O novo longa de Fernando Coimbra aposta alto em crítica social e clima noir, mas se perde na própria ambição narrativa
Depois do aclamado (O Lobo Atrás da Porta), o diretor Fernando Coimbra retorna ao cinema nacional com Os Enforcados (2024), um filme que mistura máfia, comédia obscura e elementos de suspense, ambientado no submundo do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Apesar do potencial narrativo e de uma direção competente, a trama não sustenta suas próprias ambições e acaba frustrando quem esperava um thriller mais coeso ou impactante.
A promessa de uma tragédia shakespeariana suburbana
Na trama, Valério (Irandhir Santos) e Regina (Leandra Leal) formam um casal em decadência financeira e emocional. Prestes a declarar falência, eles decidem assumir o controle do império ilegal do jogo do bicho construído por familiares. A partir daí, o casal se vê envolvido em tramas de poder, violência e corrupção — tudo isso emoldurado por um Rio de Janeiro caótico e caricato, onde a sátira se mistura ao grotesco.
O filme claramente se inspira em Macbeth, mas não se decide entre o drama policial e a comédia de costumes. O resultado é um ritmo arrastado, que não encontra foco nem força suficiente para sustentar a tensão que propõe. A narrativa começa promissora, mas logo perde fôlego, dispersando-se em diálogos expositivos, personagens mal desenvolvidos e uma conclusão apressada que não leva a lugar algum.

Boas atuações, mas pouco envolvimento
Embora as atuações de Irandhir Santos e Leandra Leal sejam competentes — especialmente nos momentos mais cínicos ou sarcásticos —, os personagens não têm profundidade suficiente para gerar conexão emocional. O roteiro falha ao não mostrar de fato o cotidiano criminoso do casal, apostando apenas em insinuações e conversas indiretas. Falta veracidade nas ações e motivações, o que prejudica o impacto dramático e emocional da obra.
A direção de Coimbra, por outro lado, se mantém precisa. Ele conduz algumas boas sequências de tensão e sabe explorar a linguagem visual para reforçar o clima de decadência e opressão. A fotografia também colabora, utilizando enquadramentos fechados e paleta escura para criar uma atmosfera sufocante. No entanto, nem isso salva o filme de sua principal falha: um roteiro fraco, que não sabe como conduzir suas próprias ideias até o fim.

Um filme que tenta muito, mas entrega pouco
Os Enforcados (2024) não é um terror, como pode parecer à primeira vista. Na verdade, está mais próximo de uma comédia dramática com tons sombrios. Há sátira, há comentários sociais relevantes, mas tudo isso é sabotado por um roteiro que aposta em simbolismos sem sustentação. A construção do clímax é confusa e, quando o desfecho chega, ele simplesmente se desfaz diante dos olhos do espectador, sem oferecer catarse ou resposta.
Apesar dos tropeços, o filme não é um desastre completo. Ele ainda supera muitas novelas e minisséries nacionais que tentam abordar temas semelhantes sem o mesmo apuro técnico. Contudo, deixa a sensação amarga de que poderia ter sido muito mais se tivesse investido em uma narrativa mais direta e emocionalmente envolvente.

Vale a pena assistir Os Enforcados?
Para quem gosta de filmes que flertam com o absurdo e a sátira social, Os Enforcados pode até ser uma experiência interessante. Mas para quem procura um thriller envolvente, ou uma análise mais consistente do crime organizado, a decepção é quase inevitável. O longa tem estilo, mas falta conteúdo. Tem direção, mas carece de roteiro. E isso faz toda a diferença.
O filme tem estreia marcada nos cinemas brasileiros em 14 de agosto de 2025.
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