Scott Derrickson transforma trauma em espetáculo psicológico e entrega um dos filmes de terror mais intensos do ano.

O Telefone Preto 2 chega aos cinemas três anos após o sucesso de seu antecessor, prometendo mais do que simples sustos: aqui, o medo não é apenas um vilão mascarado, mas uma presença persistente que vive nos personagens. Scott Derrickson retorna à direção e expande o universo de forma mais introspectiva, madura e, acima de tudo, emocional.

O medo depois do monstro: uma nova abordagem narrativa

Enquanto o primeiro filme falava sobre sobreviver a um sequestro, a sequência mergulha na difícil tarefa de viver depois do trauma. Agora com 17 anos, Finney (Mason Thames) carrega as cicatrizes emocionais de sua infância marcada pelo horror. Sua irmã Gwen (Madeleine McGraw) também enfrenta mudanças profundas: os dons psíquicos que antes foram salvação, agora se tornam uma maldição que invade seus sonhos com novos crimes e visões perturbadoras.

O roteiro, assinado por C. Robert Cargill, acerta ao focar no trauma como elemento central da narrativa. O telefone preto volta a tocar, mas dessa vez como um eco, uma lembrança viva que insiste em não desaparecer. A sequência não depende da repetição de fórmulas: ela aprofunda a dor e o crescimento dos protagonistas.

Telefone Preto 2 capa 4
O Telefone Preto 2 (2025) | Ethan Hawke em cena do filme | Credito: Universal Pictures

Um palco gelado para um terror mais psicológico

A ambientação no acampamento isolado de Alpine Lake é um dos trunfos do filme. O frio intenso e a paisagem coberta de neve não são apenas cenários, mas sim extensões emocionais dos personagens. A sensação constante de isolamento, bem como o silêncio cortante das florestas, cria uma atmosfera gélida e claustrofóbica.

Nesse sentido, Scott Derrickson conduz a narrativa com precisão cirúrgica, usando o espaço para amplificar o terror psicológico. O suspense não está apenas no que acontece, mas sobretudo no que está prestes a acontecer. Com efeito, cada plano parece carregado de presságios, e cada sombra tem peso dramático.

O peso do trauma em cada olhar e silêncio

As atuações elevam a experiência a outro patamar. Madeleine McGraw entrega uma performance mais intensa e madura, sustentando emocionalmente boa parte da trama. Gwen se torna o elo entre o terror sobrenatural e o humano, carregando a dualidade entre fé e desespero.

Mason Thames mostra uma evolução significativa: Finn é agora um jovem marcado pelo passado, lutando para não repetir os ciclos de violência que o assombram.

E então vem Ethan Hawke. Mesmo morto, o “Sequestrador” paira como uma sombra sobre toda a história. Sua presença espectral é perturbadora — mais forte e ameaçadora do que no original. A máscara icônica deixa de ser apenas disfarce e passa a simbolizar o medo coletivo e individual.

Madeleine McGraw e Mason Thames em Telefone Preto 2
O Telefone Preto 2 (2025) | Madeleine McGraw e Mason Thames em cena do filme | Credito: Universal Pictures

Direção e estética: entre pesadelos e realidade

A fotografia de Brett Jutkiewicz aposta em contrastes intensos entre a brancura das paisagens nevadas e as sombras densas que envolvem os personagens. A estética do filme é quase gótica: bela e opressiva ao mesmo tempo.

A trilha sonora de Mark Korven cria uma atmosfera sufocante com sintetizadores e coros inquietantes, intensificando cada aparição e cada toque do telefone. O uso inesperado de uma faixa da banda Pink Floyd é um toque refinado, capaz de ampliar a imersão e o peso emocional da experiência.

Ecos de clássicos e identidade própria

O Telefone Preto 2 dialoga abertamente com grandes obras do gênero, evocando o terror onírico de A Hora do Pesadelo e o isolamento gélido de O Iluminado. Entretanto, Derrickson não se apoia em nostalgia barata. Ele absorve essas referências e as transforma em linguagem própria — mais contida, mais tensa e mais adulta.

A grande força do longa é conseguir dar continuidade a uma história já concluída sem parecer forçado. A expansão do universo é orgânica e profundamente emocional.

O Telefone Preto 2 (2025) - poster oficial do filme em PT-BR - Credito- Universal Pictures
O Telefone Preto 2 (2025) | Poster oficial do filme em PT-BR | Credito: Universal Pictures

Vale a pena atender ao telefone?

O filme estreia nos cinemas em 16 de outubro de 2025.

Imagem da capa credito: Universal Pictures/IMDB