Placa-Mãe é a mais nova animação brasileira a chegar nos cinemas, e dessa vez pelas mãos do diretor Igor Bastos, que, claro, é mineiro. Essa animação explora a temática distópica, mas cheia de atualidades e mineiridades, com um jeitinho que só existem em Minas Gerais.

Sobre a história

A animação acompanha a história de uma android chamada Nadi, cidadã brasileira, que decide adotar duas crianças. Essa decisão, no entanto, gera uma repercussão na sociedade e chama a atenção de um influenciador digital chamado Assaf, que com pretensões politicas, decide atrapalhar os planos de Nadi.

Uma ficção-cientifica mineira, com sotaque mineiro e jeitinho brasileiro, essas podem ser definições interessantes desse longa. Feito no interior do estado, nas cidades de Divinópolis e Nova Serra, contou com mais de 250 profissionais para darem vida a história de Nadi e seus filhos adotivos.

Igor usa bastante referência a localidades do estado, comidas, gírias, gerando uma familiaridade rara de acontecer. Um dos pontos que mais me chamaram atenção é que apesar de ser uma ficção futurista, quase distópica, tata de temas bem atuais. Abordando temas sociais de grande importância, como o crescimento da intolerância, abandono parental e o uso da internet em interesses obscuros e políticos.

Um filme que conversa com crianças e adultos

A equipe de animação fez um trabalho ótimo tecnicamente, usando técnicas modernas para mostrar todos os detalhes que a história necessita. Com cenas de fundo estático, a animação valoriza seus personagens e os cenários, alguns bem conhecidos, como o Viaduto Santa Tereza em Belo Horizonte e as montanhas de Minas.

Esses detalhes técnicos também ajudam no afinamento da intenção de conversar com públicos bem distintos, mesmo com temas intensos e complexos, como racismo e adoção tardia. Inclusive, o filme é muito feliz ao abordar esse tema, principalmente na educação de jovens adultos sobre o assunto. Claro, para mim o filme atua como uma grande metáfora da nossa sociedade, Nadi é a representação de vários grupos minoritários brasileiros, assim como David e Lina, as crianças que moram em um orfanato e sonham em ser adotados juntos. Irmãos de idades diferentes tendem a ter mais dificuldade em serem adotados juntos, gerando uma separação dolorosa e quase sempre permanente.

Em se tratando da história como um todo, senti falta de uma introdução ao universo, contando mais sobre como a sociedade conseguiu evoluir tanto a ponto de terem androids com cidadania, por exemplo. Um detalhe interessante, ao assistir ao filme, senti várias referências a outras histórias futuristas, mas uma em específico me chamou mais a atenção, O Homem Bicentenário, com Robin Williams de 1999.

Filme placa-mãe é animação mineira cheia de mineiridade.
Placa-Mãe é uma animação com muita mineiridade dirigida por Igor Bastos. Foto: O2 Play

Uma animação com um final surpreendente (sem spoiller)

Para finalizar preciso dizer que o filme é uma boa opção para assistir com as crianças, é uma animação bela e divertida. Há, porém, alguns momentos em que senti o roteiro meio perdido, principalmente no “miolo” da história. Algumas informações desconexas, algumas situações sem elaboração ou um desfecho, podem deixar algumas pessoas incomodadas. Mas para mim o maior problema está no som. Não sei se a cópia que assisti teve esse problema ou se todas as cópias têm o mesmo defeito, mas o som da música é muito mais alto do que dos diálogos. Além disso, também é perceptível um certo delay entre a voz do dublador e a ação do personagem na tela.

Mas nem de longe esses problemas minimizam a qualidade final da obra, principalmente no tema que trata. Achei muito interessante o final, mostrando que a intenção aqui é gerar debate e questionamentos, mas sem forçação de barra ou extremismo. Igor Bastos mostra que sua maneira de dirigir entende bem de manter a balança pendendo para o que importa, o espectador. O final da história é forte, importante e impactante, mas é ousado. Admito que não esperava, foi surpreendente.

Por fim, fica um questionamento, será que mesmo em um futuro distante e evoluído, nós, humanos, ainda manteremos nossos maiores defeitos?