Filme impressiona com efeitos visuais grandiosos e combates criativos, mas aposta em uma narrativa complexa e ritmo intenso que pode desafiar alguns espectadores

Em 2019, “Ne Zha” estreou nos cinemas conquistando o público com a energia caótica de seu protagonista e a equilibrada mistura de humor e emoção.

Agora, mais de cinco anos depois, “Ne Zha 2” retoma a história quase imediatamente após o desfecho do primeiro longa. O filme amplia as apostas em termos de escala, efeitos e complexidade narrativa.

O resultado é uma obra que impressiona pelos aspectos técnicos e pelo mergulho nas tradições folclóricas. Contudo, ela também pode desafiar a paciência de espectadores pouco familiarizados com esse universo.

Crítica "Ne Zha 2"
Ne Zha encara novos desafios em meio a batalhas épicas | Crédito: A24/Divulgação

Dualidade, batalhas colossais e cenários imponentes em “Ne Zha 2”

Dirigido e roteirizado novamente por Yu Yang, o filme expande o arco de Ne Zha (Lü Yanting) e Ao Bing (Han Mo), duas figuras que representam forças opostas: fogo e água, caos e serenidade.

Depois do sacrifício que encerrou o primeiro filme, os dois precisam lidar com as consequências de seus atos. Para salvar a alma de Ao Bing e restaurar seu corpo físico, Ne Zha se vê diante de novos testes que exigem tanto disfarce quanto coragem.

O elemento da dualidade é reforçado no design dos personagens, que alternam entre formas cartunescas e representações mais humanizadas, revelando o esforço da produção em traduzir conceitos míticos em linguagem cinematográfica.

Além disso, batalhas aéreas transformam guerreiros e monstros em pontos minúsculos diante de cenários colossais; dragões ganham forma humana em sequências que exploram texturas detalhadas de pele e armaduras.

Os cenários também se destacam, em especial o Palácio, descrito como inteiramente feito de jade, cuja textura e iluminação reforçam a riqueza visual da produção.

Ne Zha 2 - O Renascer da Alma
Ao Bing no corpo de Ne Zha | Crédito: Reprodução/IMDB

Entre intensidade narrativa e momentos de inventividade

No aspecto narrativo, o filme pede certo esforço do espectador. Acompanhar as múltiplas ramificações da história, entre feitiços, maldições, vilões inesperados e combates elementares, requer atenção constante. O ritmo acelerado e a quantidade de informações tornam a experiência intensa.

Apesar da exuberância, o filme não abandona o lado emocional. A relação de Ne Zha com os pais, especialmente com a mãe, serve de contrapeso humano às cenas de destruição e confronto.

Há também um esforço em questionar aparências: personagens angelicais podem esconder intenções sombrias, enquanto figuras marginalizadas, como o próprio Ne Zha, revelam maior senso de justiça e compaixão. Esse contraste entre exterior e interior ressoa como uma das mensagens mais consistentes da produção.

Além disso, algumas sequências chamam atenção pela inventividade. Um portal criado pelo mestre Shen Gongbao (Yang Wei) despeja lava e monstros sobre a Passagem de Chentang em uma cena que condensa a escala da ameaça.

Em outro momento, Ao Bing, no corpo de Ne Zha, enfrenta um inimigo capaz de manipular eletricidade, numa luta em que a chuva e a água tornam-se armas.

Essas passagens mostram a habilidade técnica de uma equipe que claramente não poupou esforços para transformar cada combate em um show visual.

O filme chega aos cinemas no dia 25 de setembro
Surpresas aguardam ao longo do filme | Crédito: Reprodução/IMDB

Impacto visual e sucesso de bilheteria de “Ne Zha 2”

A ousadia visual e a energia caótica de “Ne Zha 2” garantem que, mesmo diante da confusão, o público saia da sala de cinema com a sensação de ter presenciado algo de escala rara.

A bilheteria comprova o impacto: o filme já ultrapassou US$ 1 bilhão na China, consolidando-se como um fenômeno e abrindo caminho para maior visibilidade internacional.

Para quem pretende embarcar nessa jornada, assistir ao primeiro filme é uma boa ideia, já que a sequência parte quase diretamente de onde ele parou. Mas quem não assistir, também não será prejudicado.

Ainda assim, o desafio maior é estar disposto a enfrentar quase 2h30 de narrativa intensa. O filme alterna entre o deslumbramento visual e o excesso de informações.

Vale a pena assistir “Ne Zha 2”?

A resposta depende do tipo de espectador. Para quem busca um espetáculo audiovisual, repleto de batalhas criativas e mundos meticulosamente construídos, “Ne Zha 2” é uma experiência indispensável.

Para quem prefere narrativas lineares e menos saturadas, o excesso pode se tornar um obstáculo. De qualquer forma, trata-se de uma produção que não se intimida diante da grandiosidade, e que reafirma o poder da animação chinesa no cenário global.

Imagem de capa: Reprodução/IMDB