Entre os séculos 18 e 20, instituições da Igreja Católica na Irlanda chamadas Lavanderias de Madalena obrigavam mães solteiras a trabalhar em ambientes hostis enquanto seus bebês eram tirados delas e vendidos para outras famílias. Estrelado e produzido por Cillian Murphy, o filme Pequenas Coisas Como Estas conta uma história obscura baseada em acontecimentos reais que se passavam nessas casas.

Ambientada em 1985, a adaptação do livro de Claire Keegan acompanha Bill Furlong (Cillian Murphy), um carvoeiro e pai de família que começa a perder o sono quando memórias de sua infância começam a vir à tona. Em uma de suas entregas à igreja de sua pequena cidade no Condado de Wexford, no entanto, ele acaba descobrindo segredos perturbadores envolvendo as garotas que vivem lá e se encontra em um dilema moral que consome seus pensamentos. 

Crítica - Pequenas Coisas Como Estas com Cillian Murphy
Imagem: Reprodução

Então, o filme oscila entre o presente e flashbacks da infância de Bill para conectar o que ele testemunhou na igreja com o seu próprio passado e, principalmente, com a história de sua mãe, que teria acabado em uma casa como aquelas garotas se não tivesse sido acolhida por Mrs. Wilson, uma senhora rica, interpretada brilhantemente por Michelle Fairley, que os acolheu em sua casa.

A partir daí, a trama se desenrola de forma angustiantemente silenciosa, onde nada é explicitado e apenas os subtextos são suficientes para te fazer sentir tudo o que Bill está sentindo. A performance contida e atormentada de Cillian Murphy é essencial para que a história e sua mensagem sejam realmente absorvidas, permitindo com que o espectador repare em cada pequeno detalhe e, principalmente, nas coisas que não são faladas, mas ficam implícitas – assim como quase tudo no filme. 

Emily Watson também entrega uma excelente performance como Irmã Mary, líder da igreja que, ao entender que Bill agora sabe de um segredo que pode prejudicar sua instituição, protagoniza um dos diálogos mais marcantes do filme, repleto de nuances e significados subentendidos. Do ponto de vista técnico, o filme se destaca principalmente por sua fotografia, que acompanha perfeitamente o tom do projeto e traduz toda a sua melancolia em jogos de luz e sombra.

Crítica - Pequenas Coisas Como Estas com Cillian Murphy
Imagem: Reprodução

O grande trunfo de Pequenas Coisas Como Estas realmente está em sua sutileza e sensibilidade, mérito do diretor Tim Mielants e grata surpresa do primeiro trabalho de Murphy como produtor. O filme evidencia os perigos de depositar toda a sua fé e confiança em uma instituição religiosa e se encerra com uma dedicatória muito emocionante. 

Dedicado para as mais de 56 mil jovens mulheres que foram enviadas para as instituições Madalenas para “reabilitação e penitência” entre os anos 1922 e 1998. E para as crianças que foram tiradas delas.