A vida imita a arte… ou a arte é um retrato fiel da vida. Talvez as duas afirmações estejam corretas, porque muitas vezes encontramos na arte uma forma de retratar aquilo que vivemos, sentimentos, desejamos, odiamos. Em “O Debate”, estreia de Caio Blat na direção, vemos um cenário muito parecido com que vivenciamos nos últimos anos no Brasil.
Com tons de cinza, esse filme fala sobre política essencialmente, mas também fala das relações humanas e como delas somos reféns. Debora Bloch e Paulo Betti são Paula e Marcos, dois jornalistas que precisam encarar vários desafios durante um debate entre presidenciáveis no veículo de imprensa que eles trabalham. Ele como editor e ela como âncora, ele como marido, ela como esposa, ele como romântico, ela como pé no chão. A intimidade dos dois é colocada na tela de maneira desordenada, acompanhando os blocos de perguntas no debate, tudo muito solto e sem muita sincronia. Assim como é a vida.
Roteiro é uma junção de dois monólogos que se tornam diálogo de exposição
O roteiro assinado por Jorge Furtado e Guel Arraes se coloca como um diálogo de exposição. Em vários momentos acompanhamos Paula tentado dar justificativa a seus atos, e como eles são importantes perante as vontades de Marcos. Por outro lado, ele é combativo, sempre disposto a trazer um contraponto importante que acrescente ao diálogo algo novo. É assim que o filme desenrola sem se enrolar, e consegue ser uma poesia contanto dramas e situações.
Filmado quase sempre em plano fechado, nos aproximamos do casal e nos identificamos com certos detalhes da humanidade deles. Humanidade no sentido de ser humano, o que é inerente ao ser. Essa capacidade de escrita é preciso sempre dar mérito. E ao abordar o tema político, inclusive, com lançamento nos cinemas a menos de dois meses de uma eleição tão polarizada no Brasil, Caio Blat aposta no embate com argumentos, atirando para o lado em que acredita, trazendo sua verdade para a tela. Claro, nenhuma verdade é absoluta, mas essa é a beleza do cinema, retratar o que é da visão de quem o fez, e deixando margem para que outras pessoas possam questionar.
As atuações
Debora Bloch e Paulo Betti estão em sintonia total nesse longa. Como acompanhamos 90% do tempo a conversa entre os dois no plano fechado é nítida a qualidade deles em cena. Cada momento, cada mudança, cada tom de voz, é pensado para dar ao espectador uma sensação diferente. Dessa forma, podemos nos encantar mesmo em temas complexos como amor, liberdade, política, democracia, jornalismo e a vida do país nos últimos anos, abordando temas como monogamia, sexo, desejo, ciúme, ética e ideologia.
Talvez não vejamos tantos debates políticos esse ano, porém, digo que vale a pena assistir “O Debate” de Caio Blat nos cinemas.
Leia Também: Crítica – Aos Nossos Filhos