“Picasso – Um Rebelde em Paris” mistura poesia, crítica e memória para revelar um artista contraditório, entre revolução artística e tormentos pessoais
A diretora Simona Risi, em “Picasso – Um Rebelde em Paris“, constrói um retrato multifacetado do artista espanhol mais influente do século XX.
Ela lança um olhar íntimo e crítico sobre sua trajetória em Paris, a cidade que moldou sua vida, sua obra e suas contradições. O longa estreia no Brasil em 11 de setembro de 2025, dentro do circuito Arte no Cinema, pela Autoral Filmes.
Logo de início, o documentário se destaca pela narração profunda e carregada de emoção da atriz iraniana Mina Kavani. Ela empresta sensibilidade às passagens mais poéticas e reflexivas.
Seu tom envolve o espectador, conferindo uma dimensão quase literária ao percurso do artista. Ao lado dela, o Museu Picasso em Paris surge como um verdadeiro personagem, abrindo portas para milhares de obras, arquivos e cartas que servem de guia nessa jornada.

A jornada de Picasso rumo à reinvenção artística
O início da narrativa se concentra no momento em que Picasso chega a Paris, enfrentando dificuldades de adaptação e preconceito por ser um estrangeiro.
A cidade, marcada por sua dualidade, moderna e vibrante, mas também xenofóbica e excludente, funciona como um espelho para o próprio artista, que se via como um anarquista entre anarquistas em Montmartre.
O filme também mergulha nos alter egos de Picasso, em especial o Arlequim, apresentado como uma metáfora poderosa do artista moderno, dividido entre a máscara pública e o turbilhão íntimo.
O público acompanha ainda sua reinvenção em 1906, o impacto da guerra em sua produção, a evolução de sua obra até a morte e a maneira como transformou a dor em novas linguagens visuais.

Entre luz e sombra: o dilema ético e estético
No entanto, “Picasso – Um Rebelde em Paris” não evita as sombras do pintor. O documentário discute sua vida amorosa conturbada e a forma controversa como tratava as mulheres, problematizando o eterno debate: até que ponto é possível separar o homem de sua arte?
Essa escolha narrativa dá profundidade à obra, mesmo que em alguns momentos o ritmo arrastado enfraqueça o impacto emocional.
A trilha sonora, por sua vez, é um dos pontos positivos. Composta por Emanuele Matte, ela dialoga com a narração e as imagens de forma precisa, ressaltando a melancolia, a intensidade e até a grandiosidade do universo picassiano.
O trabalho de fotografia de Lorenzo Giromini amplia essa sensação ao alternar a monumentalidade do acervo do Museu Picasso com os cantos parisienses onde o artista viveu e trabalhou.
Entre entrevistas de críticos de arte, intelectuais e curadores, como Cécile Debray e Annie Cohen-Solal, e leituras de cartas pessoais, o documentário alcança equilíbrio entre análise acadêmica e lirismo visual.
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Vale a pena assistir “Picasso – Um Rebelde em Paris”?
Apesar de algumas passagens mais lentas, o documentário se mostra essencial para quem deseja ir além da imagem consagrada do pintor. Ele também permite compreender as tensões entre genialidade e contradição.
Com uma abordagem estética envolvente e questionamentos éticos relevantes, a obra ilumina a trajetória de Picasso. Além disso, convida o público a refletir sobre os limites da arte e do artista.
Imagem de capa: Popperfoto/Getty Images
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