Ficção e realidade se misturam em um thriller psicológico intenso que envolve o telespectador desde o primeiro instante. No longa Ponto Oculto, da premiada diretora Ayşe Polat, acompanhamos uma equipe que está documentando a história do povo curdo. Distribuído pela Pandora FIlmes, o filme utiliza de três pontos de vista narrativos para falar de violência, política e um povo que é perseguido.

Enredo que prende, história que envolve

A trama se inicia com uma equipe de documentaristas buscando informações em uma pequena cidade no nordeste da Turquia. Somos apresentados ao povo curdo, um povo étnico sem Estado próprio no mundo que vivem em diferentes países do Oriente Médio. Eles convivem com o trauma coletivo e a constante vigilância política.

A partir desse contexto, os documentaristas se aproxima de personagens locais e se envolvem em uma rede de segredos e conspirações. Ao mesmo tempo, temos uma mulher que trabalha como tradutora para a equipe que produz o documentário, e também fica de babá da filha dos vizinhos. E acaba sendo essa mesma criança, filha de um agente secreto, que passa a ser a personagem que interliga todos os eventos do filme.

A produção acerta ao misturar elementos de suspense e documentário. Além disso, a forma como a história é dividida em capítulos – os diferentes pontos de vista – gera uma tensão e expectativa no telespectador. As peças do quebra-cabeça vão se conectando e aos poucos quem está assistindo consegue enxergar o que está acontecendo.

Still do filme "Ponto Oculto", de Ayse Polat
Créditos: Divulgação

A forma como a diretora escolheu exibir as cenas, seja no formato de um documentário, gravação de celular ou da maneira “convencional” que assistimos nos filmes de ficção, demonstra aquilo que a produção quer expor: sempre estamos sendo vigiados. O longa mostra que sempre tem alguém nos observando, o tal ponto oculto. Além disso, mostra que o Estado sempre está de olho no que fazemos, ou seja, todos os nossos passos estão sendo vigiados.

Não existe uma explicação exata do que está acontecendo nas cenas, nada do que acontece durante os 117 minutos do filme é de fácil compreensão. Fica para o telespectador entender e interpretar o que está sendo apresentado na tela.

Vale a pena assistir “Ponto Oculto”? 

O longa é um suspense intenso que, no final, traz uma reflexão para o telespectador. Assistimos o sofrimento de um povo que não tem uma terra para chamar de sua, traumas não resolvidos e o poder que o medo pode ter sobre as pessoas. A diretora teve sensibilidade ao abordar temas complexos e profundos.

O elenco faz um belo trabalho, mas o destaque vai para a pequena Çağla Yurga, que interpreta Melek. Os olhos grandes e expressivos da atriz mirim dá um toque especial para o trabalho que ela faz em frente as câmeras, sendo a personagem que conecta todos os pontos de vista. Acaba sendo através da criança que enxergamos aquilo que os adultos parecem não querer ver.

Misturando ficção, documentário e uma pitada de sobrenatural, a produção se destacada por fugir do formato tradicional. A montagem, o roteiro e a fotografia do filme fazem com que o enredo possa ser envolvente para o telespectador, fazendo com que o mesmo fique com desejo de saber qual é o final da história.

Por fim, “Ponto Oculto” chega aos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, 24 de julho