Desde sua primeira aparição em 1987, o Predador sempre foi o caçador implacável. Um vilão invisível que transformava soldados armados até os dentes em presas indefesas, e que surpreendentemente, era derrotado por algum humano. Mas em “Predador: Terras Selvagens (Predator: Badlands)”, o jogo muda. O filme subverte décadas de mitologia ao nos colocar mais próximos da criatura do que nunca.

Desta vez, nosso querido vilão não é apenas uma ameaça. Ele é parte de um ecossistema brutal, onde a sobrevivência é a única lei. A selvageria continua, claro, mas agora ela vem acompanhada de uma inesperada dose de empatia e tragédia. O resultado é um algo totalmente visceral e visualmente arrebatador, que expande o universo da franquia sem trair suas raízes sanguinárias.

A direção é de Dan Trachtenberg (O Predador: A Caçada, Rua Cloverfield,10). O filme coescrito por Patrick Aison, expande o universo da franquia com uma pegada inédita de ficção científica e terror existencial. Elle Fanning interpreta Thia, uma sintetizadora danificada que se une ao guerreiro Yautja Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi) em uma jornada por sobrevivência e redenção.

Predador: Terras Selvagens — um novo capítulo brutal e emocionante

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Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi). Crédito: Cortesia da 20th Century Studios. © 2025 20th Century Studios. All Rights Reserved.

O filme acompanha Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi) um jovem Yautja considerado fraco pelo próprio clã. Condenado à morte pelo pai, ele foge e parte para o planeta Genna, ou “Planeta da Morte”, em busca de uma criatura lendária chamada Kalisk, um monstro tão poderoso que nenhum Predador conseguiu derrotar. Entretanto, o que deveria ser apenas uma missão de caça se transforma em uma jornada sobre identidade, força e vulnerabilidade.

Dan Trachtenberg, que já tinha revitalizado a franquia com O Predador: A Caçada (2022), mostra aqui um domínio absoluto da narrativa visual. Ele entende o peso simbólico do Predador, não apenas como uma máquina de matar, mas como um espelho da própria humanidade. Seu olhar é mais maduro e cinematograficamente ambicioso, construindo um equilíbrio perfeito entre espetáculo e a reflexão. O diretor continua explorando o tema da sobrevivência, mas agora sob uma lente mais emocional e existencial. Particularmente, quando saíram as primeiras imagens do filme e depois o trailer, eu fiquei muito receoso com que o filme poderia ser. Entretanto, era isso que a franquia precisava.

Um filme sobre rejeição e pertencimento

O roteiro de Patrick Aison, parceiro de Trachtenberg desde O Predador: A Caçada é uma das grandes surpresas. Ele subverte o mito do caçador ao transformar a jornada de Dek em uma história sobre rejeição e pertencimento. A narrativa é densa, cheia de simbolismos, e consegue ser tanto um épico de ficção científica quanto um drama de amadurecimento. O texto também injeta humor e humanidade por meio da androide Thia, interpretada de forma brilhante por Elle Fanning, que cria uma química improvável e encantadora com o protagonista. É impossível não gostar dos personagens.

De todo o roteiro só me incomodou na resolução de algumas coisas. Surpreendentemente, uma coisa se conecta com outra, e com isso, a resolução é mais prática do que o esperado. Mas não atrapalha a experiência. Só achei muito simplificada para o nível de ambição que o filme mostra até ali. Parece que o roteiro escolheu o caminho mais fácil, mas, honestamente, ainda funciona porque todo o resto é incrível.

Thia e a força da vulnerabilidade

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(L-R) Thia (Elle Fanning) e Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi). Crédito: Cortesia da 20th Century Studios. © 2025 20th Century Studios. All Rights Reserved.

A personagem Thia é o coração pulsante do filme, o que é irônico, por ser um robô. Mutilada e abandonada em Genna, ela representa a vulnerabilidade da inteligência artificial diante do instinto animal. Sua relação com Dek evolui de forma natural, com diálogos afiados e momentos de silêncio que dizem mais do que mil palavras. Elle Fanning está fantástica, entregando vulnerabilidade e carisma em dose dupla, já que também interpreta Tessa, uma segunda sintética com motivações ambíguas.

É curioso como o filme, mesmo repleto de monstros e violência, consegue ser profundamente humano. Temos uma genuína história sobre dois rejeitados tentando sobreviver e se redefinir em um mundo que os considera descartáveis. Isso é muito real e se aplica à nossa realidade.

Surpreendentemente, diferente de tudo que vimos nos filmes anteriores, o Predador de Terras Selvagens abandona sua tradicional dependência de armas tecnológicas e gadgets futuristas. Aqui, ele é forçado a se reinventar. Um caçador que perde o luxo da vantagem tecnológica e precisa confiar apenas em instinto, inteligência e brutalidade pura. É quase primitivo, usando o ambiente a seu favor: galhos, pedras, presas arrancadas de outras criaturas, e até armadilhas improvisadas com o que encontra pelo caminho. Essa versão mais “selvagem” e adaptável do Predador reforça sua essência como símbolo da sobrevivência extrema, provando que o verdadeiro poder dele nunca esteve nas armas, mas na capacidade de se adaptar e dominar qualquer ecossistema, mesmo quando tudo parece estar contra ele.

Um filme poderoso

Visualmente, Predador: Terras Selvagens é um maravilhoso. A fotografia de Jeff Cutter, que colabora com Trachtenberg desde Rua Cloverfield,10 cria uma estética selvagem e quase palpável. As Terras Selvagens de Genna são um inferno de paisagens alienígenas exuberantes e mortais que deixaria Jurassic Park com inveja. Lá tem selvas carnívoras, rios ácidos, criaturas que desafiam a biologia e até uma natureza que parece odiar a vida. Cada quadro é composto com cuidado, com cores que variam entre o verde venenoso e o laranja crepuscular.

E se visualmente o filme já é poderoso, assistir em IMAX eleva tudo a outro patamar. As explosões de som, os ruídos metálicos da armadura Yautja, o rugido das criaturas e até a respiração tensa de Dek ganham vida com uma profundidade sonora que faz o público vibrar. O design de som, comandado por Dave Acord (de The Mandalorian), é magistral, trazendo um equilíbrio perfeito entre o caos da selva e o silêncio cortante do medo.

A trilha sonora de Bear McCreary merece menção especial. O compositor entrega um trabalho grandioso, que mistura percussões tribais com sintetizadores, bem anos 80, mas com uma roupagem moderna. Cada batida parece pulsar junto com o coração do protagonista, criando uma imersão emocional que torna a experiência ainda mais visceral.

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Dimitrius Schuster-Koloamatangi como Dek. Crédito: Cortesia da 20th Century Studios. © 2025 20th Century Studios. All Rights Reserved.

Vale a pena assistir “Predador: Terras Selvagens”?

“Predador: Terras Selvagens” é uma experiência cinematográfica intensa que combina ação, emoção e uma atmosfera poderosa, ainda mais quando assistido em IMAX. A trilha sonora é vibrante e envolvente, guiando o espectador por cenas de ação filmadas com maestria em um ambiente que deixaria Jurassic Park morrendo de inveja. As atuações acrescentam camadas de humanidade à trama, criando conexões emocionais profundas mesmo em meio ao caos e à brutalidade. “Predador: Terras Selvagens” é puro escapismo visual e emocional, um espetáculo que reafirma o poder do cinema quando visto em sua forma mais grandiosa.

Predador: Terras Selvagens” está em cartaz nos cinemas.

Imagem da capa: © 2025 20th Century Studios. All Rights Reserved.