“Meu Nome é Gal” não é somente uma cinebiografia de uma das maiores cantoras do país, mas uma homenagem a MPB e todo o movimento artístico. Lô Politi e Dandara Ferreira, que dirigem o longa escolheram um recorte muito precioso da vida de Maria da Graça. Podemos acompanhar a estrela que sai da Bahia rumo ao Rio de Janeiro em meio a ditadura militar, onde se torna Gal Costa.
Gal já cantava, já era amiga de Caetano Veloso e Maria Bethânia, e se enturmou rapidamente com Gilberto Gil, Tom Zé, além de Os Mutantes e o maestro Rogério Duprat. É aqui, nesse fragmento que nasce o tropicalismo, um dos movimentos artísticos mais importantes do Brasil.
LEIA TAMBÉM: Crítica – Nosso Sonho (Claudinho e Buchecha)
Roteiro mostra que Gal Costa se transformou pela arte e para o Brasil
Ao escolher esse recorte, a direção do filme deixa muito claro a intenção de mostrar que Gal se tornou um pilar da música brasileira. Podemos ver a mudança de perfil de uma moça tímida mas com um dom incrível, para uma artista forte, poderosa, e importante para a sociedade.
Conhecer a vida de nossos ídolos é sempre um privilegio, e podemos sentir isso na tela desse filme. Uma busca pela intimidade entre o espectador e a história que está sendo contada. Somos convidados a fazer parte daquele grupo, daquela gente que acha que música pode mudar mundo, e pode mesmo. E se você acha que o fato de sentir falta de um pouco mais de profundidade é por erro da direção, você está cometendo um leve engano. Porque Gal Costa é um universo de histórias, e o filme foca em apenas mostrar como nasce essa estrela para a eternidade.
Por outro lado, temos uma narrativa histórica, que conta, mesmo que em poucas cenas, como o Brasil estava naquele período de turbulência politica. Podemos acompanhar fragmentos de como a classe artística foi impactada pela censura prévia e as consequência para aqueles que decidiam se manisfestar.
Mas quando se tratam temas importantes apensar como fragmentos, corre-se o risco de deixar escapar muitas informações, muitas boas histórias. Sinto que o filme, que tem pouco menos de duas horas, poderia ter afundado um pouco mais na vida de Maria da Graça. Em comparação com outras cinebiografias, que mostram um retrato do crescimento da pessoa e somente depois do artista, aqui já encontramos Gal pronta.
Atuações são uma mistura, assim como trilha sonora é impecável
Gal Costa é interpretada por Sophie Charlotte, e que entrega tudo na sua atuação. A responsabilidade de dar vida a um ícone musical e artístico parece não ter pesado tanto para a atriz. Sophie, que também é cantora, consegue entregar uma atuação muito coerente com o que se espera de alguém de sua envergadura artística. Somos convencidos de que aquela ali é Gal Costa dos anos 60 e 70. Dessa forma, podemos dizer que a atuação é quase um detalhe, já que a naturalidade com que se apresenta em tela nos ganha.
Além de Sophie, temos um elenco de excelentes atores interpretando outros ícones da música. Caetano Veloso (Rodrigo Lelis), Maria Bethânia (interpretada pela diretora Dandara Ferreira), Gilberto Gil (Dan Ferreira) e Dedé Gadelha (Camila Mardila). Luis Lobianco aparece no papel do empresário Guilherme Araújo.
Conhecer como essa turma vivia, convivia, sentia e fazia música, foi alcançada com sucesso por um elenco dedicado e entrosado.
E como um bom filme biográfico de uma gigante da música, o filme usa todo o potencial de Sophie para interpretar as maiores músicas de Gal. E você pode se surpreender ao descobrir que ela canta muito bem, a tal ponto em que é difícil saber quando é ela cantando ou quando é playback.
A escolha do repertório também foi um ponto positivo na construção do enredo, já que a música é viva, e fala muito sobre a história. Cada música tem sua participação ativa e viva na vida desses artistas, e fazem parte da história do nosso país.
Fotografia é magnifica, mas figurino e maquiagem são de outro mundo
Como levar o espectador direto para os anos 60 e 70 e faze-los crer que estão vivendo aquela época? Uma maquiagem impecável, e um figuro majestoso. Ao utilizar material de arquivos antigos, a fotografia do filme acerta em cheio ao reproduzir cenas e cenários daquela época misturados as gravações atuais.
Gabriella Marra assina o figurino, assim como Pedro Sotero assina fotografia. Imagino que o trabalho de escolher os melhores recortes de época casou perfeitamente com o recorte que Dandara Ferreira disse ter escolhido para a vida de Gal na tela. Ou seja, tentar ser o mais fiel possível as origens de seus personagens e suas locações.
Por fim, podemos afirmar que “Meu Nome é Gal” entra para um seleto grupo de cinebiografias que irão marcar e que valem a pena assistir várias e várias vezes no cinema.
Você conhece nossa campanha de apoio? Para apoiar o GeekPop News, basta escolher um dos planos disponíveis no site do apoia-se. Você pode contribuir com valores a partir de R$ 10 por mês e cancelar a qualquer momento. Quanto mais você contribui, mais benefícios você recebe.