“Mauricio de Sousa – O Filme” retrata a infância, os primeiros personagens e os desafios do criador da Turma da Mônica em narrativa leve, nostálgica e cheia de referências

Poucos nomes conseguem atravessar tantas gerações no Brasil quanto o de Mauricio de Sousa. Criador da Turma da Mônica e de mais de 400 personagens, o quadrinista se tornou sinônimo de cultura popular.

Aos 89 anos, tem sua trajetória revisitada em “Mauricio de Sousa – O Filme“, cinebiografia dirigida por Pedro Vasconcelos, que chega aos cinemas em 23 de outubro.

O longa conta a história de um menino sonhador de Santa Isabel que acreditou em sua imaginação. Ele também revisita os laços familiares e as inspirações que moldaram os personagens mais icônicos dos quadrinhos nacionais.

Maurício de Sousa - O Filme
Mauro Sousa como Maurício no filme | Crédito: Vantoen Pereira Jr.

As origens da Turma que marcou gerações

O filme percorre a infância de Mauricio, a relação afetuosa com a avó Dita, o início de sua carreira como cartunista e o nascimento da Mauricio de Sousa Produções (MSP).

Entre acertos e tropeços, a narrativa mostra momentos fundamentais, como a crise enfrentada quando jornais de São Paulo deixaram de publicar suas tiras e a amizade com Ziraldo, que viria a marcar sua trajetória profissional.

O roteiro também reserva espaço para sua vida pessoal, incluindo o primeiro casamento com Marilene, interpretada com leveza por Thati Lopes, que adiciona humor e dinamismo à história.

Um dos pontos mais fortes do longa está, sem dúvida, na maneira como retrata a origem dos personagens. Por exemplo, Bidu, inspirado em Cuíca, o cachorro de infância de Mauricio, ganhou vida em 1959. Sua cor azul, que se tornaria marca registrada, surgiu de um simples erro de impressão.

Em seguida, Cebolinha, baseado em um amigo de infância que trocava o “r” pelo “l”, fez sua estreia. Logo depois, Cascão surgiu a partir da lembrança de um garoto que evitava banho. Além disso, Horácio refletia o lado mais filosófico do autor, enquanto Astronauta traduzia a curiosidade de toda uma geração diante da corrida espacial.

No ambiente doméstico, por sua vez, surgiram as figuras centrais: Mônica, inspirada na filha homônima e símbolo de força e carisma. Além de Magali, representação da menina doce e faminta, completando assim o núcleo da Turma.

Diego Laumar em Maurício de Sousa - O Filme
Diego Laumar em Maurício de Sousa – O Filme | Crédito: Vantoen Pereira Jr./Diuvlgação

Entre acertos e fragilidades da narrativa

As atuações contribuem para dar vida ao tom nostálgico da obra. Diego Laumar, no papel de Mauricio criança, transmite a curiosidade e a doçura do menino que começava a rabiscar seus sonhos.

Mauro Sousa, filho do quadrinista, assume o papel do pai na fase adulta e carrega uma carga emocional particular ao reviver a história de sua própria família. Essa escolha, longe de ser apenas simbólica, acrescenta camadas de afeto e veracidade ao filme.

Outro mérito está na trilha sonora. Longe de ser só um complemento, a música surge nos momentos certos para reforçar emoções, ora como um abraço caloroso, ora como um respiro diante das dificuldades. A sensação é a de um fio condutor invisível que guia o público pelas memórias e pela sensibilidade do artista.

No entanto, nem tudo funciona. Embora o filme seja majoritariamente envolvente, o humor apresenta altos e baixos. Algumas piadas parecem se perder, funcionando mais como comentários soltos do que como alívios cômicos bem construídos.

Além disso, o final, embora emocionante e marcado pela breve aparição de Mauricio, deixa a sensação de que ainda há mais história a ser explorada.

Isso não chega a comprometer a experiência, mas reforça o desejo do espectador de permanecer naquele universo por mais tempo.

Mauro Sousa em Maurício de Sousa - O Filme
Cartaz do filme | Crédito: Divulgação

Entre quadrinhos e memórias afetivas

Visualmente, a direção de Pedro Vasconcelos acerte ao se aproximar da linguagem dos quadrinhos. Cenas que remetem diretamente às tirinhas trazem frescor à narrativa, criando um elo entre a tela e a memória afetiva do público.

Esse recurso, aliado ao tom leve e familiar, garante que o filme seja acessível tanto para os fãs de longa data quanto para as novas gerações que seguem conhecendo a Turma em múltiplas plataformas.

A aparição de Mauricio de Sousa no final é breve, mas significativa. Vê-lo, já perto dos 90 anos, após acompanhar toda a sua trajetória no cinema, é como receber um abraço de avô.

É um gesto simples, mas carregado de simbolismo: a vida do criador se mistura à de seus personagens e à de milhões de brasileiros que cresceram com eles.

Mais do que uma biografia, “Mauricio de Sousa – O Filme” é uma celebração da imaginação, da família e da persistência. Ao revisitar a infância e o processo criativo de um dos maiores nomes da cultura nacional, o longa mostra que os sonhos de um garoto podem, sim, transformar a vida de gerações inteiras.

Vale a pena assistir “Mauricio de Sousa – O Filme”?

Sim. Apesar de alguns tropeços no humor e de um final que deixa a sensação de “quero mais”, o filme emociona, diverte e presta uma homenagem necessária a um dos maiores contadores de histórias do Brasil.

Para quem cresceu com a Turma da Mônica, é um mergulho na memória afetiva. Para as novas gerações, é um convite para conhecer a força da imaginação de Mauricio de Sousa.

Imagem de capa: Iury Senck/Divulgação