacto visual que o tema poderia alcançar.

Elenco e Personagens
As vozes de Shun Horie (Akira) e Atsumi Tanezaki (Zero) dão o peso emocional que falta ao roteiro. Tanezaki, especialmente, oferece sutileza à androide, tornando-a mais humana do que o próprio criador. No entanto, os coadjuvantes surgem e desaparecem sem função narrativa clara, e o vilão é esquecido antes mesmo de se tornar ameaça.
A relação central é o que sustenta o filme, mas falta camadas que transformem a experiência em algo memorável.
Referências e Identidade
“Make a Girl” ecoa obras como Her (2013) e Ex-Machina (2015), mas sem o mesmo poder emocional. É um retrato mais ingênuo do amor artificial, ancorado em ideias já conhecidas. Ainda assim, há sinceridade no olhar de Yasuda — um criador que, assim como Akira, tenta dar vida àquilo que ama.
A estética lembra JRPGs dos anos 2000, com ambientação limpa, movimentos suaves e ritmo contemplativo. Talvez o maior mérito do filme seja a coragem de existir: uma produção independente que busca espaço em um mercado dominado por fórmulas.

Vale a pena assistir?
“Make a Girl” é um filme sobre o que falta nas pessoas, nas relações e nas máquinas. É um ensaio melancólico sobre o vazio da perfeição. Falta força, mas sobra sentimento. Não é uma obra imperdível, mas tem seu encanto. Para os fãs de animação japonesa e ficção científica, vale a curiosidade. Para o público geral, talvez funcione melhor como uma reflexão leve em uma tarde de domingo, quando o coração e o cérebro podem vagar sem pressa.
Make a Girl estreia nos cinemas brasileiros em 13 de novembro de 2025, com distribuição da Sato Company.
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Imagens da capa e do corpo da crítica créditos: Sato Company
