Mountainhead traz bilionários da tecnologia isolados em meio ao caos global e expõe os limites do ego e da ilusão de controle

Depois de criar Succession e marcar o imaginário com diálogos cortantes e famílias em guerra por poder, Jesse Armstrong apresentou um projeto que parece extensão (ou deformação) do que fazia na TV. Mountainhead, lançado pela HBO no dia 31 de maio, reúne quatro bilionários do Vale do Silício em uma mansão de luxo nas montanhas.

O cenário: o mundo lá fora está em colapso após a liberação de uma IA chamada Traam, uma mistura de assistente virtual e oráculo digital com poder suficiente para embaralhar a democracia global. Mas o que realmente assusta aqui não são as máquinas, são os homens.

Crítica - Mountainhead
Bilionários isolados tentam controlar o caos em Mountainhead, novo filme de Jesse Armstrong | Foto: Reprodução/IMDB

Poder, medo e vaidade no centro de Mountainhead

A tensão do filme se constrói em diálogos carregados de subtexto, ironia e paranoia. Steve Carell interpreta Randall, o líder informal do grupo, entre surtos espirituais e decisões corporativas desesperadas. Jason Schwartzman vive Hugo, apelidado de “Souper”, o aspirante a bilionário performático e excêntrico.

Cory Michael Smith, talvez o mais sólido do elenco, interpreta Venis, que traz à tona dilemas éticos de forma quase teatral. E Ramy Youssef, como Jeff, tenta ser a voz da razão, ou ao menos do medo.

A crítica à elite tecnológica não é exatamente sutil. Os personagens se tratam como deuses modernos, discutindo quem deve “assumir a narrativa” do fim do mundo, como se fossem roteiristas da própria civilização.

Em cenas chave, o filme lembra uma conferência entre os aliados de Tony Stark e um workshop de coaching liderado por Elon Musk.

O filme testa os limites da sátira

Com trilha sonora de Nicholas Britell e fotografia de Marcel Zyskind, o filme faz questão de aprisionar seus personagens, e o espectador, em um clima de controle sufocante.

A casa está isolada pela neve e se torna um símbolo da bolha em que esses homens vivem. A desgraça global serve apenas como pano de fundo para suas disputas de ego. Eles vivem imersos em delírios de grandeza e elaboram planos absurdos, como ressuscitar a democracia por meio de uma start-up espiritualista.

No entanto, o filme não escapa de seus próprios excessos. No segundo ato, a trama começa a flertar com o grotesco: há elementos de thriller psicológico, que podem soar deslocados em meio à proposta inicial de sátira política.

É como se Armstrong tentasse testar os limites do que o público tolera quando o humor deixa de ser apenas ácido e começa a corroer a lógica narrativa.

Ainda assim, Mountainhead é provocador e necessário. Não tanto por oferecer respostas sobre a era digital ou o futuro da inteligência artificial, mas por lançar uma pergunta inquietante: se o mundo acabasse amanhã, você confiaria nos bilionários para salvar a humanidade? Depois desse filme, talvez a resposta seja um riso nervoso.