Parthenope, assim como a própria antropologia, é uma busca por sentido. Da mesma forma que o estudo das culturas revela a riqueza da diversidade humana, a trajetória de cada indivíduo é marcada por descobertas, encontros e desencontros. O amor e a paixão, por sua vez, são forças primitivas, instintivas, que moldam sociedades e indivíduos, capazes de unir ou destruir com a mesma intensidade.
Sobre o filme
Parthenope é mais do que um nome; é um símbolo da existência em fluxo. Desde 1950, sua jornada é um diálogo entre o destino e a liberdade, entre Nápoles e o amor em suas múltiplas formas. Como a filosofia que busca o sentido da vida, ela atravessa os labirintos da melancolia, enfrenta desafios e se reinventa, guiada pela intensidade dos que a cercam. Entre o efêmero e o eterno, entre a dor e o renascimento, sua história reflete a própria condição humana—uma busca incessante por significado no tempo que nunca para.
Esse é um filme cuja essência poética está presente em cada traço que o diretor escolheu trazer para a tela. A fotografia, digna de um museu francês como o Louvre, torna esta obra um dos filmes mais belos que assisti recentemente. Os diálogos são perfeitamente inseridos, fazendo com que cada cena se desenrole como a página de um livro, uma paisagem paradisíaca ou as feições de uma mulher perfeita. Mas que fique claro, Sorrentino não tem nenhum compromisso com a linearidade, nem com a coerência.
Um visão por outros planos, por outras perspectivas
O diretor Paolo Sorrentino é nascido e criado e Nápoles, e para mim fica claro o desejo dele de mostrar sua cidade natal como uma poesia. Ele não teve medo de explorar as entrelinhas, deixando subentendido tudo aquilo que, de maneira ardilosa, o filme prefere esconder. Como um teatro de sombras da arte japonesa, onde enxergamos apenas as imagens projetadas na tela branca sem conhecer a mecânica por trás, a construção narrativa do filme se baseia nessa comparação. A crítica a elite italiana, seu olhar cínico sobre a máfia, sobre o turismo paradisíaco, sobre o estigma em cima da sedução italiana, é muito bem explorada, com muita comédia e sátira. Seu filme mais aclamado, A Grande Beleza (La Grande Bellezza, 2013), que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é um retrato do seu jeito de fazer cinema, e aqui vemos mais um capítulo dessa história.
A protagonista nasce em uma família rica de Nápoles, tornando-se uma poderosa simbologia—uma metáfora para a exuberância da beleza, da paixão, do amor, da aventura, do medo e da sedução. Há dezenas de outras palavras que poderiam descrever a potência gerada ao assistir a esse longa italiano.


Um romance por si, um amor-próprio acima de tudo
Temos uma comédia romântica atípica, que se ancora na tradição do cinema italiano, com todos os seus traços característicos e, quase sempre, extravagantes. Cada escolha do diretor—seja um plano, um corte ou um ângulo—é cuidadosamente pensada para iluminar uma história que não é linear, mas que também não tropeça. Ela se entrelaça com as emoções que deseja transmitir, com a sutileza de uma mulher que observa e sente o mundo ao seu redor. É impressionante como cada detalhe faz diferença. Se podemos enxergar esse longa como um filme moderno que narra uma história antiga, também podemos perceber, nele, toda a história do cinema condensada em pouco mais de duas horas.
Em determinado momento, um dos personagens diz a Parthenope que não deseja roubar nem um minuto de sua juventude. Para mim, o filme é sobre isso: a delicada dicotomia entre o belo e o feio, o novo e o antigo, o amor e o desejo, a paixão e a sensualidade, o ganhar e o perder, o querer e o não ter. Como um velho senhor de chapéu, fumando um cigarro enquanto aprecia a juventude e pensa: “Eu já fui assim um dia. O que me resta daqui para frente?”
Um filme com todas as entrelinhas, metáforas e piadinhas possíveis
Sorrentino não tem nenhum pudor em expor seu ponto de vida em relação a determinados assuntos. A crítica a igreja é um deles, e ele não perdoa nem mesmo os milagres da igreja. Com uma fotografia estonteante, ele mira alto, na maior acidez possível para chocar (e irá chocar, acredite). Essa é a carta de um castelo de cartas, que desmorona por conta de um único momento, e Sorrentino sabe disso, mas explora esse tema com insolência.
Alguns filmes existem apenas para serem apreciados. Eu gostaria de fazer uma última comparação: Parthenope é como um vinho italiano, em que a doçura se mistura à acidez característica. O filme flui com suavidade e agressividade ao mesmo tempo, deixando pequenas sutilezas ao longo da narrativa—detalhes que passam muitas vezes despercebidos, simplesmente porque não prestamos atenção na beleza da vida. Para mim, Parthenope, a mulher, é a personificação da beleza. E o filme, a exemplificação de como o mundo e a vida podem ser belos, nos detalhes que, às vezes, apenas o cinema pode nos revelar.
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