“O Deserto de Akin” é um drama nacional que aborda, de forma sensível e poética, temas como pertencimento, identidade, responsabilidade, ética profissional e amor. Com direção de Bernard Lessa, a trama destaca a importância dos médicos cubanos, convocados pelo programa “Mais Médicos”, principalmente para as comunidades carente do Brasil. Além de fazer uma crítica ao momento político pelo qual o país enfrentava em 2018.
Uma jornada de cura em um país que precisa ser curado

Primeiramente, a trama acompanha a jornada de Akin (Reynier Morales), um médico cubano que chega ao Brasil através do programa “Mais Médicos”. Em sua rotina de trabalho, ele atua em uma comunidade indígena, onde constrói vínculos com a população local, além de relações afetivas com Érica (Ana Flavia Cavalcanti) e Sérgio (Guga Patriota).
Sua vida passa por mudanças após Bolsonaro assumir o governo brasileiro e encerrar o programa. Nesse sentido, o médico precisa tomar uma difícil decisão: voltar para Cuba ou permanecer no Brasil, mesmo sem poder exercer sua profissão. Apesar disso, precisa lidar com conflitos íntimos.
O filme trata com cuidado sobre a importância do “Mais Médicos” e dos médicos estrangeiros convocados que aceitaram tender em regiões de difícil acesso. Assim, a atuação de Reynier consegue sensibilizar ao transmitir os sentimentos de um profissional comprometido em cuidar de seus pacientes com ética, responsabilidade e amor.
De forma silenciosa, o longa se destaca ao mostrar a realidade e como as pequenas decisões podem afetar a vida de alguém. Porém, tudo acontece sem grandes reviravoltas.

Outro ponto importante, são as relações afetivas que o Akin passa ao se envolver com diferentes gêneros. O filme retrata seus relacionamentos com sutileza, sem alardes ou estereótipos. A bissexualidade do médico é abordada de forma realista e demonstra a complexidade do personagem que precisa lidar com a descoberta de sua identidade, com as questões de pertencimento em um pais que passa por mudanças políticas e a responsabilidade de cuidar de uma comunidade carente, além daqueles que ama.
Também propõe reflexões sobre o deslocamento e a marginalização vividos por um homem negro, migrante e queer em uma sociedade em que ele quer cuidar.
Aspectos visuais e a narrativa que explora o silêncio

“O Deserto de Akin” se destaca por trazer aspectos visuais minimalistas e linguagem poética ao abordar temas sensíveis como identidade, memória e a complexidade das relações humanas. Ainda mais em um Brasil marcado por tensões políticas e culturais. Desta forma, Lessa constrói uma narrativa que privilegia a pausa, o silêncio e expressões visuais. Além disso, a atuação do elenco, principalmente do protagonista, também foi construída de forma discreta.
Entretanto, a linguagem narrativa pode desagradar aqueles que gostam de ritmos mais ágeis e trazem momentos de forma arrastada. Com exceção do protagonista, os personagens são pouco desenvolvidos, o que acaba dificultando a conexão emocional com eles. A falta de diálogos também causa um desconforto e sensação de vazio, o que deixa alguns acontecimentos mal explicados ou sem profundidade.
Vale a pena assistir?
Em suma, a obra de Bernard oferece uma experiência rica na estética e por trazer temas importantes, como o programa “Mais Médicos” e a carência de profissionais em territórios carentes. Apesar do ritmo lento e pouco convencional, o filme agrada quem busca tramas mais realistas, com aspectos históricos e culturais do Brasil. Também nos provoca reflexões de forma poética e cuidadosa sobre identidade, memória, pertencimento e responsabilidade.
Por fim, O Deserto de Akin estreia em 31 de julho nos cinemas.
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