“O Diário de Pilar na Amazônia” aposta em fantasia, folclore e conscientização ecológica para apresentar a Amazônia às novas gerações, com acertos visuais e alguns tropeços narrativos

O Diário de Pilar na Amazônia” chega aos cinemas em janeiro de 2026 como uma aposta clara em entretenimento familiar com propósito. A adaptação em live-action da obra de Flávia Lins e Silva transforma a curiosidade irrefreável de Pilar em motor para uma aventura que mistura fantasia, folclore e consciência ecológica.

A proposta é simples e direta: apresentar a Amazônia às novas gerações, explicando seus encantos e seus desafios através de uma história leve, acessível e visualmente calorosa. Esta crítica analisa como o longa dialoga com o gênero da fantasia ambiental, seus acertos, onde escorrega e se o resultado final se sustenta para além da boa intenção.

Crítica - Diário de Pilar na Amazônia
Lina Flor e Miguel Soares no filme | Crédito: Conspiração Filmes/Divulgação

Um olhar infantil para uma Amazônia encantada e ameaçada

A estrutura narrativa conta com um enredo que mistura aventura com aprendizado, além de uma protagonista animada, disposta e sempre querendo aprender e uma rede que pode levar ela para qualquer lugar. É a fórmula perfeita para o público infantil, e, de fato, o filme a utiliza com habilidade.

Assim como produções marcantes de aventura educativa, “O Diário de Pilar na Amazônia” não tem receio de ser didático. Pelo contrário: assume abertamente sua função de ensinar sobre desmatamento, fauna, flora, populações ribeirinhas e mitos da floresta.

Essa escolha funciona sobretudo porque a dramaturgia evita se transformar em uma aula. O roteiro de João Costa van Hombeeck e Flávia Lins e Silva é criativo ao inserir o conhecimento dentro da própria ação: resgates, encontros perigosos, aparições mágicas e conflitos que mantêm a trama em movimento.

Em muitos momentos, Pilar lembra uma “Dora Aventureira” brasileira, mas longe de soar pejorativo: a comparação aponta para a combinação de aventura, aprendizado e identificação imediata com o público infantil.

Crítica - Diário de Pilar na Amazônia
Um filme para todas as idades | Crédito: Divulgação

Amazônia como espetáculo visual e construção de mundo

O que mais se destaca no longa é sua fotografia. A produção aposta em cores quentes, cenários cuidadosamente construídos e efeitos discretos, que servem mais à magia do que à grandiosidade. É um filme que quer encantar o olhar, e, para um público de crianças, isso é fundamental. A floresta surge como um ambiente vivo e pulsante, esteticamente convidativo, guiado por escolhas de direção que privilegiam a clareza visual e a sensação de descoberta.

A direção de Eduardo Vaisman e Rodrigo Van Der Put aposta em movimentos simples e funcionais, reforçando a narrativa para que o público mais jovem acompanhe sem esforço. A cenografia ajuda a compor um cenário que é ao mesmo tempo mágico e reconhecível para o público brasileiro, com destaque para elementos da cultura do Norte e do folclore.

Lina Flor é, sem dúvidas, o coração do filme. Como Pilar, ela entrega uma performance enérgica, sensível e divertida, garantindo a empatia necessária para conduzir a narrativa. Miguel Soares, como Breno, funciona como contraponto humorístico eficiente, trazendo leveza, piadas e um desenho de personagem que combina bem com o espírito aventureiro da protagonista.

O elenco de apoio, que inclui artistas adultos e atores locais, complementa esse universo com naturalidade. As crianças, porém, são quem carregam o filme. A dinâmica do grupo funciona, gera humor, afeto e mantém o ritmo da história sempre acessível.

Atores principais - Diário de Pilar na Amazônia
O filme exalta a cultura do norte do Brasil | Crédito: Conspiração Filmes/Divulgação

Entre o didatismo e a fantasia: onde o filme acerta e onde tropeça

A intenção ambiental do filme é nobre e necessária. Porém, em alguns momentos, o discurso sobressai ao drama, simplificando conflitos sociais complexos ao reduzir antagonistas em vilões de comédia pastelão. Embora compreensível dentro de um recorte infantil, essa abordagem limita a profundidade que o tema poderia alcançar.

Ainda assim, a narrativa compensa parte disso ao apresentar um folclore brasileiro vivo, mesmo que estilizado, e ao construir uma aventura coerente com seu público-alvo. A trilha sonora reforça tanto o clima mágico quanto os momentos de tensão, criando uma atmosfera convidativa e funcional.

O Diário de Pilar na Amazônia” não tenta reinventar o cinema infantil brasileiro, mas se compromete a entregar uma experiência familiar envolvente e educativa. Para escolas, pais e cuidadores que buscam conteúdos capazes de abrir conversas sobre meio ambiente e cultura amazônica, é uma excelente porta de entrada.

Para espectadores que esperam camadas estéticas ou políticas mais profundas, o filme pode soar leve demais. Mas é justamente nessa leveza, e na beleza de sua fotografia, que reside parte de seu charme. Além disso, acima de tudo, precisamos lembrar que é um filme infantil, apesar de trazer lições valiosas para todas as idades.

Vale a pena assistir “O Diário de Pilar na Amazônia”?

Sim, especialmente para famílias e para o público infantil. O longa é visualmente encantador, tem uma mensagem relevante e atua como uma introdução eficiente ao universo amazônico e seus problemas contemporâneos. Com performances fortes e um espírito pedagógico bem-intencionado, o filme cumpre sua proposta: divertir enquanto ensina.

Imagem de capa: Conspiração Filmes/Divulgação